terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Encerramento do ano 2013

Vão os meus votos de um ano novo de saúde, paz, prosperidade e que os “maus espíritos” da política sejam enxotados para que continuemos prosperando como nação e, acima de tudo, uma nação justa. Que a desigualdade seja diminuída em proporções satisfatórias e que tenhamos paz social. Aproveito para reeditar “Um Natal (in) Feliz”, que abaixo segue transcrito.
“Não há quem imagine o assombro, seguido de depressão, que me causa este tal “espírito de Natal”. O “espírito do Natal”, que é precedido de massiva e alucinante publicidade, envolto num intragável repertório de musicas natalinas, (excluo unicamente aquela que diz “...eu pensei que todo mundo fosse filho de papai Noel...”) leva a sentir-me como se eu, de outro planeta, estivesse assistindo a uma representação teatral da hipocrisia dos terráqueos e de adoração a um deus, o deus da gastança, do “espanjamento”, da extravagância.
Em tenra idade, cheguei a ser encantado com o Natal. (Ah! Este termo designa tantos significados, e o seu principal conceito é completamente abandonado). Lembro-me muito bem de que consegui, numa remota noite de Natal, “ver” Papai Noel, ou melhor “ver” seu vulto, o seu característico perfil; o seu pretenso saco de brinquedos era um balão gigante e que lhe fazia, ainda, a função de transportador; foi extasiante “vê-lo”; foi como se eu estivesse assistindo a um filme do tema com toda a sua coreografia e cenário que saíam da penumbra do pequeno vão, onde dormíamos todos: eu, minha mãe e o irmão menor, local este que se transformara milagrosamente num campo de aterrissagem do balão estufado e repleto de brinquedos e seu célebre passageiro. Tudo se passara num átimo, ao mesmo tempo fugaz e eterno, tanto que até então encontra-se “filmado” em meus mais íntimos “arquivos”. Filme de final feliz?  Não! O dia amanhece, as luzes do cinema se apagam. Reencontro-me com a realidade. Saio então do cinema com a sensação de que o filme acabou e com isto o sentimento da decepção entre a ficção e a realidade, do contraste entre a pobreza (com dignidade, diga-se de passagem) real e o luxo e a riqueza que aquele velho (velhinho prá uns) do ridículo Rô, Rô... fantasiadamente transmite.
E é aí que mora o perigo. Nessas épocas, parece (ou quer-se fazer parecer) que todo o mundo é solidário, que todo o mundo pode desfrutar de lautos jantares, mesas repletas; que todo o mundo pode consumir alucinadamente e para isto os órgãos de comunicação social, as empresas de publicidade capricham nas mensagens: faça seu Natal aqui; o seu Natal está aqui. Enfim, o Natal está nas lojas em geral; o Natal é o consumismo desvairado. A razão principal da festa é simplesmente desfocada.   

Quão “careta” é desejar-se Feliz Natal”

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

AINDA SOBRE NELSON MANDELA

Durante décadas, a mídia imperial tratou Nelson Mandela como “terrorista”. Até 2008, o líder africano ainda figurava na lista dos “comunistas” da central de espionagem dos EUA e a imprensa colonizada o rotulava de “subversivo””. 
Este é o parágrafo inicial do texto de Altamiro Borges, que transcrevo abaixo, e que foi copiado do Blog de Luis Nassif. Será que coincide com o que eu penso sobre a grande imprensa e o grande líder Mandela? Está provado e mais que provado, escancarado o relacionamento comercial (só, por que não também ideológico?) daquela nefasta revista semanal  com a empresa mantenedora do apartheid. Vejamos pois a íntegra da matéria.

publicado em 11 de dezembro de 2013 às 10:05
Mandela e os racistas da Veja
Durante décadas, a mídia imperial tratou Nelson Mandela como “terrorista”. Até 2008, o líder africano ainda figurava na lista dos “comunistas” da central de espionagem dos EUA e a imprensa colonizada o rotulava de “subversivo”.
Com sua morte, porém, a mídia simplesmente evita fazer qualquer autocrítica desta trajetória e passa a endeusar Nelson Mandela, tratando seus leitores como imbecis.
A revista Veja, sucursal rastaquera dos EUA, é uma das mais cínicas nesta manipulação. Na edição desta semana, ela estampou na capa: “O guerreiro da paz”. Nojento!
Basta lembrar que o semanário da famiglia Civita teve como um dos seus principais acionistas o grupo de mídia sul-africano Naspers.
Num artigo na revista Caros Amigos, intitulado “A Abril e o apartheid”, o escritor Renato Pompeu revelou que esta corporação foi um dos esteios do regime racista.
A Naspers tem sua origem em 1915 com o nome de Nasionale Pers. Durante décadas, ela esteve estreitamente ligada ao Partido Nacional, a organização das elites africâneres que legalizou o detestável e criminoso regime do apartheid no pós-Segunda Guerra Mundial.
Dos quadros da Naspers saíram os três primeiros-ministros do apartheid. O primeiro foi D.F. Malan, que comandou o governo da África do Sul de 1948 a 1954 e lançou as bases legais da segregação racial.
Já os líderes do Partido Nacional H.F. Verwoerd e P.W. Botha participaram do Conselho de Administração da Naspers. Verwoerd, que quando estudante na Alemanha teve ligações com os nazistas, consolidou o regime do apartheid, a que deu feição definitiva em seu governo, iniciado em 1958. Durante sua gestão ocorreram o massacre de Sharpeville, a proibição do Congresso Nacional Africano (que hoje governa o país) e a prolongada condenação de Nelson Mandela.
Já P. W. Botha sustentou o apartheid como primeiro-ministro, de 1978 a 1984, e depois como presidente, até 1989.
“Ele argumentava, junto ao governo dos Estados Unidos, que o apartheid era necessário para conter o comunismo em Angola e Moçambique, países vizinhos. Reforçou militarmente a África do Sul e pediu a colaboração de Israel para desenvolver a bomba atômica. Ordenou a intervenção de forças especiais sul-africanas na Namíbia e em Angola”.
Durante seu longo governo, a resistência negra na África do Sul, que cresceu, adquiriu maior radicalidade e conquistou a solidariedade internacional, foi cruelmente reprimida – como tão bem retrata o filme “Um grito de liberdade”, do diretor inglês Richard Attenborough (1987).
Renato Pompeu não perdoa a papel nefasto da Naspers. “Com a ajuda dos governos do apartheid, dos quais suas publicação foram porta-vozes oficiosos, ela evoluiu para se tornar o maior conglomerado da mídia imprensa e eletrônica da África, onde atua em dezenas de países, tendo estendido também as suas atividades para nações como Hungria, Grécia, Índia, China e, agora, para o Brasil. Em setembro de 1997, um total de 127 jornalistas da Naspers pediu desculpas em público pela sua atuação durante o apartheid, em documento dirigido à Comissão da Verdade e da Reconciliação, encabeçada pelo arcebispo Desmond Tutu. Mas se tratava de empregados, embora alguns tivessem cargos de direção de jornais e revistas. A própria Naspers, entretanto, jamais pediu perdão por suas ligações com o apartheid”.
Segundo documentos divulgados pela própria Naspers, em dezembro de 2005, a Editora Abril tinha uma dívida liquida de aproximadamente US$ 500 milhões, com a família Civita detendo 86,2% das ações e o grupo estadunidense Capital International, 13,8%.
A Naspers adquiriu em maio último todas as ações da empresa ianque, por US$ 177 milhões, mais US$ 86 milhões em ações da família Civita e outros US$ 159 milhões em papéis lançados pela Abril. “Com isso, a Naspers ficou com 30% do capital. O dinheiro injetado, segundo ela, serviria para pagar a maior parte das dividas da editora”.

