domingo, 31 de agosto de 2014

“Ninguém Come PIB, Come alimentos”

Extraído do Blog de Luis Nassif, postado agora em 31 de agosto, leio entrevista da lusabrasileira, Maria da Conceição Tavares, renomada Economista, estranhamente concedida ao jornal O Globo, em março deste ano, digo estranhamente por ser ela imutavelmente das esquerdas. Chamou-me a atenção, razão porque publico aqui, e dou como título à postagem, a sua emblemática frase: “ninguém come PIB, come alimentos”. A frase encerra com uma apropriada síntese toda a compreensão que tenho e sinto dificuldade em expressá-la da conjuntura econômico-financeira do país, tão forte é a massificante campanha do “fracasso do governo de Dilma” e outras alcunhas respectivas e que, ao que parece, tem surtido efeito. O enunciado exprime claramente que Produto Interno Bruto (PIB) alto não é necessariamente fator de atendimento a necessidades sociais, especialmente aquela elementar que é a do atendimento a quem tem fome. Tivemos “bons” índices de PIB no período das trevas (64-80), e a grande parte da população desassistida teve que “aguardar” o “bolo crescer”, sob a promessa de ser dividido. Promessa que não se realizou, naturalmente. Pelo contrário, o bolo cresceu; e cresceu, com ele, a concentração da renda com uns poucos. Resultado da equação? Tanto maior o bolo, digo, o PIB, maior é o ganho dos poucos que mais ganham e menor é a fatia que sobra pros “menos favorecidos”. O atual governo, tão estigmatizado, tão castigado, conseguiu navegar num mar tão revolto da crise internacional e, com leme seguro, vai navegando não obstante às procelas artificialmente criadas, mantendo níveis de desemprego jamais vistos; renda do trabalhador em alta, (nem vou falar dos programas sociais); crescimento do IDH (índice de desenvolvimento humano); melhora no coeficiente Gini (índice de concentração de renda); fortes investimentos em infra-estrutura (hidrelétricas [que são abominadas pela candidata da rede]; ferrovias; hidrovias; transposição do São Francisco, obras a todo vapor. Criação de Universidades; de Escolas Técnicas, como nunca se fez...). Batem fortemente no que chama de Pibinho porque querem um PIBÃO, à custa de novas privatizações (querem entregar a Petrobras, que alcunham de Petrobrax); de arrocho salarial, (o candidato tucano já disse em alguma oportunidade que o salário mínimo estava muito valorizado!), de cortes profundos nos programas sociais, etc. Para o retorno ao viés do crescimento da concentração de renda, que se sabe muito bem a quem beneficia. Leiamos, portanto, a entrevista. De O Globo de 25/03/2014 Maria da Conceição Tavares: ‘Ninguém come PIB, come alimentos’ Mesmo com o atual crescimento baixo, desemprego e renda não pioraram, diz economista Por Cássia Almeida Quais foram os erros da política econômica do regime militar? O erro foi um modelo que persegue o crescimento a qualquer custo, à custa da classe trabalhadora, do bem-estar social, coisa criminosa. Foi uma maravilha crescer, mas cresceu aleijado, não é ideia muito boa. É melhor não crescer muito e não aleijar. Não fazer da maneira desvairada, agressiva como fizeram. Com crédito ao consumo, ao consumo de luxo das classe altas, houve perda salarial fortíssima. O que ficou de herança da política daquela época? Sobrou uma industrialização mais branda. As décadas de 80 e 90 foram muito ruins. Em 90, com neoliberalismo, vivemos um período de desindustrialização. Só voltamos a crescer com Lula, mas não no mesmo patamar, mas com um programa de distribuição de renda, com salário mínimo subindo acima da média, previdência, Bolsa Família, uma porção de políticas sociais para combater a pobreza, para melhorar a distribuição. E melhorou. O Coeficiente de Gini (indicador de concentração de renda) voltou aos níveis dos anos 60. Nesse sentido não é um modelo só desenvolvimentista, é um modelo social. Uma tentativa de fazer tardiamente um modelo de estado de bem-estar social. A concentração de renda aumentou durante o regime... O grosso do aumento da concentração foi no regime militar. Mas é claro que a crise da dívida externa nos anos 80 e o baixíssimo crescimento e o neoliberalismo dos anos 90 não ajudaram nada. Continuou concentrando. O regime concentrava com crescimento, o emprego crescia. Nas décadas de 80 e 90, não. Teve aumento do desemprego, coisa que agora também não tem. Além de política de salário, tem uma política de emprego. Há críticas que a política industrial atual seria semelhante à do regime? Não se assemelha em nada. Era um período de industrialização pesada, forte. Não estamos num período de industrialização pesada. Estamos investindo em infraestrutura basicamente. E a escolha de campeões nacionais? Está dando certo? Não acho uma maravilha de ideia. Muito praticada na Coreia, no Sudeste da Ásia. Não tenho certeza se está dando certo. Uma coisa é falar, outra coisa é provar. Se ocorreu, não tenho dado nenhum para afirmar. A oposição tem que pesquisar e botar os números. Fica tudo no gogó. De qualquer maneira, é uma concentração de capital, sem dúvida. Com a crise de 2008, o neoliberalismo sofreu um golpe, não? O que aplicaram foi um modelo ultraliberal. Não acho que o neoliberalismo esteja morto. Estou sempre na defensiva nesse particular. Os porta-vozes estão aí, cada vez falam mais alto. O Brasil cresce pouco... A crise (global de 2008) bateu aqui em 2009. Em 2010 o crescimento já tinha retomado, mais instável e mais brando. O crescimento não está essa Brastemp, mas não piorou o emprego, nem a distribuição de renda, o que para mim é o essencial. Ninguém come PIB, come alimentos. Há analistas que chegaram a defender mais desemprego para combater a inflação... Imagina, é um absurdo! O governo está combatendo a inflação da melhor forma que pode. Aumentar o desemprego para combater a inflação... Vou te contar, é pior que o Fundo Monetário. Não leio mais economia para não me aborrecer. É um festival de besteira. Não acho que inflação passe da meta. Não vejo pressão inflacionária, a não ser que tenha uma grande desvalorização. Mas não creio. O difícil é saber o que vai acontecer com a economia mundial, que sempre dá reflexo aqui. Não dá para ser ultraotimista, nem ultrapessimista. Estou moderadamente otimista.