segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

A FARSA DAS SACOLINHAS PLÁSTICAS

Quando do noticiário na TV sobre a suspensão do uso de sacolas plásticas pelos supermercados e obrigatoriedade para os consumidores levarem consigo “sacolas ecológicas”, veio-me, de pronto, a confirmação do que sempre prevejo. Ainda, em futuro bem próximo, teremos que pagar para acessar as lojas dos supermercados a fim de podermos fazer nossas auto-compras, no que eles chamam de self-service.
Hoje, já se podem ver consumidores, além de ter que procurar os produtos necessitados, pois é raro, muito raro, encontrar-se um empregado da loja para orientá-lo, fazendo, eles próprios, com a maior naturalidade, o empacotamento de suas compras.
Eu, que nem uma agulha empacoto, nesses casos, de minha parte, sempre protestei e protesto, mas constato, com tristeza, a minha impotência diante da atropelada inversão de valores, imposta pelo brutal sistema capitalista.
E, agora, me vem mais esta. Preocupação com o meio ambiente, coisa nenhuma! .

 Por Paulo F.
Do Jornal Alpha Cidade
A farsa das sacolinhas nos supermercados
Mais uma vez estão enganando o povo brasileiro dizendo que o fim das sacolinhas plásticas nos supermercados vai ajudar o meio ambiente. Com certeza vai ajudar, mas vai ser os cofres dos supermercados, já que a partir do dia 25 de janeiro os consumidores serão obrigados a comprar sacolas retornáveis no próprio estabelecimento.

Mas quando você chegar em casa perceberá que na lavanderia, na cozinha, no banheiro ou no escritório há um lixinho que precisa de um saco plástico. Como você não possui mais saquinhos plásticos, será obrigado a comprar sacos de lixo, dando mais dinheiro para os supermercados, continuando a prejudicar o meio ambiente. E tudo isso você tinha de graça.




 

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Tropicalismo, Nara Leão, Especulação Imobiliária

De há muito que não consigo ler integralmente o que Caetano Veloso escreve, por razões diversas, especialmente quando se arvora a crítico político (de política partidária). Sim, ele é aquele mesmo que foi grosseiro com o Presidente Lula e que envergonhou até a sua própria mãe. Mas, desta vez, li e gostei do que está expressado em Nara Tropical, em A TARDE, de domingo p. passado. Além da bonita homenagem que presta a um dos nomes femininos, talvez o mais importante, da bossa nova, que é Nara Leão, (quantas boas lembranças me trouxe), ainda se posiciona contrariamente à adoção do nome Tropicália, movimento, mais que musical, revolucionário, que rompeu com tabus e preconceitos da época, inspirado em toda aquela efervescência mundial de sublevação da ordem mundial que aconteceu pelos fins do ano 60 e por parte do ano 70 – era tão bom “caminhar contra o vento...”, para um condomínio “nas bordas da floresta que fica entre a Orla e a Avenida Paralela, na altura do Parque de Pituaçu” e que “nomes de outras canções minhas estavam sugeridos para praças internas”. A que ponto chega a petulância da especulação imobiliária: desmata a floresta, substitui por concreto e dá-se-lhe o nome de tropicália, que vem de tropical, dos trópicos, de sol, mar, florestas...

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

A idade, a violência, o fim da Boemia




Estávamos, num certo dia, como costumamos, de vez em quando fazer, e de dia, (que no popular quer dizer, durante o dia), a papear sobre diversos assuntos, quando se levantou a tese do fim da boemia.