A revista Veja, que estampa na capa a manchete “O guerreiro da paz”, nunca pediu perdão por suas ligações com os racistas da África do Sul. É muito cinismo!

sábado, 7 de dezembro de 2013

MANDELA

Ao assistir aos jornais televisivos e programas esportivos esta manha de sexta-feira, 06 de dezembro de 2013, sou bombardeado por uma enxurrada de “homenagens” a Nelson Mandela, homenagens que seriam merecidas se legítimas e verdadeiras. Ah! Que fiquei indignado, que fiquei revoltado com essas hipócritas homenagens, fiquei, sim. Hoje o sul-africano é um herói. Estamparam manchetes de jornais dos principais países e todos “homenageando” aquele que se transformou no grande líder da luta contra a segregação racial, política imposta pelos brancos, descendentes, especialmente, dos colonizadores ingleses e holandeses, que relegava aos negros a condição de sub-raça, de sub-humanos e que perdurou por mais de quarenta anos, sob a complacência das potências “democráticas”. Ouvir Alexandre Garcia chamá-lo de herói, de exemplo para os políticos brasileiros; ouvir, até, homenagem da rainha da Inglaterra é uma heresia. Gostaria de ouvir esses posicionamentos nos idos de 60, 70. O que fizeram a grande imprensa, o Sr. Garcia da Globo, as grandes potências, quando vigia o império do apartheid?
Ao encontro da minha indignação, eis que me deparo com o texto a seguir pescado do Blog de Luis Nassif, que diz o que eu gostaria de, efetivamente, dizer.
Do blog do Sakamoto
Precisamos de mais pessoas como Mandela.
Pessoas que são capazes de usar a força quando necessário e adotar uma atitude conciliadora quando preciso. Mas que não descartam qualquer uma das duas acões políticas.
Por conta da morte de Mandela, estamos sendo soterrados por reportagens que louvam apenas um desses lados e esquece o outro, como se as folhas de uma árvore existissem sem o seu tronco e os galhos. O apartheid não morreu apenas por conta do sorriso bonito e das falas carismáticas do líder sul-africano, mas por décadas de luta firme contra a segregação coordenada por uma resistência que ele ajudou a estruturar.
É fascinante como regimes execrados pelo Ocidente foram, muitas vezes, os únicos que estenderam a mão a Mandela e à luta contra o apartheid. E como, décadas depois, muitos países prestam suas homenagens a ele, sem um mísero por seu papel covarde durante sua prisão. Ou, pior: como veículos de comunicação desse mesmo Ocidente ignoram a complexidade da luta de Mandela, defendendo que o pacifismo foi o seu caminho.
Desculpem, mas a necessária conciliação para curar feridas ou a tolerância são diferentes de injustiça. E ser pacifista não significa morrer em silêncio, em paz, de fome ou baioneta. A desobediência civil professada por Gandhi é uma saída, mas não a única e nem cabe em todas as situações em que um grupo de pessoas é aviltado por outro.
“Eu celebrei a ideia de uma sociedade livre e democrática, na qual todas as pessoas vivam juntas em harmonia e com oportunidades iguais. É um ideal pelo qual espero viver e o qual espero alcançar. Mas, se for necessário, é um ideal pelo qual estou pronto para morrer'', disse ele, ao ser condenado a 27 anos de prisão.
As histórias das lutas sociais ao redor do mundo são porcamente ensinadas. Ao ler o que os jovens aprendem nas carteiras escolares ou no conteúdo trazido por nós jornalistas, fico com a impressão que a descolonização da Índia, o fim do apartheid na África do Sul ou a independência de Timor Leste foram obtidas apenas através de longas discussões regadas a chá e um pouco de desobediência. Dessa forma, a interpretação dos fatos, passada adiante, segue satisfatória aos grupos no poder.
Muitos que hoje lamentam por Mandela detestam manifestações públicas e mudanças no status quo.
Adoram um revolucionário quando este é reconhecido internacionalmente e aparece em estampas de camisetas, mas repudiam quem ocupa propriedades, por exemplo, “impedindo o progresso''.
Leio reclamações da violência de protestos quando estes vêm dos mais pobres entre os mais pobres – “um estupro à legalidade” – feitas por uma legião de pés-descalços empunhando armas de destruição em massa, como enxadas, foices e facões. Ou contra povos indígenas, cansados de passar fome e frio, reivindicando territórios que historicamente foram deles, na maioria das vezes com flechas, enxadas e paciência. Ou ainda professores que exigem melhores salários e resolvem ir às ruas para mostrar sua indignação e pressionar para que o poder público mude o comportamento. Todos eles são uns vândalos.
Daí, essa pessoa que ama Mandela, mas não sabe quem ele é, pensa: poxa, por que essa gente maltrapilha simplesmente não sofre em silêncio, né?
Muitas das leis criticadas em protestos e ocupações de terra ou mesmo no apartheid não foram criadas pelos que sofrem em decorrência de injustiça social, mas sim por aqueles que estavam ou estão na raiz do problema e defendem regras para que tudo fique como está. Nem sempre a legalidade é justa. E essa frase assusta muita gente.
Mandela é a inspiração. Com ele, é possível acreditar que manifestações populares e ocupações resultem nos pequenos vencendo os grandes. E, com o tempo, os rotos e rasgados sendo capazes de sobrepujar ricos e poderosos.
Por isso, o desespero inconsciente presente em muitas reclamações sobre a violência inerente ou involuntária desses atos. Ou na tentativa de reescrever a história editando aquilo que não interessa.
Enquanto isso, mais um indígena foi morto no Mato Grosso do Sul. Mas tudo bem. Devia ser apenas mais um vândalo, não um homem de bem como Mandela.

