sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

UMA LUZ NO FIM DO TÚNEL


Mais uma prova de que os governos trabalhistas, no Brasil, estão no caminho certo, não obstante os múltiplos obstáculos que lhe impõem. Desta vez, é um exemplo que sai do estrito atendimento à fome de uma grande parcela da população. Trata-se de um exemplo que tem bússola apontada para um brilhante futuro para este país: é a EDUCAÇÃO. Vejamos o que preparou André Barrocal, na Carta Capital e que foi republicado no “Conversa Afiada”.


 

Jovem adia busca de trabalho e compensa estagnação do PIB. “Em 10 anos, teremos reflexos econômicos muito positivos”, diz o ministro da Educação, que dará lugar a Cid Gomes em 2015


por André Barrocal


Dados recentes mostram o Brasil com um baixo índice de diplomados entre 25 e 34 anos. Embora tenha quase dobrado para 15% desde 2004, é pouco perto, por exemplo, dos países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). Na geração seguinte, o quadro está relativamente melhor. Os universitários de 18 a 24 anos somam 16,5% da população total da faixa etária, segundo a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), um recorde nacional.


Os novos graduandos parecem mais propensos a dedicar-se só aos estudos, até porque o aumento da renda e o barateamento dos cursos nos últimos anos deram uma folga ao orçamento doméstico. A proporção atual de trabalhadores com 18 a 24 anos é das menores do século, de 60%, diz a Pnad.


A expansão do ensino superior e a redução do trabalho jovem estão entre as causas de um aparente paradoxo: a queda da taxa de desemprego em 2014, ano de estagnação econômica.


Em entrevista a CartaCapital, o ministro da Educação, Henrique Paim, que em 2015 dará lugar a Cid Gomes (Pros-CE), analisa este cenário e aponta o que considera sua principal consequência: “Temos uma outra perspectiva de país, de um país mais desenvolvido e uma mão de obra mais qualificada”.



CartaCapital: Segundo a Pnad, há mais jovens no ensino superior e uma proporção menor de jovens no mercado de trabalho. Por quê?

Henrique Paim: Tivemos um crescimento grande de matrículas no ensino superior nos últimos anos, praticamente dobramos de 2003 a 2013. Isso reflete políticas federais como o Prouni, o Fies e a expansão das universidades públicas, especialmente das federais. Aumentaram as oportunidades educacionais, o que certamente se reflete no interesse dos jovens de estudar mais. De 2003 a 2014, a população de 18 a 24 anos teve uma queda de 5%, mas na população economicamente ativa [PEA] a proporção do segmento caiu 23%. Essa queda acentuada na PEA começou em 2009, 2010. De 2010 a 2014, o número de jovens caiu 3%, enquanto na PEA caiu 16%. Por que chama a atenção a queda do desemprego, mesmo sem crescimento do PIB? Porque caiu a PEA na faixa etária de 18 a 24 anos.



CC: Que consequências essa situação terá para o País nos próximos anos?

Paim: Teremos uma ampliação da qualificação da mão de obra, o País necessita disso. Um conjunto significativo dessas novas vagas, tanto privadas quanto públicas, é voltada para cursos tecnológicos. Em 2011 tivemos uma mudança importante na trajetória do número de ingressantes no ensino superior. Os cursos da área tecnológica ultrapassaram cursos como Direito, uma novidade. O reflexo para a economia é muito positivo. Com uma mão de obra mais qualificada, vamos melhorar nossa produtividade no trabalho. No médio e longo prazos, teremos um incremento no valor agregado dos nossos produtos, o que vai permitir um maior crescimento de renda e de PIB.



CC: Quando essa massa de jovens universitários terá impacto na produtividade da economia?

Paim: Os resultados em educação são de médio e longo prazos. Para formar um jovem no ensino superior, levamos em torno de quatro anos e meio na graduação. Acredito que a partir dos nossos investimentos, da melhoria das condições de acesso ao ensino superior, teremos daqui 10 anos, 15 anos, resultados importantes. E vale lembrar que taxa de retorno na educação é muito elevada, de 9,5% em termos reais.



CC: Que taxa é essa?

Paim: É quanto o investimento em educação gera de retorno para o País. Uma taxa de retorno nominal de 12% em qualquer projeto já é elevada. De 9,5% em termos reais, é bem alta. Mas o que eu acho que deveríamos ressaltar também é o seguinte: houve uma mudança de imaginário dos jovens e das famílias brasileiras. Hoje, mais gente pode sonhar em ter um curso superior. Os brasileiros estão vendo que para avançar socialmente é preciso estudar mais, uma mudança de mentalidade que só ocorreu devido à ampliação das oportunidades proporcionada pelo governo. A partir do momento que o País muda a mentalidade, que as pessoas querem estudar mais, fazem um esforço maior, temos uma outra perspectiva de país, de um país mais desenvolvido, uma mão de obra mais qualificada. É um fenômeno importante que tem de ser registrado.



CC: Juntos, o Fies, o Prouni e a expansão das federais acrescentaram quantas vagas novas?

Paim: No caso das federais, nós triplicamos entre 2003 e 2013. Tínhamos 120 mil, hoje são 360 mil. Mas vaga não é um bom indicador. Quando eu trabalho com instituições privadas, nem todas as vagas aprovadas [no Prouni, no Fies] são utilizadas. O melhor é observar o número de matrículas. Nas matrículas totais, saímos de 3,5 milhões para 7,3 milhões, considerando instituições privadas e públicas. Nas federais também dobrou, de 500 mil para um milhão.



CC: Essa expansão do ensino superior exige mais investimento em qualidade. O que está sendo feito sobre isso?

Paim: Nas universidades federais, todo esse crescimento foi acompanhado de um processo muito forte de inclusão social. Elas passaram por uma mudança de fisionomia de seus estudantes, hoje temos mais estudantes oriundos de escolas públicas, negros, indígenas. Os críticos diziam que teríamos queda de qualidade. Não ocorreu isso, pelo contrário. As federais têm avançado nos indicadores de desempenho. Nas privadas, tanto no Prouni quanto no Fies, nós temos controle dos cursos, eles obrigatoriamente têm de ter um desempenho satisfatório. Além disso, nós criamos uma secretaria exclusiva para regulação do ensino superior. Temos critérios muito mais rígidos. Mas precisamos ampliar os instrumentos de controle. Por isso queremos criar uma entidade reguladora, o Instituto Nacional de Supervisão e Avaliação da Educação Superior.



