UMA SANTA QUE NÃO ACREDITAVA EM DEUS
Almoçava com Mário, Mônica e Ana Luiza, (filho, nora e neta,
respectivamente) e em dado momento minha nora suscitou comentário sobre a Madre
Teresa de Calcutá. A prêmio Nobel da paz, haveria, segundo constara em uma dessas
redes sociais, sido membro de uma seita que tinha como dogma o autoflagelo e
coisas que tais; paremos por aqui.
Por alguma dessas inexplicáveis coincidências, leio hoje de
Leonardo Boff,
(“é filósofo, teólogo e professor
aposentado de Ética da UERJ”
ninguém menos que um dos
idealizadores da Teoria da Libertação.
"as opções aqui analisadas de Frei Leonardo
Boff são de tal natureza que põem em perigo a sã doutrina da fé, que esta mesma
Congregação tem o dever de promover e tutelar"...
[comentários condenatórios do ex-Papa Ratzinger]
“A
cristologia de Boff se caracteriza pela primazia dos elementos antropológicos sobre os eclesiológicos e dos elementos sociais sobre os
individuais. Boff valoriza os aspectos humanos de Jesus e sua relevância
libertadora, destaca que a originalidade de Jesus se manifesta quando este
corrige os ensinamentos de seus antepassados, em oposição ao sistema e à
dimensão meramente subjetiva da fé...”
Prossegue o antecessor de do Papa Francisco.
[E Boff, foi condenado por optar pela “primazia dos elementos
antropológicos (relativo ao Homem) sobre os eclesiológicos (dogmas da Igreja?),
e dos elementos sociais sobre os indivíduos]
Em1992,
ante novo risco de punição, desligou-se da Ordem Franciscana e pediu dispensa
do sacerdócio
Inseri estas informações para
apresentar, a quem não conhece, o nobre colunista Leonardo Boff do blog Brasil
247.
Ele em seu artigo, pede para
se deixarem de lado por um momento as questões políticas e nos ocuparmos com um
tema de
“...grande relevância existencial e espiritual. Trata-se da
noite escura que a recém canonizada Madre Teresa de Calcultá viveu e sofreu
desde 1948 até a sua morte em 1997. Temos os testemunhos recolhidos pelo
postulador de sua causa, o canadense Brian Kolodiejchuk num livro Come Be My
Light (Venha, seja a minha luz).”
Poderia me ater ao fato do quão
são hipócritas os dogmas da religião, qualquer que seja,
(“Na Igreja
Católica...ponto de doutrina já por ela definido como expressão legítima e
necessária de sua fé”),
mais hipócritas, ainda, são
seus sequazes. Sejam os tradicionais ou os noviços cristãos, travestidos de
evangélicos. Mas deixo o assunto de lado. (há coisa mais irritante do que se
querer converter quem não comunga com a sua “Fé”?).
Portanto, vou me ater a “a noite escura... de Madre Teresa de Calcutá”.
Imaginar que uma Madre,
canonizada; isto é, tornada santa, que viveu, “como é notório”, segundo escreve
Boff,
“em
Calcutá recolhendo moribundos das ruas para que morressem humanamente dentro de
uma casa e cercados de pessoas...”
E, ele mesmo, afirma ter-se
surpreendido
“...quando viemos saber de seu profundo desamparo interior,
verdadeira noite sem estrelas e sem esperança de um sol nascente.”
E
“Há
tanta contradição em minha alma: um profundo anelo de Deus, tão profundo que me
faz mal; um sofrimento contínuo e com ele o sentimento de não ser querida por
Deus, rejeitada, vazia, sem fé, sem amor, sem cuidado; o céu não significa nada
para mim, parece-me um lugar vazio”
E diz mais, nosso Frei Boff
“...muitos
místicos testemunham esta experiência de obscuridade. Constatamo-lo em São João
da Cruz, em Santa Teresa D'Avila, em Santa Teresa de Lisieux, entre outros.
Esta última, tão meiga e expressão da mística das coisas cotidianas, escreveu
em seu Diário de uma Alma:" Não creio na vida eterna; parece-me que depois
desta vida mortal, não existe nada: tudo desapareceu para mim, não me resta
senão o amor".”
Imagine! Seguem palavras de
Leonardo Boff
“...A noite escura de Madre Teresa a ponto de dizer:
"Deus verdadeiramente não existe" nos deixa uma interrogação
teológica. Ela descompõe todas as nossas representações de Deus. "Deus
ninguém jamais viu", atestam as Escrituras. É o "nosso saber não
sabendo, toda ciência transcendendo" no dizer de São João da Cruz. Crer em
Deus não é aderir a uma doutrina ou dogma. Crer é uma atitude e um modo de ser;
é aderir à uma esperança que é "a convicção das realidades que não se veem"(Hebreus
11,1), porque o invisível é parte do visível. Crer é uma aposta no dizer de
Pascal que conheceu também a sua noite escura.”
Para ser honesto com Boff,
transcreverei o fecho do seu artigo
“Madre
Teresa de Calcutá no amor aos moribundos, estava em comunhão com o Deus
abscôndito. Agora que já se transfigurou viverá a presença de Deus face a face
no amor e na comunhão.”
E, ainda, há quem estranhe meus
constantes questionamentos sobre a minha “noite escura”. Eu que não passo de um
pobre imortal!