Enfim, precisamos de mais pessoas como Mandela. Pois os bons do século 20 estão morrendo antes que realmente entendamos suas mensagens

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

AINDA SOBRE A TENDENCIOSIDADE DA GRANDE IMPRENSA AO NOTICIAR FATOS POLÍTICOS


Venho, vez por outra, abordando este assunto. A parcialidade, a tendenciosidade dos veículos da chamada grande imprensa no sentido de omitir, de esconder, de relativizar fatos que dizem respeito negativamente aos políticos e setores da oposição ao governo e, na contramão, a massacrante divulgação, com todo “zoom”, quando se trata de fato ligado aos membros, ou aconchegados, do governo federal, do partido de Lula da Silva e dele próprio. Repararam como foi abordado o caso, mais que um fato jornalístico, um caso que envolve cerca de meia tonelada de pasta de coca(!!!), que pode ser processada e transformada em múltiplas toneladas de cocaína, conduzida por veículo de propriedade de um político ligado ao PSDB, embora não pertença àqiele partido; veículo esse flagrantemente pousado numa propriedade do político. Ah! Se fosse de um dos “petralhas”, de filho, de amigo, de conhecido de Lula. Imaginemos o quanto não estariam verberando os jornais e revistas do PIG.           

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

O CASO DO MÉDICO CUBANO EM FEIRA DE SANTANA


poucos dias atrás ouvindo o jornal da TV Bahia, pela manhã, tomei conhecimento do fato de ter um médico cubano em Feira de Santana receitado uma dose excessiva de um medicamento para uma criança. Pensei comigo, está esse médico dando motivos para os inimigos do programa Mais Médicos do governo federal. Pensei comigo desta forma acreditando na veracidade da notícia. Foi feita a devida apuração. Constatado indubitavelmente que o médico não errara na dosagem. Mas o resultado final da questão não teve divulgação por parte daquele órgão de imprensa. É assim que age a grande imprensa. O destaque da notícia de um fato é grande, sua negação ou justificativa é imperceptível, quando não simplesmente omitido.

Vejamos, pois, o que efetivamente ocorreu, da matéria abaixo retirada do Blog de Luís Nassif (infelizmente, não pude inserir as imagens. E vejamos como a população local tem verdadeira admiração pelo cubano.


Isoel Goméz Molina retornou ao trabalho em Feira de Santana, na Bahia. Ele foi afastado após denúncia que apontou prescrição 'errada' a criança.

O médico cubano Isoel Goméz Molina, que foi afastado por alguns dias das atividades em um posto de saúde em Feira de Santana, na Bahia, por suspeita de receitar uma dose excessiva de remédio a uma criança, retornou ao trabalho na manhã desta segunda-feira (25).

O médico foi recebido com alegria pelos moradores, que fizeram cartazes e desejaram boas-vindas no retorno dele ao trabalho. Antes da chegada do estrangeiro, os moradores fizeram uma oração. Eles se reuniram em frente ao posto de saúde do Conjunto Viveiros, onde organizaram recepção calorosa para o cubano.

Moradores colocaram cartazes com mensagens de incentivo para o médico estrangeiro
(Foto: Paulo José/Acorda Cidade)

Isoel Goméz Molina havia receitado 40 gotas de dipirona a uma criança, o que gerou confusão porque poderia representar uma dos excessiva. No entanto, uma comissão avaliou que as 40 gotas indicadas na receita não eram para ser ministradas em dose única, mas divididas em quatro vezes, a cada seis horas, como constava na receita, e como foi explicado pelo médico à mãe da paciente.

O especialista chegou a ser denunciado na Câmara de Vereadores de Feira de Santana, cidade localizada a 100 km de Salvador, mas a própria mãe da menina defendeu o médico, que foi avaliado por uma comissão formada por representantes do Ministério da Saúde, do Programa Mais Médicos e da Secretaria Municipal de Saúde. Os membros da comissão concluíram que não houve erro médico.

Moradores e pacientes fizeram oração antes da chegada do médico (Foto: Paulo José/Acorda Cidade)

Mobilização

Na sexta-feira (22), houve comemoração no Posto de Saúde da Família da comunidade de Viveiros. Colegas do médico cubano comemoraram a decisão da Secretaria de Saúde do Município, que determinou a volta dele nesta segunda-feira.

"Ele é um médico que chegou e que nós adotamos pelo carisma que ele tem, pela bondade que ele apresentou com a gente e pela presteza em não atender de cara feia", disse Marisa Alencar, enfermeira da unidade e colega de trabalho do médico.

Os moradores da comunidade entregaram um abaixo-assinado na Secretaria de Saúde com mais de 200 asinaturas em defesa do médico cubano.

"Eu quero o médico de volta porque ele atendeu a minha criança super bem, um médico ótimo, porém aqui no Viveiro nunca passou um médico como esse, mesmo não sendo brasileiro. Eu quero o médico de volta", disse uma moradora da comunidade.

Investigação

De acordo com a nota divulgada pela Prefeitura de Feira de Santana, a comissão concluiu que não houve erro no procedimento adotado pelo médico cubano. Segundo a gestão municipal, o médico Washington Abreu, coordenador estadual do Programa Mais Médicos, afirmou que a dosagem indicada pelo médico cubano estava correta. Segundo a nota, o coordenador explicou que "as 40 gotas indicadas na receita não eram para ser ministradas em dose única, mas divididas em quatro vezes, a cada seis horas, como consta na receita, desde que a criança sentisse dor ou apresentasse um quadro febril".

A Secom informou ainda que o médico explicou com detalhes à mãe da criança como administrar a medicação e que onde ele trabalhou anteriormente é comum receitar a medicação da maneira que fez, e não fracionada, como é no Brasil. Segundo Washington Abreu, os médicos do Programa Mais Médicos no estado passarão por reforço no treinamento da prescrição dos medicamentos da atenção básica. Em nota, a Secom informou que as declarações da mãe da criança dadas à imprensa pesaram na decisão de reintegrar o médico à equipe do programa.

Receita indicava 40 gotas de dipirona (Foto: Reprodução / TV Bahia)

Mãe defende médico

A diarista Gilmara Santos, que levou o filho até um posto de saúde da cidade de Feira de Santana, distante cerca de 100 km de Salvador, afirmou que o atendimento foi perfeito.

"Ele me atendeu muito bem. Ele tratou meu filho super bem, porque tem médico que nem olha na cara da mãe e nem da criança. Ele me explicou direitinho como dar o remédio, disse ainda que a quantidade de gotas é definida a partir do peso da criança. Ele prescreveu 40 gotas, mas foi apenas um erro. Ele me disse exatamente o que eu deveria fazer, que era para dar apenas 10 gotas", disse.

