Se diante do que está
publicado no VIO O MUNDO (Blog de Luiz Carlos Azenha) e transcrito abaixo não
se trata de parte de um crime de conspiração contra um governo legitimamente
eleito e que frontalmente fere o estado das práticas democráticas que devemos
viver, não sei o que mais dizer! E o que é pior, as instituições que deveriam
zelar pelo estado de direito e pela práticas verdadeiramente democráticas
omitem-se descaradamente.
por Conceição Lemes
Ontem, quinta-feira 13,
a reportagem de
Júlia Duailibi, publicada em O Estado de S. Paulo revelou: no período
eleitoral, delegados da Polícia Federal (PF) usaram as redes sociais para
elogiar Aécio Neves, candidato do PSDB à Presidência, e para atacar o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidenta Dilma Rousseff, que
disputava a reeleição, bem como a replicar conteúdos críticos aos petistas.
Esses policiais, que
mostraram ser anti-petistas militantes e radicais, são simplesmente os
responsáveis pela Operação Lava Jato, que investiga o esquema de corrupção na
Petrobras, empreiteiras, doleiros, partidos políticos, funcionários e
ex-funcionários da estatal.
Pela
primeira vez os rostos desses delegados estão sendo mostrados. Para isso,
contamos com a preciosíssima colaboração do NaMariaNews, que também
nos ajudou na busca dos vídeos, das imagens e dos links que aparecem nos PS do Viomundo, ao
final da matéria. Como os delegados mudam de nome dependendo da situação, a
pesquisa foi bastante difícil.
São eles:
Igor Romário de Paula,
da Delegacia Regional de Combate ao Crime Organizado
s investigações da Lava
Jato estão sendo conduzidas por delegados vinculados a Igor
Romário de Paula, que responde diretamente a Rosalvo Ferreira Franco,
superintendente da PF do Paraná.
Igor Romário de Paula, que atuou na prisão do doleiro Alberto Youssef, participa de um
grupo do Facebook chamado Organização de Combate à Corrupção (OCC), cujo
“símbolo” é uma imagem da Dilma, com dois grandes dentes incisivos para
fora da boca e coberta por uma faixa vermelha na qual está escrito “Fora, PT!”
Márcio Adriano Anselmo,
coordenador da Operação Lava Jato
Márcio Adriano Anselmo foi quem, no
Facebook, afirmou: “Alguém segura essa anta, por favor”, em uma notícia cujo
título era: “Lula compara o PT a Jesus Cristo”
Na reta final do 2º
turno, fez comentários em outra notícia, na qual Lula dizia que Aécio não era
“homem sério e de respeito”.
Escreveu: “O que é ser
homem sério e de respeito? Depende da concepção de cada um. Para Lula realmente
Aécio não deve ser”.
O delegado apagou há
poucos dias o seu perfil no Facebook.
Maurício Moscardi
Grillo, chefe da Delegacia de Repressão a Crimes Fazendários
Maurício Moscardi Grillo é o responsável
por apurar a denúncia de grampos na cela de Youssef.
Segundo a reportagem de
Júlia Duailibi, ele aproveita a mensagem de Márcio Anselmo, para se manifestar
sobre Lula: “O que é respeito para este cara?”
Grillo também
compartilhou uma propaganda eleitoral do PSDB, como a que dizia que Lula e
Dilma sabiam do esquema de corrupção na Petrobrás.
“Acorda!”,
escreveu ele ao comentar a reportagem da Veja,
que foi às bancas na quinta-feira anterior ao segundo turno: “Lula e Dilma
sabiam de tudo”.
Erika Mialik Marena, da
Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros e Desvios de Recursos Públicos do
Paraná
Na delegacia de Erika Mialik Marena, estão
os principais inquéritos da operação Lava Jato.
Em uma notícia sobre o
depoimento de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobrás à Justiça Federal,
ela comenta: “Dispara venda de fraldas em Brasília”.
No Facebook, usava
o codinome “Herycka Herycka”. Após a reportagem de Júlia Duailibi, seu
perfil foi retirado dessa rede social.
A denúncia envolvendo
esses quatro delegados da PF é gravíssima.
Estranhamente, a
mídia deu pouca repercussão a ela.
