Tenho me reservado de discutir a
situação da educação da Bahia, com relação à greve dos professores. Mas, isto
não me impede de acompanhar o noticiário e de ouvir com atenção o que dizem as
partes envolvidas. Uma conclusão, afinal, a que chego e a de que, parafraseando
o coreano do artigo abaixo, o
governo, que tem um chefe, segundo muito se disse, exímio negociador, não
está sabendo negociar. A pedido, (um pedido irrecusável), divulgo o
artigo publicado em A TARDE, no dia 03 de julho, da lavra da Dra. Consuelo
Novais Sampaio.
“O autoritarismo predomina no governo
As medidas adotadas pelo governo da Bahia, através do secretario de
Educação, agridem a democracia duplamente: pela intransigência substituindo o
dialogo e pelo autoritarismo, sinônimo de despotismo, substituindo a autoridade.
Esta constatação se evidencia na falta de ética e de moral nos recentes atos do
governo.
A convocação de professores em estagio probatório e Reda, para
substituir os professores da rede estadual, foi a mais recente tentativa de
impor a autoridade pela força do poder. Queremos crer que os convocados da base
educacional dos nossos jovens. Em contraste, os professores em greve aguardam
do governo o respeito ao direito que lhes cabe de ajuste salarial de 22,22%
fixado por lei federal (11.738/08). Estão acampados no Legislativo, aguardando
a revogação da espúria lei estadual (12.364/11) que os engessou até a Copa de
2014. Subliminarmente, governo e Legislativo dizem aos nossos jovens: larguem
os livros; peguem a bola. É constrangedora a submissão do Legislativo ao
Executivo, além de vivermos em 2011 aguardando 2014!
Não menos autoritária foi a propaganda enganosa, veiculada pelo governo
em canal de TV, afirmando que os professores da rede publica estadual já haviam
recebido ajuste salarial de 22% a 26%! Não explicou o milagre. Recorreu ao
nosso maior veiculo de propaganda – tão grande que fez Lula aliar-se a um
foragido da Interpol! Ao enganar o povo através da TV, o governo da Bahia
assumiu o papel de Golias contra um Davi, cujo estilingue foi posta à venda em
feira publica, visando a defesa de princípios básicos da educação. Depois,
revivendo o Leviatã – monstro bíblico recriado por Thomas Hobbes para
caracterizar as garras do Estado repressivo que se formava no século XVII -, o
governo da Bahia cortou o parco salário de professores indefesos. Ao invés de
dialogar, preferiu humilhar. Tirar, ao invés de dar-lhes o que lhes pertence
por lei federal, que, constitucionalmente, se superpõe à estadual, mormente
quando esta foi criada posteriormente, para a defesa de interesses
circunstanciais. A humilhação a que foram submetidos os professores
fortaleceu-lhes a dignidade, a honra, cujas noções transmitem aos seus alunos.
É a justeza da causa que defendem – a educação, como pilar e cerne da sociedade
e do próprio governo – que faz com que aguardem decisão favorável do governo.
Pelo que tem sido exposto na mídia, deseja-se que a sórdida estratégia
intentada pelo secretario de Administração (jogar funcionários públicos contra
seus companheiros, lembram-se?) não faça escola. Que os professores convocados
não se sintam como peças fracas e disponíveis de um exercito de reserva, das
quais se lança mão quando conveniente. Não permitam que sejam jogados contra
seus colegas. O modo de ação do governo, manipulando a sociedade contra os que
preparam os seus filhos para o futuro, é abominável, pela agressão, pela
intransigência exacerbada.
Nos primórdios da atual crise global, que feriu todo o sistema
financeiro do planeta após a queda do Lehman Brothers, este quarto maior banco
do mundo, em desespero, reuniu-se com altos banqueiros coreanos, propondo-lhes
comprar boa parte da massa podre de imóveis que, aos borbotões, eram-lhes
devolvida. Convencidos de que os asiáticos aceitariam sua proposta,
decepcionaram-se quando, em silencio, eles retiraram da mesa de negociações.
Correram atrás e ofereceram-lhes maiores vantagens. O líder coreano recusou.
Continuou a andar e, virando a cabeça, disse-lhes não se tratar de capital;
apenas, concluiu, “não gostei do jeito como vocês conduziram as negociações”.
Parafraseando o banqueiro coreano, está claro que não só os
professores, mas a sociedade não gosta do “jeito como o governo está conduzindo
as negociações”. A despeito da lei da transparência e, conforme divulgado, os
recursos do Fundeb ultrapassarem R$ 900 milhões, além de vários bilhões
ultimamente transferidos pelo governo federal, nada foi-nos dito sobre a
aplicação de tais recursos. Que o bom senso prevaleça.”