CC: O senhor falou em mudança de perfil dos estudantes. Segundo a última Pnad, o número de universitários negros e pardos aproximou-se do de brancos. Em 2001, era de pouco mais de um terço.

Paim: No Fies, 92% dos estudantes estão numa faixa de dois salários mínimos de renda familiar per capita. No Prouni, a exigência é de 1,5 salário mínimo para a bolsa integral e de 3 salários mínimos para a bolsa parcial. São programas que realmente atingem a população de baixa renda. O Prouni tem cotas, 51% são negros. No Fies, os negros são quase 50%. Nas universidades federais, a última seleção tinha 37% das vagas para negros, chegaremos perto de 45% na próxima. Aquela velha ideia de que quem estuda em escola pública faz universidade privada está se modificando.



CC: Por que o instituto regulador ainda não foi aprovado pelo Congresso depois de dois anos?

Paim: Em geral, projetos de lei de criação de novas autarquias, estruturas governamentais, levam um certo tempo mesmo, passam por várias comissões, discussões.



CC: As universidades privadas têm, de alguma forma, trabalhado contra?

Paim: Elas sabem do rigor do MEC na supervisão e na regulação. Temos tomado medidas bastante duras, que vão desde a interrupção do processo seletivo e a redução do número de vagas até o descredenciamento de instituições. Então, independentemente da aprovação do instituto, o setor tem se adequado a essas regras porque sabe qual é o posicionamento do MEC. Considerando Prouni e Fies, hoje mais de 45% das matrículas em instituições privadas são bancadas a partir de políticas federais. Temos que ter muito rigor e compromisso com a qualidade.



CC: Um colega jornalista tem dois filhos na Europa pelo programa Ciência sem Fronteiras e diz que eles só viajam, não estudam. Que controle existe contra isso?

Paim: Aí tem de analisar a situação específica, que eu não sei qual é. Mas temos pouquíssimos registros deste tipo de situação e, quando ocorre, os estudantes são afastados imediatamente. Como funciona o programa? Nós selecionamos os alunos pelo Enem, eles pleiteiam uma vaga em países como Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, Itália, aí vemos as regras das instituições, e geralmente são regras rígidas, estamos falando das melhores instituições do mundo. Em cada país, temos instituições intermediadoras acompanhando. Se houver problemas, estas são informadas e informam imediatamente ao Brasil. Até agora, nossa avaliação do programa é muito boa.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

“COMO SER TUCANO SEM SER HIPÓCRITA: UM TEXTO PARA A HISTÓRIA”


É inacreditável, a princípio! Não tivesse sido publicado na insuspeita Folha de São Paulo de hoje e eu não acreditaria. Afinal é por esta e outras razões que ainda acredito nas pessoas.

É inacreditável, repito, que um cidadão declaradamente peessedebista, do PSDB, portanto, com ficha de inscrição do partido avalizada por renomados (se por bem ou mal, aí é outra história) políticos, tais como ex-governadores de São Paulo Franco Montoro e Mário Covas e um ex-presidente da República tenha tido a coragem cívica de escrever o que estaremos transcrevendo abaixo. Além do mais, referido cidadão, Ricardo Semler, (este é o seu nome), é empresário com manifesta experiência em vendas de produtos a empresas estatais, além de autor de um best-seller “Virando a própria mesa – uma história de sucesso empresarial Made in Brazil”.

Mas vejamos a íntegra do seu texto:



Ricardo Semler

Não sendo petista, e sim tucano, sinto-me à vontade para constatar que essa onda de prisões de executivos é um passo histórico para este país

Nossa empresa deixou de vender equipamentos para a Petrobras nos anos 70. Era impossível vender diretamente sem propina. Tentamos de novo nos anos 80, 90 e até recentemente. Em 40 anos de persistentes tentativas, nada feito.

Não há no mundo dos negócios quem não saiba disso. Nem qualquer um dos 86 mil honrados funcionários que nada ganham com a bandalheira da cúpula.

Os porcentuais caíram, foi só isso que mudou. Até em Paris sabia-se dos “cochons des dix pour cent”, os porquinhos que cobravam 10% por fora sobre a totalidade de importação de barris de petróleo em décadas passadas.

Agora tem gente fazendo passeata pela volta dos militares ao poder e uma elite escandalizada com os desvios na Petrobras. Santa hipocrisia. Onde estavam os envergonhados do país nas décadas em que houve evasão de R$ 1 trilhão –cem vezes mais do que o caso Petrobras– pelos empresários?

Virou moda fugir disso tudo para Miami, mas é justamente a turma de Miami que compra lá com dinheiro sonegado daqui. Que fingimento é esse?

Vejo as pessoas vociferarem contra os nordestinos que garantiram a vitória da presidente Dilma Rousseff. Garantir renda para quem sempre foi preterido no desenvolvimento deveria ser motivo de princípio e de orgulho para um bom brasileiro. Tanto faz o partido.

Não sendo petista, e sim tucano, com ficha orgulhosamente assinada por Franco Montoro, Mário Covas, José Serra e FHC, sinto-me à vontade para constatar que essa onda de prisões de executivos é um passo histórico para este país.

É ingênuo quem acha que poderia ter acontecido com qualquer presidente. Com bandalheiras vastamente maiores, nunca a Polícia Federal teria tido autonomia para prender corruptos cujos tentáculos levam ao próprio governo.

Votei pelo fim de um longo ciclo do PT, porque Dilma e o partido dela enfiaram os pés pelas mãos em termos de postura, aceite do sistema corrupto e políticas econômicas.

Mas Dilma agora lidera a todos nós, e preside o país num momento de muito orgulho e esperança. Deixemos de ser hipócritas e reconheçamos que estamos a andar à frente, e velozmente, neste quesito.