Ela contou que toda essa história veio à tona quando ela voltou ao Posto de Saúde para que o filho fosse atendido pelo médico. "Quando eu voltei, uma outra médica me atendeu. Como eu ando em mãos com todas as receitas que passam para meu filho, eu cheguei a mostrar para essa médica, que chamou outra colega. Aí elas tiraram uma foto e postaram na internet. Foi aí que o vereador ficou sabendo e tudo isso começou", explicou a diarista. "Acho que isso é uma postura antiética da médica", disse a diarista.

O médico cubano atendia no município baiano há uma semana. Ele integra a lista de profissionais do Mais Médicos, do governo federal. Gilmara Santos disse que a denúncia foi feita pelo próprio vereador. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, o afastamento do profissional foi uma medida provisória, para a denúncia ser apurada.

Em contato com o G1, a médica pediatra Márcia Porto, que atende em clínicas da capital baiana, informou que a dose receitada é "completamente exagerada". "Essa dose é quatro vezes maior do que a indicada. Para uma criança de 10 kg, o ideal era ter receitado 10 gotas. 40 gotas é dose para adulto. Caso a criança tivesse tomado essa dose excessiva, ela podertia ter tido uma hipotermia e uma hipertensão arterial", relatou. De acordo com a médica, hipotermia é quando acontece a baixa da temperatura natural do corpo.

Dos 12 profissionais do programa na cidade, 11 são estrangeiros. Por conta disso, a Secretaria de Saúde Municipal informou que os médicos passarão por novo treinamento no sábado (23) e no domingo (24). O médico não foi encontrado para comentar o caso.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

A GRANDE DIFERENÇA ENTRE EFEAGACÊ E LULA. COMO A IMPRENSA TRATOU O 1º EX E TRATA O 2º EX.


Nestes tempos de justiçamento pelo supremo e de “caçada às bruxas” por parte da grande imprensa, extraio do Blog de Luis Nassif o artigo abaixo escrito pela jornalista Cynara Menezes em que compara os dois ex-presidentes no que respeita ao mais elementar comportamento republicano de mandatário de uma nação. Acompanhemos, pois.  
Sugerido por Támara Baranov

Do Socialista Morena


Por Cynara Menezes

O que é mais vergonhoso para um presidente da República? Ter as ações de seu governo investigadas e os responsáveis, punidos, ou varrer tudo para debaixo do tapete? Eis a diferença entre Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva: durante o governo do primeiro, nenhuma denúncia –e foram muitas– foi investigada; ninguém foi punido. O segundo está tendo que cortar agora na própria carne por seus erros e de seu governo simplesmente porque deu autonomia aos órgãos de investigação, como a Polícia Federal e o Ministério Público. O que é mais republicano? Descobrir malfeitos ou encobri-los?

FHC, durante os oito anos de mandato, foi beneficiado, sim, ao contrário de Lula, pelo olhar condescendente dos órgãos públicos investigadores. Seu procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, era conhecido pela alcunha vexaminosa de “engavetador-geral da República”. O caso mais gritante de corrupção do governo FHC, em tudo similar ao “mensalão”, a compra de votos para a emenda da reeleição, nunca chegou ao Supremo Tribunal Federal nem seus responsáveis foram punidos porque o procurador-geral simplesmente arquivou o caso. Arquivou! Um escândalo.

Durante a sabatina de recondução de Brindeiro ao cargo, em 2001, vários parlamentares questionaram as atitudes do engavetador, ops, procurador. A senadora Heloísa Helena, ainda no PT, citou um levantamento do próprio MP segundo o qual havia mais de 4 mil processos parados no gabinete do procurador-geral. Brindeiro foi questionado sobre o fato de ter sido preterido pelos colegas numa eleição feita para indicar ao presidente FHC quem deveria ser o procurador-geral da República.

Lula, não. Atendeu ao pedido dos procuradores de nomear Claudio Fonteles, primeiro colocado na lista tríplice feita pela classe, em 2003, e em 2005, ao escolher Antonio Fernando de Souza, autor da denúncia do mensalão. Detalhe: em 2007, mesmo após o procurador-geral fazer a denúncia, Lula reconduziu-o ao cargo. Na época, o presidente lembrou que escolheu procuradores nomeados por seus pares, e garantiu a Antonio Fernando: “Você pode ser chamado por mim para tomar café, mas nunca será procurado pelo presidente da República para pedir que engavete um processo contra quem quer que seja neste país.” E assim foi.

Privatizações, Proer, Sivam… Pesquisem na internet. Nada, nenhum escândalo do governo FHC foi investigado. Nenhum. O pior: após o seu governo, o ex-presidente passou a ser tratado pela imprensa com condescendência tal que nenhum jornalista lhe faz perguntas sobre a impunidade em seu governo. Novamente, pesquisem na internet: encontrem alguma entrevista em que FHC foi confrontado com o fato de a compra de votos à reeleição ter sido engavetada por seu procurador-geral. Depois pesquisem quantas vezes Lula teve de ouvir perguntas sobre o “mensalão”. FHC, exatamente como Lula, disse que “não sabia” da compra de votos para a reeleição. Alguém questiona o príncipe?

Esta semana, o ministro Gilberto Carvalho, secretário-geral da presidência, colocou o dedo na ferida: “Os órgãos todos de vigilância e fiscalização estão autorizados e com toda liberdade garantida pelo governo. Eu quero insistir nisso, não é uma autonomia que nasceu do nada, porque antes não havia essa autonomia, nos governos Fernando Henrique não havia autonomia, agora há autonomia, inclusive quando cortam na nossa própria carne”, disse Carvalho. É verdade.

Imediatamente FHC foi acionado pelos jornais para rebater o ministro. “Tenho 81 anos, mas tenho memória”, disse o ex-presidente. Nenhum jornalista foi capaz de refrescar suas lembranças seletivas e falar do “engavetador-geral” e da compra de votos à reeleição. Pois eu refresco: nunca antes neste País se investigou tanto e com tanta independência. A ponto de o ministro da Justiça ser “acusado” de não ter sido informado da operação da PF que revirou a vida de uma mulher íntima do ex-presidente Lula. Imagina se isso iria acontecer na época de FHC e do seu engavetador-geral.

O erro do PT foi, fazendo diferente, agir igual.

domingo, 20 de outubro de 2013

PRÊMIO DO BOLSA FAMÍLIA É OMITIDO PELO JORNAL NACIONAL DA GLOBO


É simplesmente vergonhoso o tratamento que a grande imprensa, capitaneada pela rede globo, dedica à divulgação de notícias que dizem respeito a fatos que comprovam o acerto da política do Governo Federal. Para ela, a grande imprensa, somente notícias que possam desacreditar, desestabilizar o governo legitimamente eleito devem ser divulgadas à exaustão. Segundo a Rede Brasil Atual, “O principal telejornal da TV Globo está demonstrando um parcialismo político e antipopular cada vez mais despudorado. Na edição de terça-feira (15), não mostrou a principal notícia sobre mais um êxito de uma política pública que combate um dos problemas históricos do Brasil, a pobreza”. Não é que, conforme assunto da postagem anterior do nosso Blog, o bem sucedido programa do Governo Federal, o Bolsa Família acaba de ganhar um prêmio que equivale “a vencer uma Copa do Mundo na erradicação da pobreza” e, como se vê, nada foi dito no principal jornal de repercussão nacional.

O expurgo da notícia pelo principal telejornal do país não chega a ser surpresa para quem acompanha a linha editorial das organizações Globo. Em sintonia com setores da oposição tucana que desdenha do programa social, o jornal O Globo já publicou diversos artigos e editoriais contrários ao Bolsa Família.

Nos telejornais, em geral, o programa só merece espaço no noticiário quando ocorre algum problema, como na recente onda de boatos mentirosos sobre o seu fim, que levou a uma corrida dos beneficiários para fazerem saques antecipados. Na TV há mais sobriedade nas críticas do que no jornal impresso, mas não faltam casos de dar voz excessiva aos críticos, enquanto censura opiniões favoráveis e premiações importantes como esta”.

Não é à toa que grande parte da sociedade, pautada por essa imprensa, vive a destilar ódio ao governo Dilma e ao ex-presidente Lula.  

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

SOBRE O BOLSA FAMÍLIA


Há uma postagem do Blog de Luis Nassif que sentencia, em seu título. Cada R$ 1 (um real) investido no Programa Bolsa Família reflete em R$ 1,78 (um real e setenta e oito centavos) na composição do PIB do país, baseado num estudo do IPEA: “Ou seja, nessas condições, um gasto adicional de 1% do PIB no programa, que privilegia as famílias mais pobres, gera aumento de 1,78% na atividade econômica“ Pergunta-se qual investimento remunera desta forma o capital? Portanto, somente isto enterraria as teses das elites que são contrárias ao bem sucedido programa. Mas os benefícios não param por ai: “o programa reduziu em 28% a extrema pobreza no país, entre 2002 e 2012. "Sem a renda do Programa Bolsa Família, a taxa de extrema pobreza em 2012 seria 4,9%, ou seja, 36% maior que a observada com o programa”. Somente uma redução da pobreza tão significativa justificaria por si só o programa. No estudo comprova-se que “o programa contribuiu para aumentar a freqüência escolar e queda da repetência, da mortalidade em crianças menores de cinco anos e da prevalência de baixo peso no nascimento, além de crescimento na proporção de crianças com vacinas nas idades corretas”. E o que é de se ressaltar para fazer calar vozes do descrédito, da incompreensão, do apocalipse: “Os estudos não indicam estímulo à informalidade e à fecundidade Para a ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, os dados derrubam todos os mitos sobre o Bolsa Família, como o da preguiça e o da informalidade, e comprova estatisticamente os seus efeitos positivos, e rebate as críticas de assistencialismo e gastos elevados. De acordo com a ministra, esses efeitos não se deram apenas em relação à distribuição de renda, mas também na qualidade de vida das famílias beneficiadas pelo programa, em questões como educação e redução da mortalidade infantil“. O Bolsa Família tem a sua importância reconhecida internacionalmente com a premiação recebida: “1º Prêmio Award for Outstanding Achievement in Social Security, concedido pela Associação Internacional de Seguridade Social, na Suíça... A organização tem 330 filiadas em 157 países. A cerimônia oficial de premiação será em novembro, no Catar”.

Atualmente, o programa beneficia cerca de 50 milhões de pessoas e o orçamento previsto para este é de 24 milhões de reais, segundo a postagem.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

OS EMBARGOS INFRINGENTES, "OS MALES IMPOSTOS PELO PT AO PAÍS"


Vocês já viram o mal que o PT fez nesses dez anos?!”. Uma pergunta carregada da mais alta indignação. Prosseguindo, “Ora, me veem agora com embargos. Somente assim eu conheceria embargos”. Este comentário, eu ouvi (calado) de uma pessoa de nível superior, e de superior hierarquia  em seu setor (militar), que deveria ter noções de Direito e assentido por todos os demais da roda de conversa. Ele, ao que  parece, não sabe que o matador da missionária americana está em seu quarto julgamento, decorrente de apelações. Um criminoso, homicida, pode gozar de mais de três apelações, o equivalente aos embargos, a grosso modo; mas um político que não matou pessoa alguma não pode usar de apelação, mesmo não tendo sido condenado por unanimidade. Permito-me não entrar em detalhes. Pois bem, este é o retrato de uma situação que se agiganta no seio de uma classe, ao meu ver, média-média e imagino o que não poderá estar ocorrendo em estamentos superiores, no seio das elites.

Em verdade, eu mantenho-me calado porque já cansei de reagir a essas coisas e tenho comigo que o próprio PT e, acima de tudo, o governo, não reagem e fingem aceitar críticas por causas democráticas, quando os inimigos nada têm de democráticos. Aproveitam-se de concessões a empresas jornalísticas de canais de rádio e TV, utilizando-se de um bem público, para disseminar, massificantemente, mentiras no intuito da desmoralização, do enfraquecimento, da queda de governo legitimamente eleito, como já ocorreu em 1954 com Getúlio Vargas, levando-o ao suicídio; a tentativa frustada com o governo JK, ao que me parece em 1958; em 1964 com o golpe militar que perdurou por duas décadas.

Mas são reações da “cassa grande” quando observa que a “sensala” está se organizando, está conseguindo se aproximar “das cercas que beira os quintais” da casa grande. E este pressentimento e suas reações acontecem porque projetos de cunho social têm surtido efeitos. Estão aí, a redução da miséria, o PRONATEC, O PROUNI, as cotas raciais, a inclusão social de milhões de desgarrados,- “a renda dos 10% mais pobres cresceu 14%” a valorização do salário mínimo. A respeito, retiro ainda as pérolas, a seguir, da coluna de Benjamin Steinbruch (sobrenome bem comum a brasileiro, não?), “Opinião Econômica”: “os ganhos do salário mínimo, a despeito dos seus impactos nas contas da Previdência, precisam ser preservados”, ótimo, mas note-se o “a despeito” e vem então com “aumento real do salário mínimo elevou custo do trabalho, mas colaborou para melhora do IDH”. Façamos uma reflexão sobre a opinião do colunista de nome esquisito. Não importam os ganhos do salário mínimo, o mais importante nisto são os impactos nas contas da Previdência! Os pobres aposentados de salário mínimo, especialmente, tiveram ganho. Ganho que move toda uma economia de milhares de cidades pequenas, arrastada por longos anos, do interior do país. Mas e “os impactos na Previdência”? Por eles, pela teoria liberal, ou neoliberal o controle fiscal está acima de tudo mesmo que acima da preocupação com os mais desvalidos, os mais miseráveis. E diz ainda que o aumento real do salário mínimo elevou custo do trabalho, mas colaborou para melhora do IDH. Ora, elevou custo do trabalho, isto é péssimo para eles. Quem oferta o trabalho? E quem, de certa forma, perderá com a elevação do custo? Eles mesmos, que ao longo dos séculos e séculos vêm enchendo as burras, descaradamente.

