quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Eu e a Salvador "moderna"

Domingo, dia 26 de outubro, dia da eleição, no segundo turno, da Presidenta Dilma.
Sai de Jacuípe, via ônibus, para, antes de mais nada,  votar e votar logicamente no 13.
Já, a esta primeira prova, ficou comprovada a minha quase total alienação com os efeitos da “modernidade” da minha antes conhecida, reconhecida, provada, aprovada, esquadrinhada cidade. É que a minha outrora provincial urbe, cresceu, inchou-se, transformou-se numa megalópole e sinto-me, em determinados momentos como se estivesse em outro planeta e descido, repentinamente, de uma nave espacial naqueles instantes.
Pois bem, o ônibus que me conduziu de Jacuípe para Salvador indicava como destino a Calçada. Fiquei tranquilo e pensei: ótimo. Uma vez que vai à Calçada, eu fico no viaduto de Pitangueiras e subo a “escadinha” – que muitas vezes me levou para casa – e fácil, fácil estarei na minha seção eleitoral. Qual nada! O “busu” (termo que, embora não muito novo, é fora do contexto do meu provincianismo) da rodoviária, tomou rumo da “Barros Reis”. Pô, mas não é que aqueles ônibus vão via San Martin? É, eu bem que sabia, mas minha arraigada e, a estas alturas, ilusória convicção de intimidade com a cidade levou-me à desatenção. Então, fui forçado a tomar outro ônibus.
Pensei, devo subir num ônibus que vá pelo Bonocô (as mesmas intenções anteriores). Surge um “Lapa”. Embarco, com a mesma certeza de que vou no caminho certo. Qual nada, mais uma vez! O infeliz chega um pouco antes do Ogunjá e começa a mover o “leme pra bombordo”. Pô, mais uma vez, tô lenhado! Tudo bem, ninguém morreu. Vamos andando, é um pouquinho só, até o viaduto. Consigo finalmente chegar à seção eleitoral. Sem que deixasse de constatar que a “escadinha” não mais existe. Ora, seu Mário, aquela área toda foi inundada pela estação de Brotas do metrô, não sabia? Metrô?! Ah, temos um metrô!
Este detalhe faz recuar minhas memórias para a Salvador, de antes da explosiva intervenção urbana promovida pelos ditadores, nos idos de 70, tendo como seu interventor municipal, o ex-coronel baiano.

O bonde da linha 11, o bonde de Brotas passava por uma estreita trilha, no topo de um morro, (posteriormente escavado para abertura da avenida de vale), que ligava a rua Frederico Costa à rua das Pitangueiras – Agripino Dórea, e à Ladeira dos Galés. De maneira que os bondes que transitavam de e para Brotas, via Largo dos Paranhos, Bandeirantes, passavam por sobre o, atual, viaduto de Pitangueiras. No espaço entre a Frederico Costa e a bifurcação que leva ao Galés e a Pitangueiras, havia umas casinhas bem humildes e que foram, certamente, desapropriadas. Seus pobres moradores enxotados, em nome do progresso! O que hoje se chama o vale de Nazaré era uma vastidão de brejo. Aqui ou acolá, podia se ver cultivo de hortaliças e de outros vegetais. Era uma enorme baixada de verdejantes matos e por onde escorria muita água. Para onde foram aqueles enxotados? Para onde foram essas águas todas? Para onde foi a urbanidade de Salvador?