Estranhamente
também, até a hora do almoço da quinta-feira, 13 de novembro, a Polícia
Federal, o Ministério da Justiça, a Procuradoria-Geral da República e o Supremo
Tribunal Federal (STF) não haviam se manifestado sobre a denúncia do Estadão.
O Viomundo contatou então as quatro instituições,
via suas respectivas assessorias de imprensa. Primeiro, por telefone. Depois,
por e-mail, fazendo vários questionamentos.
Uma pergunta comum a
todos:
– Que providências
pretende tomar em relação ao caso?
Ao procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, perguntamos também:
– A partidarização
explícita dos delegados da PF envolvidos na Lava Jato não contamina o resultado
da investigação, já que eles demonstraram evidentes objetivos políticos?
– A partir de agora a
Lava Jato não fica sob suspeição?
Ao ministro Teori
Zavascki , do STF, indagamos:
– O comportamento
dos delegados da PF não contamina a investigação, comprometendo o inquérito?
– A partir de agora a
Lava Jato não fica sob suspeição, inclusive as delações premiadas?
À Superintendência da
Polícia Federal, em Brasília, onde fica a sua sede, perguntamos:
– O que a PF tem a dizer
sobre os evidentes objetivos políticos desses delegados?
Na
parte 1 da entrevista abaixo, o delegado Maurício
Moscardi Grillo fala
aos 2,06 minutos sobre a PF e como deve deve agir em casos
policiais. Imperdível.
Ele
diz que a Polícia Federal é republicana. Exatamente o oposto do que fizeram os quatro delegados da PF
durante as eleições de 2014.
Por
isso, perguntamos também à Polícia Federal, via sua assessoria de imprensa:
–
Como a sociedade vai confiar numa Polícia Federal que não agiu de forma republicana nessas
eleições, mas politicamente em favor do então candidato do PSDB,
Aécio Neves, e contra a candidata do PT, Dilma Rousseff, e o ex-presidente
Lula?
Do ministro da Justiça,
José Eduardo Cardozo, quisemos saber, entre outras coisas:
– Quais seriam as
medidas punitivas aos envolvidos no caso?
– Como a sociedade vai
confiar numa Polícia Federal que não age republicanamente, mas sistemática e
politicamente em favor do PSDB e contra o PT?
Nenhum respondeu.
Insistimos por telefone.
Questionada de novo, a
Polícia Federal disse que não se manifestaria sobre o caso.
O procurador-geral
Rodrigo Janot também não respondeu. A assessoria de imprensa da PGR, em
Brasília, alegou que ele estava em São Paulo e não tinha sido possível
contatá-lo. Desculpa, no mínimo, estranha, já que existe celular hoje em dia e
de de vários modelos. Não seria mais digno dizer que não iria se manifestar e
pronto?
Como o procurador-geral
da República, Rodrigo Janot, não respondeu às nossas quatro perguntas,
acrescentamos agora uma nova:
– O senhor concorda com
a nota dos procuradores do Ministério Público Federal, seção Paraná, em apoio
aos delegados da PF?
A íntegra da nota:
Operação Lava Jato:
Membros da força-tarefa do Ministério Público Federal manifestam apoio a
delegados, agentes e peritos da PF
Os Procuradores da República membros da Força-Tarefa do
Ministério Público Federal, diante do teor da reportagem “Delegados da Lava
Jato exaltam Aécio e atacam PT na rede”, publicada pelo jornal “O Estado de São
Paulo” nesta data, vem reiterar a confiança e o apoio aos delegados, agentes e
peritos da Polícia Federal que
trabalham nessa operação.
Em nosso país, expressar
opinião privada, mesmo que em forma de gracejos, sobre assuntos políticos é
constitucionalmente permitida, em nada afetando o conteúdo e a lisura dos
procedimentos processuais em andamento.
A exploração pública
desses comentários carece de qualquer sentido, pois o objetivo de todos os
envolvidos nessa operação é apenas o interesse público da persecução penal e o
interesse em ver reparado o dano causado ao patrimônio nacional,
independentemente de qualquer coloração político-partidária.
O ministro da Justiça,
José Eduardo Cardozo, também nada respondeu.