A coisa não para na Petrobras. Há dezenas de outras estatais com esqueletos parecidos no armário. É raro ganhar uma concessão ou construir uma estrada sem os tentáculos sórdidos das empresas bandidas.

O que muitos não sabem é que é igualmente difícil vender para muitas montadoras e incontáveis multinacionais sem antes dar propina para o diretor de compras.

É lógico que a defesa desses executivos presos vão entrar novamente com habeas corpus, vários deles serão soltos, mas o susto e o passo à frente está dado. Daqui não se volta atrás como país.

A turma global que monitora a corrupção estima que 0,8% do PIB brasileiro é roubado. Esse número já foi de 3,1%, e estimam ter sido na casa de 5% há poucas décadas. O roubo está caindo, mas como a represa da Cantareira, em São Paulo, está a desnudar o volume barrento.

Boa parte sempre foi gasta com os partidos que se alugam por dinheiro vivo, e votos que são comprados no Congresso há décadas. E são os grandes partidos que os brasileiros reconduzem desde sempre.

Cada um de nós tem um dedão na lama. Afinal, quem de nós não aceitou um pagamento sem recibo para médico, deu uma cervejinha para um guarda ou passou escritura de casa por um valor menor?

Deixemos de cinismo. O antídoto contra esse veneno sistêmico é homeopático. Deixemos instalar o processo de cura, que é do país, e não de um partido.

O lodo desse veneno pode ser diluído, sim, com muita determinação e serenidade, e sem arroubos de vergonha ou repugnância cínicas. Não sejamos o volume morto, não permitamos que o barro triunfe novamente. Ninguém precisa ser alertado, cada de nós sabe o que precisa fazer em vez de resmungar.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

"Golpismo de FHC é pior do que o do Aécio"

Sem que careça de comentários, republico do "Conversa Afiada" artigo de Maurício Dias, da Carta Capital, nos termos que seguem:


O ex-presidente é bem pior do que Aécio Neves no seu desvario antidemocrático
(por Mauricio Dias)


Aécio Neves voltou à cena com o espírito de quem perdeu o governo, mas ganhou a eleição. Esse é um mote que alenta o sofrimento dos derrotados. No entanto, tentou salvar as aparências ao repudiar formalmente a truculência de setores da oposição manifestada nas redes sociais e em pequenos agrupamentos de rua. “Essas manifestações têm o nosso repúdio mais radical e veemente”, afirmou.


O lema dos estandartes exibidos, “Fora o PT, “SOS Forças Armadas”, entre outros, e o tom rancoroso dos discursos oposicionistas recusando o diálogo, proposto nas palavras iniciais de Dilma Rousseff após reeleita, não brotaram do nada.


A emoção dos eleitores foi fustigada. Isso incitou o velho ódio antipetista, despertado com mais força ao longo da campanha eleitoral de 2014. Ao contrário do que apregoa Aécio Neves. Ele tentou, por exemplo, tapar o sol com a peneira. Para o candidato derrotado na disputa pela Presidência, estaria havendo apenas “apropriação indevida de um sentimento livre da sociedade”.


As manifestações, no entanto, não surgiram de combustão espontânea. O tucano pede “respeito à democracia”, mas joga com um plano B para alterar a continuidade democrática. A oposição tucana conta, mais uma vez, com o tema corrupção. O foco é na Petrobras. “Não vamos deixar esse assunto arrefecer”, promete o tucano.


Em longa apresentação no Senado, em cerimônia articulada, com uma autoridade provocativa, condiciona o diálogo à investigação. A par disso, conta com uma nova CPI para investigar os políticos citados na delação premiada. Quase todos da base do governo.


O candidato derrotado não é o único a agir assim. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tem papel até mais ativo nesse processo. Com pesar, porém sem surpresa, FHC mais uma vez lançou a palavra de ordem dos tucanos para o combate ao governo Dilma Rousseff.


Escreveu FHC: “Depois de uma campanha de infâmias, fica difícil crer que o diálogo proposto não seja manipulação”. Para ele, o PT errou ao colar em Aécio Neves o rótulo de “candidato dos ricos”. E não foi? As pesquisas de opinião sustentaram isso. Falta ao ex-presidente, neste momento, serenidade e comprometimento com a democracia que tanto prega verbalmente.


Ele ultrapassa os limites antes do comportamento político democrático do que da própria razão quando pretende a vitória de Dilma amparada “em pouco acima da metade dos votos” .


Insinua que a vitória de Dilma não foi convincente, embora 3,5 milhões de votos não deixem de ser expressivos. A presidenta seria reeleita mesmo que tivesse apenas 1 voto a mais.


FHC traz à memória a artimanha da UDN ao seguir os passos de Afonso Arinos de Melo Franco, que, em 1955, contestou a vitória de Juscelino Kubitschek, com o argumento, não previsto em lei, de que o vitorioso não alcançara a maioria. Perdeu.


Em 2005, após o estouro do chamado mensalão, Fernando Henrique lançou a proposta de que Lula não deveria mais disputar a reeleição. Outras vozes seguiram esse caminho. Sem sucesso. Em 2006, Lula disputou e ganhou do tucano José Serra. Na eleição seguinte, em 2010, o PT elegeu Dilma.


Entre os tucanos o papel de cada um está claro. Aécio espreita o caso Petrobras. FHC tenta debilitar a vitória de Dilma. Apesar disso, a razão, agora sim, diz que não passarão.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

O ENSANDECIMENTO DE UMA PARTE DA POPULAÇÃO PELO ÓDIO, PELA RAIVA CONTRA O GOVERNO TRABALHISTA


Ainda repercute o alto grau de intolerância, a exacerbação de atitudes hostis contra o Partido dos Trabalhadores, seu governo, seus militantes e simpatizantes. Eu, mesmo, já estou resolvido a retirar (iria manter até a posse do segundo governo de Dilma Roussef), pois já começo a ouvir impropérios por portar em meu carro adesivos da campanha do PT.