A tese deixou-me embaraçado e pensativo, por que fim? O questionamento do meu interlocutor, pareceu-me mais uma preocupação de ordem particular, uma coisa bem pessoal; afinal ele, como nós outros daquela confraria, já atravessamos o cabo da boa esperança, o estreito de Ormuz (nada a ver com trânsito de grandes navios petroleiros que abastecem, principalmente, os mercados norte-americano e europeu), e outros obstáculos mais. Até que eu concordaria se, como já disse, levarmos simplestemente para o plano pessoal, o particular. Mas Boemia (é com maiúscula mesmo!), é, tal qual é a prostituição, no que respeita à profissão, a mais antiga e eterna parceira da manifestação humana da arte, do lazer, do entretenimento. Sem a boemia, não teriam existido os(as) literatos(as), os(as) grandes artistas gráficos(as), os músicos, os compositores - vou deixar de usar as (as), pois já deixei claro minha intenção de não discriminar as mulheres, afinal, para nós homens, que me desculpem os gays, é a chama do fogo ardente de uma paixão: mulher, paixão... e, com isto, está criada a boemia. Agora, querendo finalizar, ou sair deste devaneio, deste gostoso retrocesso cronológico, volto a dizer, Boemia é a mais antiga forma de manifestação cultural e de entretenimento do homem (e da mulher também, alguma questão?); afinal, desde que há inscrições ruprestres, alguma forma de fermentado e outras coisitas más, deve existir a Boemia.

Bem, voltemos ao nosso tempo e nossa realidade. Como havia entendido logo, logo, o nosso amigo quis referir-se a nós, à nossa contemporaneidade. Desta maneira, não há que se contestar coisa alguma, o fim da Boemia, para nós, é fato. Pô, também, meu Rei, a eternindade existe para o homem, enquanto instituição humana. Para nós, simples mortais, assim como quase tudo, (digo isto para não melindrar os que acreditam na vida depois da morte), tem fim; afinal, originamos de uma centelha, chegamos ao auge de uma grande e duradoura, embora finita, chama que, em determinado instante, entra num processo de dissipação, somente esta verdade já seria bastante para explicar a constatação do nosso amigo. Mas há fatores outros, bem contemporâneos para nos desestimular, nos desencorajar, para nos atemorizar, para nos afugentar, para afugentar o nosso espírito notívago (e aí mora a essência do questionamento do meu interlocutor: vida noturna, a noite é criança.). O ar provinciano, doméstico que respirávamos na Salvador dos 60-70¹s e, quem sabe, até os 80¹s, não mais existe. Transitávamos por aquelas vielas, becos, ladeiras, de todo o centro histórico, pela Cidade Baixa: Comércio, Bonfim, Ribeira, com a mais da desavergonhada tranquilidade; entrávamos e saíamos de bar em bar, como se extensão fosse de propriedade nossa: o feijão de Alaíde, o feijão de Vital, os inferninhos, o charriot (hoje, o plano inclinado), a Rua Chile, Avenida Sete (elas com configurações bem diferentes das de agora)...as barracas de praias - faziam-se devaneios até às altas horas- e elas foram derrubadas! (a troca de que?); a Barraca de Da. Sildefina, (atrás do C. Português); a Barraca de Nogueira, em Itapuã. Que é do Clube Português e seu baile a Yemanjá?; do velho Caneco? (Nos seus áureos tempos, somente servia chopp, (nada de cerveja em garrafa ou, pior, em lata) e bem gelado; bigode ao gosto do frequês); o feijão do Quatro Rodas (prá aqueles que não sabem, quatro rodas vem de um restaurante instalado numa velha kombi ou num caminhão); os bailes de carnavais nos clubes sociais (ao que parece somente subsistiram a Associação Atlética (parcialmente) e o Iate Clube (mas quem podia ou pode acessar aquela intransponível fortaleza da elite baiana - fiquemos somente neste termo. (As barracas de praia teriam invadido terreno da União, da Marinha, mas o Iate Clube, não!, assim como um portentoso hotel no Rio Vermelho, construído sobre as pedras do lindo mar da Bahia) e, o pior de tudo, a grande vilã, a violência urbana. Sim, dirão, mas sempre houve violência, sempre se roubou, sempre se matou, contudo a intensidade e frequência com que se assalta, se mata, se infringe; com que se banaliza o homicídio, a extinção de uma vida humana é incomparável com qualquer época anterior.

Amigo, a materialização da Boemia acabou para nós e, assim como, dizem, o Espírito é eterno, o nosso espírito boêmio ainda vive, vivinho da silva, dentro de nós.

Vivamos com ele na maneira e no tempo em que nos permitirem, sem que seja preciso pedir, com súplica, "regresso", sem precisar pedir "inscrição", como fez um boêmio em sua volta à boemia.