Estava a assistir um programa em canal fechado de TV com o título
acima. Estavam os jornalistas a abordar as estranhas manias de colecionadores
de coisas do futebol. No exato momento em que sintonizava o canal eis que
estava ali um torcedor do Bahia a mostrar a sua mania: coleção de camisas
originais usadas por aquele clube durante toda sua trajetória. É camisa do
título nacional de ’88; camisa do fatídico jogo da final do campeonato baiano
de ’94. Digo fatídico por causa do gol de Raudinei e outras camisas mais e
fiquei sabendo que há outro torcedor, desta feita do Vitória, que está
preparando outra coleção de camisas. Isto me levou a viajar pelas histórias que
tenho na memória acerca de futebol. Futebol este que “bole” com milhões e mais
milhões de cabeças humanas e a minha incluída.
Vasco da Gama X
Ypiranga
Transporto-me para os idos dos anos 50. Ainda criança e, por
influência de meu pai, simpatizava-me com o Esporte Clube Ypiranga, clube que
em décadas anteriores era de muito respeito, não era a sombra (pelo que ouvi
dizer) do que é hoje, disputante da 2ª divisão do campeonato baiano de futebol.
Pois bem, soubera que o “velho” Ypiranga (é com ípsilone, mesmo) teria viajado
para o Rio de Janeiro, a fim de disputar uma partida amistosa com o Clube de
Regatas Vasco da Gama. Orgulhoso, preparei-me para ouvir pelo “amigos
ouvintes”, em casa do nosso senhorio; pois, que na nossa minúscula casa, não
havia aquele utensílio elétrico. E eis que ouvi a transmissão, se não me
engano, pela Rádio Sociedade da Bahia.
E a transmissão é um caso à parte, o aparelho era daqueles
pré-históricos, uma peça de volume considerável, tendo como capa um pequeno
móvel de madeira, envernizado, bonito até.
Minha curiosidade me levou a observar a parte de trás e ali se viam pequenos e
grandes artefatos de formatos variados e as velhas válvulas emitindo forte clarão e intenso calor. E a
transmissão? O som chegava e se ia como
marolas entremeadas de estampidos, sentia-me no mar, sob suas ondulações e
abaixo de um céu com raios e trovões. Mas seguia, ou tentava seguir atentamente
a voz do locutor, quase que extasiado. E, assim, testemunhei “o mais querido”
ser “lavado” por 7 a 1, sendo que o gol de honra foi feito por Antônio Mário, o
seu “centrefó”, como ouvia ser chamado hoje o camisa 9.
Taça Brasil, 1959,
Campeonato de 1988
Hoje eu me admiro como a rivalidade entre clubes de futebol se acirrou
de uma maneira que tem levado até a guerra entre “gangs”, como é o caso da Bamor versus
Imbatíveis. Pois bem, digo admirado porque mesmo não sendo Bahia, eu, assim
como muitos outros, torcemos naquela oportunidade pelo tricolor baiano e foi
assim que eu vibrei e festejei quando da conquista da Taça Brasil, pois havia
entre nós o sentimento da baianidade no futebol, mesmo. Fato que encheu de
orgulho muitos baianos que não torciam pelo Bahia.
Nos idos de 80, já imperando a rivalidade, o Bahia foi campeão
brasileiro. Desta feita, não me comoveu, nada. Mas há que se dizer que o
formato daquela competição foi diferente da atual, ou seja, em ’88 não havia
ainda pontos corridos. Mas de qualquer forma, reconheço tranquilamente as duas
estrelas do Bahia.
Um Pouco do E. C. Vitória,
Fonte Nova, Barradão...
Bem, minha história com o E.C. Vitória começava exatamente nos idos de
1950. Eu tinha dez anos quando o rubro negro foi campeão, em cima do seu maior
rival (2 X 1), com Nadinho, Valvir...Alencar e Ciro; o ataque daquele time era arrasador,
comandado por um certo Quarentinha, um dos maiores goleadores que passaram por
ali. “A conquista do título de 1953 foi
tão empolgante, que o goleito Nadinho a considerou mais marcante que a da Taça
Brasil, com o rival Bahia, em 1959. ‘Muita gente desconfia de minha
sinceridade, mas é a pura verdade [...]’ afirmou Nadinho” [do livro
Barradão, alegria, emoção e Vitória]. Dali em diante eu ficava dividido entre o
ressurgente Vitória e o simpático Ypiranga. Enquanto o E.C.V. crescia o velho
Ypiranga entrava em decadência, de chegar ao cúmulo de, até, mudar de cores por
imposição de um cartola que, ao que parece, somente entendia do abate de bovinos
e sua comercialização. Naquela época, além de dividido entre os dois clubes,
minha atenção ficava dividida entre o que se passava em campo; fora de campo,
observando as diversas e inusitadas reações de torcedores; do comportamento dos
apostadores. (Os caras apostavam sobre tudo! Qual time se apresentaria por
primeiro; qual daria o “passe” [saída inicial do jogo]; pelo time que faria o primeiro gol) e outras coisas mais e,
mais ainda, com o exercício da venda de refrigerantes (“olha aê o guaraná caçula”, mercava eu) e de cervejas por todas
as arquibancadas. As décadas de 60 e de 70, são tempos para serem esquecidos,
no que respeita a conquistas de títulos do futebol. Extraio do livro já
mencionado a seguinte manchete: ”Anos 70. Bons
times, um título apenas”. Realmente, o rubro-negro tinha naquela
época Osni, André e Mário Sérgio, como
expoentes máximos, além de Gibira, Valter e outros, time que ficaria entre os
primeiros no campeonato brasileiro de ’74.
(segue na próxima postagem)