Por outro lado, ouço relatos cômicos, se não fossem deprimentes (sem trocadilhos, hein?), relataram-me que uma médica, casada com um espanhol, está até hoje deprimida, não se conforma com a reeleição de Dilma, quer ir-se do Brasil, morar na Espanha e seu marido não quer sair daqui (sabe muito bem ele que o mar mediterrâneo não está pra peixe) e inclusive não quer uma filha estude medicina para não ter que pagar dois anos de residência ao governo; um outro indignadíssimo deixou escapar a pérola: “fica esse governo gastando com o pobres e nada sobrando para nós”.

A propósito, transcrevo texto de Leonardo Boff, (aquele da Teoria da Libertação), retirado do Conversa Afiada, de Paulo Henrique Amorim.

Para os que querem deixar o Brasil


É espantoso ler nos jornais e mensagens nas redes sociais e mesmo em inteiros youtubes a quantidade de pessoas, geralmente das classes altas ou os ditos “famosos” que lhes custa digerir a vitória eleitoral da reeleita Dilma Rousseff do PT.

Externam ódio e raiva, usando palavras tiradas da escatologia (não da teológica que trata dos fins últimos do ser humano e do universo) e da baixa pornografia para insultar o povo brasileiro, especialmente, os nordestinos.

Estas pessoas não vivem no Brasil, mas, em geral, no Leblon e em Ipanema ou nos Jardins da cidade de São Paulo onde se albergam: em sua maioria, os pertencentes às classes opulentas (aquelas 5 mil famílias que, segundo M.Porchmann, detém 43% do PIB nacional).

Muitas delas não se sentem povo brasileiro.

Externam até vergonha. Mas estão aqui porque neste país é mais fácil enricar, embora o desfrute mesmo é em feito em Miami, Nova York, Paris ou Londres, pois muitos deles têm lá casas ou apartamentos.

Alguns mais exacerbados, mas com parquíssima audiência, sugerem até separar o Brasil em dois: o sudeste rico de um lado e o resto (para eles, o resto mesmo) do outro, especialmente o Nordeste.

Acresce a isso o Parlamento brasileiro, a maioria eleita com muito dinheiro, que mal representa o povo.

Finge que escutou o clamor dos ruas em junho de 2013 demandando reformas, especialmente, na política, no sistema de educação e de saúde e uma melhor mobilidade urbana e não em último lugar a segurança e a transparência na coisa pública. Mas já esqueceu tudo.

Rejeitou o projeto do governo, no rescaldo da reeleição, que visava ordenar e dar mais espaço à participação dos movimentos sociais na condução da política nacional, respeitadas as instituições consagradas pela Constituição.

Tal fato nos remete ao que Darcy Ribeiro diz em seu esplêndido livro que deveria ser lido em todas as escolas, “O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil”(1995).

Aí diz o grande antropólogo, indigenista, político e educador: “O ruim no Brasil e efetivo fator do atraso, é o modo de ordenação da sociedade, estruturada contra os interesses da população, desde sempre sangrada para servir a desígnios alheios e opostos aos seus… O que houve e há é uma minoria dominante, espantosamente eficaz na formulação e manutenção de seu próprio projeto de prosperidade, sempre pronta a esmagar qualquer ameaça de reforma da ordem social vigente”(p.446).

Esta afirmação nos concede entender porque a presidenta Dilma quer uma reforma política que não venha de cima, do Congresso, porque este sempre se oporá ao que possa contradizer os seus indecentes privilégios.

Deve partir de baixo, ouvindo os reclamos do povo brasileiro.

Quem aprendeu em 500 anos a sobreviver na pobreza senão na miséria, colheu muita experiência e sabedoria a ser testemunhada e repercutida na nova ordenação político-social do Brasil.

Ouvi de um sacerdote que viveu sempre na favela: “há um evangelho escondido no coração do povo humilde e importa que o leiamos e escutemos”.

Vale a mesma coisa para as várias reformas desejadas pela maioria da população: auscultar o que se aninha no coração do povo e dos invisíveis.

Podemos tolerar a arrogância e a resistência dos poderosos e dos parlamentares, o que não podemos é defraudar a esperança de todo um povo.

Ele não merece isso depois de tanto suor, sacrifícios e lágrimas.

Ele precisa voltar às ruas e renovar com mais contundência e ordenadamente o que irrompeu em junho do ano passado.

O feijão só cozinha bem em panela de pressão.

Da mesma forma, o parlamento abandona sua inércia quando é posto sob pressão, como se constatou no ano passado.

Voltemos a Darcy Ribeiro, um dos que melhor estudou e compreendeu a singularidade do povo brasileiro.

Uma coisa são os povos transplantados como nos USA, no Canadá e na Austrália. Eles reproduziram os moldes dos países europeus de onde vieram. No Brasil foi diferente.

Ocorreu uma das maiores miscigenações da história conhecida da humanidade. Vieram de 60 países diferentes. Misturaram-se entre si índios, afrodescendentes, europeus, árabes e orientais. Criaram um novo tipo de gente.

Diz Darcy: “o nosso desafio é de reinventar o humano, criando um novo gênero de gentes, diferentes de quantas haja”(p.447).

Diz mais: “olhando todas estas gentes e ouvindo-as é fácil perceber que são, de fato, uma nova romanidade, uma romanidade tardia mas melhor, porque lavada em sangue índio e sangue negro”(p.447).

Não me furto em citar estas palavras proféticas com as quais fecha seu livro O povo brasileiro: “O Brasil é já a maior das nações neolatinas… Estamos nos construindo na luta para florescer amanhã como uma nova civilização, mestiça, tropical, orgulhosa de si mesma. Mais alegre, porque mais sofrida. Melhor porque incorpora em si mesma mais humanidades. Mais generosa, porque aberta à convivência com todas as raças e todas as culturas e porque assentada na mais bela e luminosa província da Terra” (p.449).

Para os que querem sair do Brasil: fiquem nessa esplêndida Terra e ajudem-nos a construir esse sonho bom.