E tem mais, dentre os projetos sociais está o mais recente e que omiti antes e que é motivo de revolta de uma parte da sociedade, o MAIS MÉDICOS. No jornal A TARDE, de 08/10/2013, Luis Cláudio Correia, livre docente em Cardiologia, escreve: “Diabetes era definido como glicemia de 140 mg/dl e hoje se considera que glicemia de 100 ml/dl não é normal [isso] está mais para medicina baseada em fantasia um lucrativa fantasia”. O livre docente bate na ferida: “o conceito de prediabetes...tem sido inadequadamente utilizado para justificar o uso de medicações sem base científica suficiente”. Pois é a noção da elitização da medicina, com as concentrações absurdas de médicos em cidades de grande porte; o conceito de especialização: cardiologia, dermatologia...; o relacionamento imoral de médicos com os grandes laboratórios e as grandes empresas de produção de imagens e, enfim, o descrédito pela clínica geral, pelo atendimento clínico, o atendimento a “olho nu”, coisa que é bem comum entre os médicos cubanos.

2014 vem aí. Já antevejo uma guerra onde as elites irão usar todas as forças imagináveis, visíveis e “ocultas” como adjetivou Jânio Quadros, com o objetivo de interromper a caminhada do país na direção de uma sociedade mais justa.

sábado, 21 de setembro de 2013

SOBRE OS "EMBARGOS INFRINGENTES"


Não vou me aventurar a opinar sobre matéria de Direito, principalmente quando se trata do Supremo Tribunal Federal. Mas diante do que tenho ouvido contra o voto do Ministro Celso de Melo, que compôs a maioria a favor dos “embargos infringentes” é que me leva a transcrever a entrevista fornecida pelo Conselheiro Nacional do M.P.F, Luiz Morteira, publicada no Blog de Luiz Azenha (Viomundo). Vamos, portanto, ler o que diz um professor de Direito Constitucional, diante de reações violentas de pessoas pautadas pela grande imprensa.

por Conceição Lemes

Luiz Moreira é professor de Direito Constitucional e Conselheiro Nacional do Ministério Público (CNMP), indicado pela Câmara dos Deputados.

Assim como os réus da Ação Penal 470, mais uma vítima do escrachado partidarismo político da Procuradoria-Geral da República (PGR) nos últimos oito anos.

Em 2012, teve o seu nome aprovado por todos os líderes da Câmara dos Deputados para um segundo mandato como conselheiro do CNMP.

O então procurador-geral da República, Roberto Gurgel, fez de tudo para impedir a sua aprovação. Até telefonar para parlamentares.

Seus “delitos”: criticar os desmandos corporativos do Ministério Público e cobrar dos seus integrantes o mínimo de isenção pública.

Depois de seis meses de absurda campanha difamatória e perseguição implacável dentro do próprio CNMP, a verdade prevaleceu, Moreira ganhou.

Será isso ainda possível para alguns réus da AP 470, o chamado mensalão?

“Nem o Ministério Público Federal nem o Supremo Tribunal conseguiram provar as acusações”, afirma o professor Luiz Moreira. ”Foi um julgamento viciado, absolutamente de exceção.”

“O método de trabalho proposto pelo ministro-relator trouxe claro prejuízo aos direitos fundamentais do acusados, gerando consequências danosas às liberdades no Brasil e ao primado dos direitos fundamentais”, denuncia. “Além disso, ao definir as penas, os magistrados se pautaram por critérios ideológicos e não por razões jurídicas. Assim, em vez de avançarmos na garantia dos direitos fundamentais, regredimos com o julgamento da Ação Penal 470.”

“É importante que se tenha a clareza de que o Supremo Tribunal Federal legitimou todas as ditaduras brasileiras. Seja a ditadura Vargas, seja a ditadura militar”, observa. ”Tanto que todos os ministros contrários à ditadura, como o ministro Evandro Lins e Silva, foram aposentados compulsoriamente. E os demais ministros, em vez de serem solidários a eles, foram solidários ao regime militar.”

Segue a nossa entrevista na íntegra. Conversei com o professor Luiz Moreira antes e depois do voto do ministro Celso de Mello sobre os embargos infringentes.

Viomundo – Em seu voto sobre os embargos infringentes, o ministro Celso de Mello disse que “os julgamentos do Supremo Tribunal Federal, para que sejam imparciais, isentos e independentes, não podem expor-se a pressões externas, como aquelas resultantes do clamor popular e das pressões das multidões, sob pena de completa subversão do regime constitucional dos direitos e das garantias fundamentais”. Isso sinaliza mudança no julgamento do mensalão?

Luiz Moreira – Deveria significar, mas receio que não vá acontecer. Os equívocos cometidos no julgamento da Ação Penal 470 são tantos que subverteram o papel desempenhado pelo Judiciário no Ocidente.

Viomundo – Também em seu voto Celso de Mello explicou de modo cristalino, sem deixar qualquer dúvida, a legalidade dos votos infringentes. Por que Joaquim Barbosa, Gilmar Mendes, Marco Aurélio, Luiz Fux e Cármen Lúcia fizeram parecer que era uma questão extremamente complexa?

Luiz Moreira — É uma questão tranquila, pacífica, como bem mostrou o ministro Celso de Mello. Só se tornou controversa porque o julgamento da Ação Penal 470 é absolutamente midiático.

A tramitação de matérias penais que se iniciam nos Tribunais Superiores é regida pela lei nº 8038, de 1990. Ela institui normas procedimentais para processos perante o Superior Tribunal de Justiça e o Supremo Tribunal Federal.

O que a lei 8098/90 diz no seu artigo 12?

Finda a instrução, o Tribunal procederá ao julgamento, na forma determinada pelo regimento interno (Lei nº 8.038, de 28 de maio de 1990 ). Ou seja, a lei 8038/90 confere aos tribunais superiores o poder de regulamentação.

Portanto, em ações originárias nos tribunais superiores, a admissão dos embargos será regida pelo regimento do tribunal. Ela remete a cada tribunal a responsabilidade de resolver a questão.

E o que diz o regimento do Supremo Tribunal Federal?

No seu artigo 333, ele diz que cabem embargos infringentes em ações penais, desde que existam quatro votos pela absolvição. Então, essa matéria do ponto de vista jurídico é pacificada.

Além disso, em 1998, apreciando projeto enviado pelo governo FHC, que revogava esse tipo de recurso, a Câmara dos Deputados entendeu que os embargos infringentes deveriam ser mantidos, para preservar os direitos fundamentais.

Qual é a pressuposição do ordenamento jurídico no Brasil? É que o Supremo Tribunal Federal é o tribunal que garante os direitos fundamentais.

E garantir os direitos fundamentais – diz o regimento do Supremo — significa que, se em uma ação penal houver quatro votos pela absolvição, esses réus fazem jus a um novo julgamento. Isso ocorre para que se forme uma maioria consistente, de modo que o Tribunal se posicione inequivocamente pela condenação dos réus.

Viomundo – No Direito, existe um princípio básico: “o réu é inocente até que se prove o contrário”. No julgamento da AP 470, todos os réus já foram considerados culpados de cara, sem provas. E, aí?

Luiz Moreira — Na estrutura ocidental, nós temos as instituições majoritárias, o poder político. São essas instituições que aferem a vontade da população. Os desejos da população são materializados pelas políticas públicas elaboradas pelo Executivo e pelas leis do Legislativo.

A função mais importante do Judiciário não é decidir conforme a opinião publicada e as pressões dos lobbies. O papel do Judiciário é ter uma função garantista, decidindo à revelia das pressões.

Qual o papel do Judiciário quando analisa ações penais? No mínimo, afere, exige comprovação das teses levantadas pela acusação, se posicionando ao lado dos acusados.

Viomundo – Em que sentido?

Luiz Moreira – Baseado no primado da presunção da inocência, ou seja, todo réu é considerado inocente até que o acusador demonstre o contrário.

Por isso, manda a tradição humanista do ocidente que se proceda à absolvição dos réus se houver dúvidas sobre a sua culpabilidade, se não estiverem cabalmente comprovadas as acusações.

Agora o que é estranho, muito questionável nesse julgamento, é que o Supremo Tribunal ter assumido posição idêntica à da acusação. Ou seja, o Ministério Público exigir que os réus comprovassem a sua inocência, quando cabe ao acusador, no caso o próprio Ministério Público, comprovar as acusações que fez.

Viomundo – Mas nem o Ministério Público nem o STF comprovaram as acusações.

Luiz Moreira – Isso mesmo. É que o STF transformou a Ação Penal 470 num silogismo, devido ao método que utilizou no julgamento.

O método utilizado gera uma vinculação, uma ligação do antecedente ao consequente. Assim, se você decidiu anteriormente de um modo, essa decisão obriga a uma determinada conclusão.

Na Ação Penal 470, a maioria dos ministros do STF se utilizou de estrutura silogística num julgamento em que a estrutura é radicalmente diferente de uma estrutura lógica, porque a estrutura lógica leva a conclusões.

Ocorre que numa ação penal essas conclusões só podem ser tomadas se se comprovarem as acusações. Portanto, é questão de fato não sujeita a exercícios argumentativos, como fez o STF.

Diferentemente de um silogismo, de uma conclusão lógica, em matéria penal as dúvidas não são resolvidas argumentativamente. E as conclusões só podem ser tomadas, não por dedução, como ocorre nos livros de ficção, mas a partir das provas produzidas. O que não aconteceu nesse julgamento, que foi absolutamente de exceção.

Outro exemplo. O ministro Lewandowski, quando se iniciou a fase dos embargos declaratórios, demonstrou de forma muito clara, muito precisa, que as penas conferidas aos réus extrapolam o que usualmente se faz no Supremo.

São penas que foram estabelecidas com o claro propósito de se evitar a prescrição. Então, as penas não foram estabelecidas segundo critérios jurídicos. Mas se chegaram a elas a partir de uma postura ideológica pela condenação de A ou de B. E isso torna o julgamento viciado.

Viomundo – No que exatamente o julgamento da AP 470 difere de outros julgamentos no STF?

Luiz Moreira — Primeiro, pelo método. O método trouxe claro prejuízo aos direitos fundamentais do acusados, gerando consequências danosas às liberdades no Brasil e ao primado dos direitos fundamentais.

Segundo, esse julgamento estabeleceu que, ao definir a pena, os magistrados se pautaram por critérios ideológicos e não por razões jurídicas.

Tanto assim o é que, como demonstrou o ministro Lewandowski, houve aumento de 60% nas penas em relação ao que usualmente se faz no Supremo – tanto nas câmaras quanto no plenário.

Tanto que o ministro Teori Zavascki disse que as penas da Ação Penal 470 são claramente exacerbadas, ou seja, aos réus dessa ação se aplicaram penas mais severas do que em outras ações penais.

E é o que ocorreu na questão dos embargos infringentes. O regimento do Supremo é de 1980. E a lei 8038/90, de dez anos depois. E o Supremo Tribunal Federal já fez 48 emendas no seu regimento.

Em duas emendas, a 36 e a47, tratou especificamente dos embargos infringentes. Em ambas o STF não apenas manteve os embargos, como especificou melhor em que condições eles cabem.

A emenda regimental 47, a última que tratou dos embargos infringentes, é de fevereiro de 2012. Já eram ministros do Supremo, Celso Mello, Gilmar Mendes, Marco Aurélio, Joaquim Barbosa, Carmen Lúcia, Ricardo Lewandowski e Dias Tofolli.

E esses ministros sem nenhum problema, sem nenhum questionamento, validaram a existência dos embargos infringentes. Por que só agora houve questionamento aos embargos infringentes?

Viomundo — Eu imaginava que para se condenar uma pessoa eram necessárias provas. Só que quanto mais eu faço reportagens sobre a AP 470, como o caso do Fundo de Incentivo Visanet, constato que não foi assim. Em saúde/medicina, que é principalmente a minha área, você tem de se pautar pelas evidências científicas naquele momento. Guardadas as proporções, eu supunha que no Direito era mesma coisa…

Luís Moreira — Era, era.

Viomundo — Não é mais no Direito ou na AP 470?

Luiz Moreira – Na AP 470. O problemático da denúncia da Procuradoria Geral da República ao Supremo Federal é que ela é uma peça fictícia . Ela assume ares de texto literário. Ela vai gerando dúvidas, colocando questões que são verossimilhantes. Parte da suposição de que aquilo é provável que aconteça, que tenha acontecido.

Viomundo – Verossimilhança, segundo o Dicionário do Houaiss, é “ligação, nexo, harmonia entre os fatos, ideias, etc, numa obra literária, ainda que os elementos imaginosos ou fantasiosos sejam determinantes no texto”.

Foi assim que foi feita a denúncia do ex-procurador-geral Antônio Fernando de Souza e aceita pelo ministro Joaquim Barbosa?

Luiz Moreira – Isso mesmo! A denúncia da Procuradoria Geral da República ao Supremo Tribunal se utiliza de um método literário. Um argumento meramente ficcional.