No início da noite, a
assessoria de imprensa do Ministério da Justiça nos prometeu enviar o áudio da
coletiva de Cardozo, dada um pouco antes em Brasília. Ficou na promessa. Mais
uma vez o vazio.
Como
bem observou Fernando Brito, do Tijolaço,
no post Cardoso, o Lento, pede sindicância sobre “delegados do
Aécio”, o ministro da Justiça “resolveu agir 12
horas depois que o país tomou conhecimento de que os delegados federais da
Operação Lava-Jato participavam, no Facebook, de animadas e desbocadas
tertúlias sobre a investigação que conduzem”.
Cardozo determinou à
Corregedoria da Polícia Federal que abra investigação sobre o caso.
Na coletiva de imprensa,
ele disse:
Cardozo mostrou mais uma
vez que é inepto e incompetente, para o dizer o mínimo.
Em
artigo publicado nesta sexta-feira 14, no GGN, Luis
Nassif acrescenta:
O Ministro chega às 11
no trabalho, sai às 12h30 para almoçar, volta às 16 e vai embora por volta das
18h. A não ser que se considere como trabalho conversas amistosas com
jornalistas em restaurantes da moda de Brasília.
Será que é por isso que
esta repórter não recebeu as respostas de Cardozo até agora?
As manifestações dos
quatro delegados da PF são cristalinas. Ou será preciso
desenhar para Cardozo?
Nassif diz mais:
É
blefe a atitude do Ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, de pedir uma
investigação para a Polícia Federal sobre o ativismo político dos delegados da
Operação Lava Jato. O problema da Lava Jato não é o ativismo de delegados no
Facebook, mas a suspeita de armação com a revista Veja na véspera da eleição. Se Cardozo
estivesse falando sério, estaria cobrando a conclusão das investigações sobre o
vazamento.
Os
quatro delegados têm o direito de ter as suas preferências políticas. A
questão é que o comportamento desrespeitoso está longe de ser um caso menor.
“É um ato político”, avalia Paulo Moreira Leite, em seu blog.
Na condição de ministro
da Justiça, Cardozo, como bem observou Paulo Moreira Leite, deveria saber que o
aspecto do caso está resolvido no artigo 364 no regimento disciplinar da
Polícia Federal, que define transgressões disciplinares da seguinte maneira:
I - referir-se de modo
depreciativo às autoridades e atos da Administração pública, qualquer que seja
o meio empregado para êsse fim.
II - divulgar, através da
imprensa escrita, falada ou televisionada, fatos ocorridos na repartição,
propiciar-lhe a divulgação, bem como referir-se desrespeitosa e
depreciativamente às autoridades e atos da Administração;
III - promover manifestação
contra atos da Administração ou movimentos de apreço ou desapreço a quaisquer
autoridades;
A questão, portanto, é
política. E parece que
Cardozo não quer se dar conta da gravidade do que aconteceu
debaixo do seu nariz.
Nos últimos 12 anos,
tivemos vários momentos em que a Polícia Federal agiu em benefício dos tucanos
e contra os petistas. E sempre ficou por isso mesmo.
Em
2006, tivemos o caso do delegado Bruno,
eleitor assumido do PSDB, que vazou para a mídia fotos do dinheiro
apreendido no caso dos “aloprados” do PT. A cena foi ao ar na quinta-feira
anterior ao primeiro turno da eleição presidencial e ajudou a levá-la para
o segundo turno. O delegado Bruno não foi punido por vazar fotos do
dinheiro; pegou 9 dias de suspensão por mentir aos superiores.
Eis que na eleição
presidencial de 2014, setores da PF aparecem, de novo, atuando em favor dos
tucanos e contra os petistas. O vazamento seletivo da Operação Lava Jato já
sinalizava o objetivo político e a Polícia Federal do Paraná como uma das
possíveis fontes.
Agora, as manifestações
no Facebook dos delegados PF em postos-chave na Lava Jato escancararam as
suspeitas. Eles agiram de forma organizada para interferir no resultado das
eleições presidenciais de 2014. Deixaram a PF nua.
O nome disso é golpe.
Aparentemente,
tudo foi bem armado com setores da mídia, sobretudo, neste caso, com
a revista Veja.