 

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Eu e a Salvador "moderna"

Domingo, dia 26 de outubro, dia da eleição, no segundo turno, da Presidenta Dilma.
Sai de Jacuípe, via ônibus, para, antes de mais nada,  votar e votar logicamente no 13.
Já, a esta primeira prova, ficou comprovada a minha quase total alienação com os efeitos da “modernidade” da minha antes conhecida, reconhecida, provada, aprovada, esquadrinhada cidade. É que a minha outrora provincial urbe, cresceu, inchou-se, transformou-se numa megalópole e sinto-me, em determinados momentos como se estivesse em outro planeta e descido, repentinamente, de uma nave espacial naqueles instantes.
Pois bem, o ônibus que me conduziu de Jacuípe para Salvador indicava como destino a Calçada. Fiquei tranquilo e pensei: ótimo. Uma vez que vai à Calçada, eu fico no viaduto de Pitangueiras e subo a “escadinha” – que muitas vezes me levou para casa – e fácil, fácil estarei na minha seção eleitoral. Qual nada! O “busu” (termo que, embora não muito novo, é fora do contexto do meu provincianismo) da rodoviária, tomou rumo da “Barros Reis”. Pô, mas não é que aqueles ônibus vão via San Martin? É, eu bem que sabia, mas minha arraigada e, a estas alturas, ilusória convicção de intimidade com a cidade levou-me à desatenção. Então, fui forçado a tomar outro ônibus.
Pensei, devo subir num ônibus que vá pelo Bonocô (as mesmas intenções anteriores). Surge um “Lapa”. Embarco, com a mesma certeza de que vou no caminho certo. Qual nada, mais uma vez! O infeliz chega um pouco antes do Ogunjá e começa a mover o “leme pra bombordo”. Pô, mais uma vez, tô lenhado! Tudo bem, ninguém morreu. Vamos andando, é um pouquinho só, até o viaduto. Consigo finalmente chegar à seção eleitoral. Sem que deixasse de constatar que a “escadinha” não mais existe. Ora, seu Mário, aquela área toda foi inundada pela estação de Brotas do metrô, não sabia? Metrô?! Ah, temos um metrô!
Este detalhe faz recuar minhas memórias para a Salvador, de antes da explosiva intervenção urbana promovida pelos ditadores, nos idos de 70, tendo como seu interventor municipal, o ex-coronel baiano.

O bonde da linha 11, o bonde de Brotas passava por uma estreita trilha, no topo de um morro, (posteriormente escavado para abertura da avenida de vale), que ligava a rua Frederico Costa à rua das Pitangueiras – Agripino Dórea, e à Ladeira dos Galés. De maneira que os bondes que transitavam de e para Brotas, via Largo dos Paranhos, Bandeirantes, passavam por sobre o, atual, viaduto de Pitangueiras. No espaço entre a Frederico Costa e a bifurcação que leva ao Galés e a Pitangueiras, havia umas casinhas bem humildes e que foram, certamente, desapropriadas. Seus pobres moradores enxotados, em nome do progresso! O que hoje se chama o vale de Nazaré era uma vastidão de brejo. Aqui ou acolá, podia se ver cultivo de hortaliças e de outros vegetais. Era uma enorme baixada de verdejantes matos e por onde escorria muita água. Para onde foram aqueles enxotados? Para onde foram essas águas todas? Para onde foi a urbanidade de Salvador?  

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

GANHAMOS!

Ouvi ontem o infeliz senador pelo Paraná, de sobrenome Dias, e que de alvo nada tem, que nossa Presidenta conseguiu se eleger simplesmente por causa da comunicação, “...foram competentíssimos na comunicação...”. Ele propositadamente omite a “comunicação” incessante da grande imprensa contra o PT e a nossa Presidenta. Ele se “esquece” da profusão de golpes baixos, a toda hora, contra o PT – até, “aos 89 minutos” do jogo, quiseram inventar um pênalti, “matando” o doleiro da delação – seletiva – premiada.
O escore do jogo foi, por demais, apertado. Enervantes os boletins dos resultados parciais. Mas de um valor símbolo imensurável. Pois foi praticamente o povo, principalmente, a militância, o nordestino, ignorante para o príncipe da privataria - o mesmo que considera vagabundo todo aquele aposentado - contra a grande imprensa, o mercado financeiro e “aszelites”.
Não foi meramente uma disputa eleitoral justa, com as amplas e justas condições de disputa. Não! A desvantagem para a candidata vitoriosa existe e vinha crescendo exponencialmente desde o primeiro dia do primeiro mandato.
Somente uma guerreira, com a força do povo, pôde sair vitoriosa desta batalha que não finda agora, pelo contrário as escaramuças continuarão, mas tenho a absoluta convicção de que este governo que se iniciará em janeiro de 2015, será bem melhor que o atual e que nosso país está no caminho certo da redução da injusta desigualdade social e da prosperidade para todos e não para uns poucos, como sempre foi com os governantes antes Lula/Dilma.    

domingo, 19 de outubro de 2014

UM AINDA PROVÁVEL, MAS EVITÁVEL FUTURO DESASTROSO PARA O PAÍS

Transcrevo, sem comentar, trecho de um texto de Mino Carta extraído do “Conversa Afiada”.
"Uma vitória de Aécio significaria o enterro de uma política social nunca dantes praticada, por mais insuficiente. De uma política exterior habilitada a desatrelar o Brasil dos interesses de Washington em proveito dos nossos. Bem como o retorno a uma política econômica de desbragada inspiração neoliberal, com todas as implicações, a começar pelo corte do salário mínimo e a alteração da CLT, de resto já anunciadas pelo candidato a ministro da Fazenda de Aécio, Arminio Fraga, presidente do BNDES no governo do eterno goela. E já que se fala de ameaça a uma herança getulista, não nos obriga a espremer as meninges imaginar o triste destino reservado à Petrobras, que o ex-presidente sociólogo pretendia privatar quando no poder, e ao pré-sal, de súbito lotizado". 