A estrutura da argumentação utilizada é do seguinte tipo: é plausível que isso tenha acontecido?; é plausível que as pessoas não tenham conhecimento disso ou daquilo?

Como consequência vai se gerando uma série de dúvidas em torno daquele assunto conforme o argumento verossimilhante. É possível que o ministro da Casa Civil soubesse. Não é possível que fulano não tenha tomado conhecimento. Não é possível que isso não tenha ocorrido.

Então a argumentação é toda baseada nisso. Como se fosse uma peça de ficção literária.

Esse estilo não encontra guarida numa ação penal. Esse tipo argumentação é plausível na esfera cível, quando vai se designar os tipos de culpa, para que fique caracterizada a responsabilização civil, isto é, por negligência, imperícia, imprudência.

Em matéria penal não se discute culpa. Discute-se dolo. A diferença técnica é essa.

Para se exigir condenar José Dirceu, por exemplo, não há que se verificar se é possível que ele soubesse. Exigem-se provas que demonstrem cabalmente a participação dele no crime apontado. Para ele e para todos os demais réus da AP 470.

Em matéria penal é preciso demonstrar cabalmente todas as acusações. Mas, como a AP 470 foi feita como se fosse uma peça literária, levou o julgamento ao vício, isto é, o julgamento é nulo.

Viomundo – Por que o julgamento é viciado?

Luiz Moreira – Primeiro: pela insuficiência na atuação do Ministério Público Federal. O Ministério Público Federal não comprovou as acusações que fez.

Segundo: porque o Judiciário não pode se pautar pelo mesmo método do Ministério Público, que é o acusador.Na tradição jurídica ocidental, se exige a estrita comprovação do alegado. A ficção é apenas literária, não tem valor jurídico.

Viomundo – Mas o ministro-relator assumiu essa peça de ficção literária como se fosse verdadeira?

Luiz Moreira – Assumiu. E o método de trabalho proposto por ele é um método que favorece a acusação em detrimento da defesa.

Viomundo — Quer dizer que o Supremo acabou sendo conivente com esse processo todo?

Luiz Moreira — O Supremo Federal para mim hoje tem dois grupos, duas frentes.

Uma frente conservadora liderada por Joaquim Barbosa, na qual se inserem Marco Aurélio, Gilmar Mendes e Luiz Fux.

E uma frente liderada pelo ministro Lewandowski, que é uma frente garantista, que imagina o Supremo como o tribunal dos direitos e das garantias constitucionais.

O grande papel desempenhado pelo ministro Lewandowski, na Ação Penal 470 — e que, na minha opinião, ainda não foi devidamente valorizado – é o de defesa dos direitos do cidadão ante à ação do Estado.

Viomundo – Pelo contrário. O ministro Lewandowski foi achincalhado pelos colegas e pela mídia…

Luiz Moreira – Ele foi achincalhado exatamente por defender os direitos fundamentais de quem quer que seja.

Em qualquer país civilizado, o Judiciário não se confunde com o Ministério Público, não se confunde com a Polícia. E também não se confunde com as estruturas majoritárias, que decidem conforme a pressão ou os interesses da maioria.

O Supremo Tribunal decide pelos direitos fundamentais. Então há de haver por parte do Judiciário um afastamento da pressão popular. Do linchamento, portanto.

E o ministro Lewandowski assumiu para ele o papel de conferir ao Supremo Tribunal Federal a missão de se desincumbir de uma tarefa judiciária estrita, que é julgar conforme as provas. O ministro Lewandowski é o juiz dos direitos fundamentais.

Viomundo –Em alguns momentos desse julgamento eu me lembrei da ditadura civil-militar no Brasil…

Luiz Moreira – Ditadura que foi convalidada pelo Supremo Tribunal Federal. A tradição libertária do Supremo é muito recente. É importante que se tenha a clareza de que o Supremo Tribunal Federal legitimou todas as ditaduras brasileiras. Seja a ditadura Vargas, seja a ditadura militar.

O Supremo sempre foi vacilante no que diz respeito à tutela dos direitos fundamentais, em garantir os direitos humanos.

Você vê que na ditadura militar os habeas corpus eram negados. E o Supremo dava feição jurídica ao que a ditadura militar fazia em termos de violação aos direitos. Tanto que a Olga Benário, por exemplo, foi deportada com ordem judicial.

Viomundo – Eu cheguei a acompanhar alguns depoimentos na Auditoria Militar, na Brigadeiro Luís Antônio. A defesa não tinha direito a nada, os presos muito menos ainda. O pacote já vinha pronto, e acabou. Nesse sentido, em vez de avançar, a gente regrediu com a AP 470.

Luiz Moreira – Você está certa. Regredimos, sim.

Hoje, a grande disputa no Supremo é entre uma frente defensora dos direitos fundamentais e uma frente conservadora, que se baseia no discurso da lei e da ordem, na tradição do Bush, por exemplo.Uma tradição que o tribunal não se esqueceu da época da ditadura.

O ministro Lewandowski, com a sua postura, inaugura essa fase de disputa. Ele fixa a exigência de observância dos preceitos constitucionais.

A Constituição de 1988 inaugura no Brasil a era dos direitos fundamentais. Defesa dos direitos fundamentais que o Supremo Tribunal Federal sempre se negou a fazer. Todos os ministros contrários à ditadura, como o ministro Evandro Lins e Silva, foram aposentados compulsoriamente. E os demais ministros, em vez de serem solidários a eles, foram solidários ao regime militar.

Por isso, insisto: o papel do Lewandowski é histórico, porque ele estabelece que o papel do STF é garantista, como tribunal que garante os direitos fundamentais.

Neste julgamento, o papel do ministro Lewandowski transcende os limites da Ação Penal 470, estabelecendo uma frente de direitos. E as nomeações do ministro Teori Zavascki, que é um ministro altamente técnico, e do ministro Roberto Barroso, fortalecem a tese do tribunal como tribunal dos direitos fundamentais.

Viomundo — E agora, professor?

Luís Moreira – O nosso sistema jurídico está precisando de uma nova engenharia constitucional. Não é possível numa democracia que haja sobreposição do Judiciário sobre os poderes políticos – Legislativo e Executivo.

É preciso que nós achemos uma saída democrática para o impasse institucional em que chegamos. Nós estamos vivendo num impasse. A supremacia judicial não se coaduna com o regime democrático.

Então, precisamos de uma saída. Dois bons modelos são o inglês e o canadense. Lá, em certos tipos de manifestações judiciais – por exemplo, quando avançam sobre políticas públicas emanadas do executivo e algumas normas legislativas — a discussão volta para o parlamento e a discussão é feita pelo senado.

Do jeito que está não dá para continuar. Nós vamos gerando impasses, próprios do mundo moderno, que não são passíveis de resolução pelo Direito. Problemas que só encontram solução com a política