Ela antecipou
para quinta-feira, 23 de outubro, a ida para as bancas na semana
do segundo turno, para que a matéria sobre corrupção na Petrobras e a
Operação Lava Jato tivesse mais tempo de repercussão na
televisão, principalmente no Jornal
Nacional, e, assim, influenciasse o resultado da
disputa presidencial.
Veja trazia na capa as fotos de Lula e Dilma, com o título: “Lula e
Dilma sabiam de tudo”.
Em 25 de outubro,
véspera do segundo turno, o doleiro Alberto Youssef foi hospitalizado.
Surgiram então boatos de que ele havia morrido envenenado.
A
PF sabia que o suposto envenenamento e óbito não eram verdadeiros. Porém,
deixou que isso fosse disseminado durante horas nas redes sociais e nos
programas televisivos de domingo sobre as eleições, especialmente os da Globo. Só foi desmentir no começo daquela tarde. Tal ação fazia
parte do golpe em andamento, que acabou não dando certo.
“Os delegados, flagrados
no Facebook, tinham tanta certeza de que o golpe teria êxito que deixaram
digitais e provas pelo caminho. Só isso explica o que disseram”, observa um
experiente analista da política brasileira.
Talvez também porque
nesses 12 anos do governos petistas outros delegados da PF ficaram impunes.
Paulo Moreira Leite
alerta:
A campanha anti-PT dos
delegados da Polícia Federal lembra os desvios do Inquérito Policial-Militar
(IPM) da Aeronáutica que emparedou Getúlio Vargas em 1954.
Em 1954, quando o major
Rubem Vaz, da Aeronáutica, foi morto num atentado contra Carlos Lacerda, um
grupo de militares da Aeronáutica abriu um IPM à margem das normas e
regras do Direito, sem respeito pela própria disciplina e hierarquia.
O
saldo foi uma apuração cheia de falhas técnicas e dúvidas, como recorda Lira
Neto no volume 3 da biografia de Getúlio, mas que possuía um objetivo político declarado — obter a renúncia de
Vargas. Menos de 20 dias depois, o presidente da República, fundador da
Petrobras, dava o tiro no peito.
Mas atualmente é
inconcebível, além de inconstitucional, que isso venha a
acontecer novamente. Em hipótese alguma, pode-se encarar com
naturalidade o anti-petismo militante e radical dos delegados denunciados.
Para o bem da
democracia, é preciso investigar a fundo a tentativa de golpe do qual
esses quatro delegados fizeram parte, assim como é preciso combater seriamente
a corrupção.
Do contrário, a
democracia corre o risco de ser golpeada de forma mortal mais
uma vez.
PS 1 do Viomundo: Na coletiva de imprensa, o ministro José Eduardo Cardozo
disse que a Corregedoria da PF deve apurar primeiramente se as manifestações dos quatro
delegadossão verdadeiras.
Mas
como isso vai ser apurado se o site OCC foi quase que totalmente esterilizado
após a publicação da denúncia do Estadão? As provas só
podem estar com Júlia Duailibi. Será que a jornalista fez os print-screens das
páginas? Ou será que ela só teve acesso às fotos daquelas páginas do
Facebook?
PS 2 do Viomundo: É importante que os leitores saibam que os delegados usam seus
nomes cada hora de jeito: ou completos, ou em partes. Isso dá uma grande diferença
nas buscas.
PS 3 do Viomundo: Maurício Moscardi Grillo
foi nomeado para o cargo em 25/08/2014 - Seção
2, página 54, de
acordo com o Diário Oficial da União. Portanto, depois que as
investigações da Lava Jato já estavam em andamento.
PS 4 do Viomundo: O delegado
Grillo também atuou na investigação do mensalão, em 2009. Veja aqui, aqui e aqui.
PS 6 do Viomundo: Já que a Superintendência da PF em Brasília se recusou a
responder nossas perguntas, o Viomundo gostaria de recorrer, em última
instância, à boa vontade do superintendente da PF do Paraná, Rosalvo Ferreira Franco:
– Doutor, o senhor sabia que os seus quatro subordinados estavam
atuando politicamente no Facebook, jogando no lixo o caráter republicano da PF
como um todo?
– Que medidas o senhor, como chefe geral, irá tomar?
(NOTA DESTE BLOG: OS VÍDEOS POR PROBLEMA TÉCNICO NÃO FORAM ANEXADOS)