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Agora: é ou TUDO Pelo SOCIAL, ou TUDO pelo MERCADO

Proponho-me a fazer uma análise da conjuntura política, após os resultados das recentes eleições, que me perdoem se eu não conseguir levá-la a contento.
Começo comentando, ainda, sobre as manifestações ocorridas, e incensadas e cantadas em prosas e versos (“vozes da rua”, etc.), há tempos atrás e que mereceram estudos, teses acadêmicas, etc., das quais, salvando-se raras exceções, não encontrei coincidência com o que eu consegui (ou não consegui?) entender de todo aquele, quase, caos instalado. Fiquei com certo pavor, relembrando o tenebroso, obscuro período ditatorial e só quem viveu sob seu domínio sabe o quanto foi maléfico para as pessoas e para o país.
Originado de um pacífico movimento por passe livre para estudantes em São Paulo (MPL), parece-me, cooptado e estimulado pelos “reaças”, (black blocks?) prontos historicamente pelo estabelecimento do estado de exceção, da implantação de regime antidemocrático, arrebanhou:
       (1)  Uma juventude (que não conheceu e nem tem noção do que foram os “anos de chumbo” e, muito menos, conheceram a situação porque passou o país antes do primeiro governo do PT [lembro-me de reportagem na TV sobre uma enorme fila no Rio de Janeiro para recrutamento de candidatos a GARI, onde havia engenheiro, até]) carente, é verdade, de melhoria na oferta de serviços públicos;
J      (2) Jovens e velhos militantes do ingênuo e utópico anarquismo (ideologia política, hein!);
c   (3) Ainda, os “esquerdistas” insatisfeitos com o Partido dos Trabalhadores autodegredados em pequenos e inexpressivos partidos;
d   (4) E uma parte considerável da população que somente lê a grande imprensa (capitaneada pela revista, lixo de consultórios médicos), com sua sistemática, massiva e diuturna campanha contra o PT, (a Presidente do, se não me engano, Sindicato Nacional dos Jornalistas declarou, sem arrodeios, que a verdadeira oposição ao PT era a imprensa), que cria factoides e repercute à exaustão; que somente divulga notícias que sejam negativas e omitem, descaradamente, ou distorcem notícias favoráveis ao governo. Essa mesma imprensa (alô, O Globo, o Estadão, a Folha...) que esteve sempre com o que há de mais entreguista, de retrógrado, contra reformas de base e que sustentou e foi sustentada pela ditadura;
b   (5) Bandos de pessoas que estavam e não sabiam por que, (as “Marias vão com as outras”), e continuam a vagar para “onde o nariz aponta”, tal como é dito pelo jargão futebolês para “aquele” zagueirão.
O fato é que assim como surgiu, desapareceu, sem antes deixar de ter sido peremptoriamente reprovado pelo MPL, o movimento precursor.
Faço o preâmbulo, para chegar aos resultados das eleições de outubro de 2014. A candidata Marina, aproveitando-se dos movimentos já referidos surgiu como a terceira via, representante da pureza, da “nova política (aliás, da não-política, seu partido não é partido é uma rede?!), ”, a messiânica e assim como um Tsunami, veio, fez o estrago e foi-se. Implodiu-se por suas próprias inconsistências e sua verdadeira insignificância política.
Estão, então, bem definidas as vias a serem escolhidas pelo eleitor para os destinos desta nação:
(1) a via do Partido dos Trabalhadores, com forte acento popular, com viés convicto de cunho social, (Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, Valorização do Salário Mínimo, BNDES, Prouni, Pronatec, investimentos de infraestrutura [saneamento, ferrovias, portos, hidrovias, hidrelétricas, transposição do São Francisco... São trilhões de reais já empenhados]...) com irrefutáveis bons resultados e que pode mais fazer por uma sociedade mais justa; não obstante a crise mundial, que vem sendo enfrentada sem corte de salários, com índice, jamais observado, de desemprego, crise essa que tem levado fortes economias mundiais a sentir abalos.
(2) e a via do outro partido que é de ideologia completamente oposta: neoliberal: pela liberdade para o mercado (independência do Banco Central), com “arrocho” nos investimentos sociais; pela flexibilização dos direitos trabalhistas; pelo controle, a todo custo da inflação, não importando se desempregando, se reduzindo salário, privatizando, terceirizando e tudo pelo RENTISMO (bolsa de valores, juros altos, ganhos de capital...).
Quatro fatos que fortemente se destacam e que desautorizam completamente a legitimidade dos mais que louvados movimentos: (1) a continuada bipolarização PT/PSDB; (2) o pífio desempenho de candidatos de partidos radicais mais à esquerda; (3) fortalecimento de um Congresso conservador e mais rico; (4) a reeleição, com uma esmagadora vitória, do governador de São Paulo, que é dominado pelo seu partido há mais de vinte anos, marcado por uma crise no abastecimento de água (ah! Se fosse governo do PT!!!) que, muito tem a ver, com imprevidência administrativa e menos com a falta de chuvas e o foco principal das “manifestações”.
Vejo também que infelizmente a mentira, materializada pela grande imprensa, sustentada por setores retrógrados da sociedade, absorvida e ingenuamente difundida por outro setor da sociedade, mais exatamente na classe média, ou quase média (cujos representantes conseguem ser piores, no que respeita à boçalidade, pois querem alcançar a alta classe e não conseguem; têm o fantasma do retorno à baixa classe), vem vencendo a verdade. Mas isto não haverá de se confirmar.


sexta-feira, 26 de setembro de 2014

A “SANTA” CANDIDATA MENTE!

A toda pura, purificada, candidata da “mudança”, da mudança dela mesmo, que muda discurso, conceito, opinião, toda hora, mais uma vez se esconde no denuncismo vazio, no discurso cheio de circunlóquios, mas vazio de conteúdo, como diz o autor do texto abaixo retirado do Conversa Afiada: “a candidata disse que “o que enfraquece os bancos é pegar o dinheiro do BNDES e dar para meia dúzia de empresários falidos, uma parte deles, alguns deles que deram, enfim, um sumiço em bilhões de reais do nosso dinheiro”. O número de imprecisões só dessa frase é impressionante”. Vejamos o texto integralmente a seguir:

MARINA E O BNDES
Fábio Kerche

O BNDES é um dos principais instrumentos que o governo brasileiro dispõe para implementar sua política econômica. É o governo em exercício que escolhe as áreas prioritárias e as linhas de atuação do banco, que as executa por meio de um rigor técnico garantido por seu capacitado corpo funcional.

Para ficarmos em apenas dois exemplos: no governo Fernando Henrique Cardoso, o BNDES teve um papel fundamental nas privatizações e no governo Lula, respondendo à forte crise iniciada em 2008, expandiu o crédito à indústria e à infraestrutura.

É, portanto, absolutamente legítimo que o papel do BNDES seja debatido na campanha eleitoral. O próximo presidente terá a responsabilidade de manter ou modificar as prioridades do banco nos próximos anos, decisão que poderá afetar todo o financiamento ao setor produtivo brasileiro.

Mas esse necessário debate eleitoral seria mais proveitoso para o país se fosse lastreado por um correto diagnóstico por parte dos candidatos. Como corrigir rumos se não conseguimos entender a atual direção? Esse parece ser o caso da candidata do PSB à Presidência, Marina Silva. Senão, vejamos.

Nesta quinta-feira (25), em entrevista ao programa “Bom Dia Brasil”, da TV Globo, a candidata disse que “o que enfraquece os bancos é pegar o dinheiro do BNDES e dar para meia dúzia de empresários falidos, uma parte deles, alguns deles que deram, enfim, um sumiço em bilhões de reais do nosso dinheiro”. O número de imprecisões só dessa frase é impressionante.

Em primeiro lugar, o BNDES não “dá” dinheiro a ninguém, ele empresta. Isso significa que o banco recebe de volta, corrigidos por juros, os seus financiamentos. Sua taxa de inadimplência é de 0,07% sobre o total da carteira de crédito, segundo o último balanço, sendo a mais baixa de todo o sistema bancário no Brasil, público e privado.

Isso nos leva a outra imprecisão da fala da candidata. A qual “sumiço” de recursos ela se refere se o BNDES recebe o dinheiro de volta e obtém lucros expressivos de suas operações? O lucro do primeiro semestre, de R$ 5,47 bilhões, foi o maior da história do banco.

Em relação aos empresários “falidos”, talvez a candidata, em um esforço de transformar em regra a exceção, esteja se referindo ao caso Eike Batista. Se isso for verdade, temos mais uma imprecisão: seja por causa de um eficiente sistema de garantias das operações, seja porque grupos sólidos assumiram algumas empresas, o BNDES não sofreu perdas frente aos problemas enfrentados pelo empresariado.

Por fim, nada mais falso do que dizer que o BNDES empresta para “meia dúzia”. No ano passado, o banco fez mais de 1 milhão de operações, sendo que 97% delas para micro, pequenas e médias empresas.

Embora o BNDES não tenha a capilaridade dos bancos de varejo, a instituição aumentou seus desembolsos para as pequenas empresas de cerca de 20% do total liberado na primeira década de 2000 para mais de 30% no ano passado. Se retirássemos as típicas áreas onde os pequenos não atuam (setor público, infraestrutura e comércio exterior), os financiamentos para os menores representariam 50% dos desembolsos do banco.

Das cem maiores empresas que atuam no Brasil, 93 mantém relação bancária com o BNDES. Entre as 500 maiores, 480 são seus clientes. Como sustentar que o BNDES escolhe “meia dúzia” se o banco apoia quase todas as empresas brasileiras dos mais variados setores de nossa economia?

A candidata Marina lembrou recentemente que uma mentira repetida diversas vezes não a transforma em verdade. Isso também vale para o papel que o BNDES vem desempenhando nos últimos anos.

FÁBIO KERCHE, 43, doutor em ciência política e pesquisador da Fundação Casa de Rui Barbosa, é assessor da Presidência do BNDES. Foi secretário-adjunto e secretário de Imprensa da Presidência da República (governo Lula)

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

OLODUM, ILÊ AYÊ E MOVIMENTOS NEGROS ORGANIZADOS UNIDOS POR UMA CANDIDATURA

Reproduzo postagem contida no Conversa Afiada, de Paulo Henrique Amorim, texto de Cleidiana Ramos do jornal A TARDE, de Salvador, que trata do encontro “dos movimentos negros organizados... na sede do bloco Ilê Aiyê”. E o que mais me chamaram a atenção foram as declarações de João Jorge, presidente do Olodum, militante do PSB, “A eleição tem um tom democrático de plebiscito entre as políticas de igualdade e o estado  liberal mínimo que permite a influência de poucos, o que para mim é perigoso... Meu partido, o PSB, no qual ela entrou porque não conseguiu criar o seu,  em 1947  lutou pela liberdade religiosa, questão que ela não entende, além de reunir apoios como o de Marco  Feliciano que faz um mal enorme à  defesa dos direitos humanos

Saiu no A Tarde:

Cleidiana Ramos

Demorou, mas o debate com base nas bandeiras históricas dos movimentos negros organizados – combate ao racismo, desigualdades e intolerância religiosa – ganhou projeção no cenário eleitoral baiano. Ontem, na sede do bloco Ilê Aiyê, foi divulgada uma carta de apoio à reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT).

O encontrou aconteceu quatro dias após o PSB ter organizado, em Salvador,  evento para recepcionar  a candidata do PSB à presidência, Marina Silva (PSB), no último sábado, com ênfase na questão étnico-racial.

DIVERSIDADE

O evento de apoio a Dilma reuniu 25 representantes de associações do movimento negro organizado, incluindo  históricas como o MNU, as  do movimento pela igualdade de gênero (Fórum das Mulheres Negras) e do combate à intolerância religiosa: Coletivo de Entidades Negras (CEN) e Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen).. Entidades de outros estados como a Malungu do Pará também assinam o documento.

“Nós reconhecemos que o governo, a partir da gestão Lula,  tem feito a inclusão sócio-racial no Brasil”, disse Raimundo Bujão, membro do MNU. A  reunião contou com a participação de Angela Guimarães, que integra a coordenação nacional da campanha de Dilma Rousseff.

Em discursos, como o de Antônio Carlos Vovô, presidente do Ilê, houve menção de apoio a Rui Costa, candidato ao governo pelo PT.

“O que está em jogo não é apenas uma disputa eleitoral, mas projetos políticos. A nossa opção é por aquele que tem  conquistas mais próximas às bandeiras que historicamente nos defendemos”, disse Gilberto Leal, da Conen.

Dentre os signatários da carta de apoio a Dilma surpreendeu a assinatura do Olodum. O seu presidente, João Jorge Rodrigues é filiado ao PSB. Ele diz está sendo coerente por considerar que há dois projetos políticos em jogo e que se identifica com o do PT.

“A eleição tem um tom democrático de plebiscito entre as políticas de igualdade e o estado  liberal mínimo que permite a influência de poucos, o que para mim é perigoso”, aponta.
Para ele, a redução de pessoas na linha de pobreza, por meio de programas como o Bolsa Família e o  Minha Casa,  Minha Vida combatem desigualdades que têm raízes no racismo.  “Como militante de direitos humanos, da consciência negra e luta pela igualdade  não poderia apoiar outra proposta”, afirma.

João Jorge não poupou críticas a Marina Silva. “Meu partido, o PSB, no qual ela entrou porque não conseguiu criar o seu,  em 1947  lutou pela liberdade religiosa, questão que ela não entende, além de reunir apoios como o de Marco  Feliciano que faz um mal enorme à  defesa dos direitos humanos”, afirmou.


Ele destacou que foi correligionário de Marina Silva no PV, logo após ela ter saído do PT. “Por conta dela, o PV abriu mão de bandeiras como a descriminalização do aborto e da legalização da maconha”.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

A PETROBRÁS, A PNAD E O CORO DA INSIGNIFICÂNCIA NACIONAL

Reproduzo artigo de Saul Leblon, da Carta Maior, publicado no Conversa Afiada, cujos termos dizem respeito à postagem anterior que tratou das escondidas realizações dos governos do PT. 

Em alguns parágrafos do texto atrevo-me a fazer alguns comentários que acho necessários e estarão destacados por diferente fonte, em negrito, e separados por colchetes.

A PETROBRÁS, A PNAD E O CORO DA INSIGNIFICÂNCIA NACIONAL

A simbologia da Petrobrás ficou até maior do que nos anos 50, quando foi criada por Getúlio. Hoje, ela deixou de significar apenas petróleo nacional.

por: Saul Leblon

Imagine-se que o México, por exemplo, do novo herói de Wall Street, Enrique Peña Nieto; ou a Espanha, do imperturbável ‘austericida’, Mariano Rajoy; ou mesmo os EUA, do flácido Barack Obama, reunisse, em uma única semana, essa que passou, as seguintes conquistas no portfólio do seu governo:

1. O país fosse declarado pela FAO um território livre da fome, praticamente erradicada nos últimos 11 anos; [Que destaque se vê na grande imprensa sobre este fato?]

2. Tivesse a notícia de que a miséria extrema fora igualmente reduzida em 75%, no mesmo período; [Também, pergunto, que destaque se dá?]

3. Constatasse que após seis anos de uma interminável crise mundial, a renda média mensal das famílias continuasse a crescer, tendo se elevado em 3,4% acima da inflação em 2013 (dado da PNAD já corrigida);
[Não seria, talvez, uma das grandes razões para o tamanho do “pibinho” brasileiro? Parte do pib ficou como renda das famílias e não para número bonito de pibão]

4. E que o rendimento médio dos trabalhadores assalariados, no mesmo período, registrou um aumento de 3,8% acima da inflação e acima do PIB, de 2,5%; [Que pena! Não poderia ter ido para os especuladores? Como sempre ocorreu?]

5. Ainda: que enquanto a renda dos 10% mais ricos cresceu 2,1%, a dos lares mais pobres, incluindo-se os benefícios das políticas sociais, avançou 2,9%, o que contribuiu para um pequeno, mas persistente recuo da desigualdade, em declínio desde 2004;
[Aí é que os oligarcas, que sempre usufruíram das políticas econômicas ortodoxas, se roem de raiva! E não querem permitir a continuação do rumo que segue o nosso país ] ;

6. Mais: que o trabalho infantil em 2013 caíra 12,3%; a matrícula na pré-escola atingira 81% das crianças e o trabalho com carteira assinada já englobaria 76% dos assalariados;

7. Não só; a consolidação dos indicadores sociais dos últimos 11 anos, embora não tenha quebrado os alicerces de uma das construções capitalistas mais desiguais do mundo, mexeu em placas tectônicas. A renda média da sociedade aumentou 35% acima da inflação entre 2004 a 2013. Mas a dos 10% mais pobres cresceu o dobro disso (cerca de 73%); e entre os 50% mais pobres, avançou mais de 60%, com repercussões óbvias no padrão da produção e da demanda, no conforto doméstico e nas expectativas em relação ao futuro; [A mexida “em placas tectônicas” é que tem tirado o sono e alimentado a raiva “daszelites”]

8. A mesma semana generosa incluiria ainda a informação de que as novas reservas de petróleo desse país, responsável por 40% das descobertas mundiais nos últimos cinco anos, já representam 24% da produção nacional;

9. E, por fim, que o investimento em infraestrutura, depois de três décadas de declínio sistemático –repita-se, três décadas de recuos sucessivos– registrou uma inflexão e passou a crescer o equivalente a 2,4% do PIB, em média, de 2011 a 2013. [“Mas que absurdo!”]

Qual seria a reação do glorioso jornalismo de economia diante desse leque de vento bom, se a mão que o abanasse fosse a dos titãs dos mercados?

Não seríamos poupados de manchetes faiscantes, a alardear a eficácia das boas práticas do ramo.

Mas as boas notícias tem como moldura o Brasil.

Presidido pela ‘intervencionista’ Dilma Rousseff, candidata petista à reeleição e detentora de teimosa liderança nas pesquisas do 1º turno.

Isso muda tudo.

Muda a ponto de um acervo desse calibre ser martelado como evidência de retrocesso social no imaginário brasileiro.

Muda a ponto de Marina valer-se dessa ocultação da realidade para decretar que Dilma entregará um país ‘pior do que o que recebeu’. [Estaria bem melhor se fosse ela a escolhida pelo “sapo barbudo”]

O padrão ