Proponho-me a fazer uma análise da conjuntura política, após
os resultados das recentes eleições, que me perdoem se eu não conseguir levá-la
a contento.
Começo comentando, ainda, sobre
as manifestações ocorridas, e incensadas e cantadas em prosas e versos (“vozes
da rua”, etc.), há tempos atrás e que mereceram estudos, teses acadêmicas,
etc., das quais, salvando-se raras exceções, não encontrei coincidência com o
que eu consegui (ou não consegui?) entender de todo aquele, quase, caos
instalado. Fiquei com certo pavor, relembrando o tenebroso, obscuro período
ditatorial e só quem viveu sob seu domínio sabe o quanto foi maléfico para as
pessoas e para o país.
Originado de um pacífico
movimento por passe livre para estudantes em São Paulo (MPL), parece-me, cooptado
e estimulado pelos “reaças”, (black
blocks?) prontos historicamente pelo estabelecimento do estado de exceção, da
implantação de regime antidemocrático, arrebanhou:
(1) Uma
juventude (que não conheceu e nem tem noção do que foram os “anos de chumbo” e,
muito menos, conheceram a situação porque passou o país antes do primeiro
governo do PT [lembro-me de reportagem na TV sobre uma enorme fila no Rio de
Janeiro para recrutamento de candidatos a GARI,
onde havia engenheiro, até]) carente, é verdade, de melhoria na oferta de
serviços públicos;
J (2) Jovens
e velhos militantes do ingênuo e utópico anarquismo (ideologia política,
hein!);
c (3) Ainda,
os “esquerdistas” insatisfeitos com o Partido dos Trabalhadores autodegredados
em pequenos e inexpressivos partidos;
d (4) E
uma parte considerável da população que somente lê a grande imprensa (capitaneada
pela revista, lixo de consultórios médicos), com sua sistemática, massiva e
diuturna campanha contra o PT, (a Presidente do, se não me engano, Sindicato
Nacional dos Jornalistas declarou, sem arrodeios, que a verdadeira oposição ao
PT era a imprensa), que cria factoides e repercute à exaustão; que somente
divulga notícias que sejam negativas e omitem, descaradamente, ou distorcem
notícias favoráveis ao governo. Essa mesma imprensa (alô, O Globo, o Estadão, a
Folha...) que esteve sempre com o que há de mais entreguista, de retrógrado,
contra reformas de base e que sustentou e foi sustentada pela ditadura;
b (5) Bandos
de pessoas que estavam e não sabiam por que, (as “Marias vão com as outras”), e
continuam a vagar para “onde o nariz aponta”, tal como é dito pelo jargão
futebolês para “aquele” zagueirão.
O fato é que assim como surgiu,
desapareceu, sem antes deixar de ter sido peremptoriamente reprovado pelo MPL,
o movimento precursor.
Faço o preâmbulo, para chegar aos
resultados das eleições de outubro de 2014. A candidata Marina, aproveitando-se
dos movimentos já referidos surgiu como a terceira via, representante da
pureza, da “nova política (aliás, da não-política, seu partido não é partido é uma rede?!), ”, a messiânica e assim como um Tsunami, veio, fez o estrago e
foi-se. Implodiu-se por suas próprias inconsistências e sua verdadeira
insignificância política.
Estão, então, bem definidas as
vias a serem escolhidas pelo eleitor para os destinos desta nação:
(1) a via do Partido dos
Trabalhadores, com forte acento popular,
com viés convicto de cunho social,
(Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, Valorização do Salário Mínimo, BNDES,
Prouni, Pronatec, investimentos de infraestrutura [saneamento, ferrovias,
portos, hidrovias, hidrelétricas, transposição do São Francisco... São trilhões
de reais já empenhados]...) com irrefutáveis bons resultados e que pode mais
fazer por uma sociedade mais justa; não obstante a crise mundial, que vem sendo
enfrentada sem corte de salários, com índice, jamais observado, de desemprego, crise
essa que tem levado fortes economias mundiais a sentir abalos.
(2) e a via do outro partido que
é de ideologia completamente oposta: neoliberal: pela liberdade para o mercado
(independência do Banco Central), com “arrocho” nos investimentos sociais; pela
flexibilização dos direitos trabalhistas; pelo controle, a todo custo da
inflação, não importando se desempregando, se reduzindo salário, privatizando,
terceirizando e tudo pelo RENTISMO (bolsa de valores, juros altos, ganhos de
capital...).
Quatro fatos que fortemente se destacam
e que desautorizam completamente a legitimidade dos mais que louvados movimentos:
(1) a continuada bipolarização PT/PSDB; (2) o pífio desempenho de candidatos de
partidos radicais mais à esquerda; (3) fortalecimento de um Congresso
conservador e mais rico; (4) a reeleição, com uma esmagadora vitória, do
governador de São Paulo, que é dominado pelo seu partido há mais de vinte anos,
marcado por uma crise no abastecimento de água (ah! Se fosse governo do PT!!!)
que, muito tem a ver, com imprevidência administrativa e menos com a falta de
chuvas e o foco principal das “manifestações”.
Vejo também que infelizmente a mentira, materializada pela grande
imprensa, sustentada por setores retrógrados da sociedade, absorvida e
ingenuamente difundida por outro setor da sociedade, mais exatamente na classe
média, ou quase média (cujos representantes conseguem ser piores, no que
respeita à boçalidade, pois querem alcançar a alta classe e não conseguem; têm
o fantasma do retorno à baixa classe), vem vencendo a verdade. Mas isto não haverá de se confirmar.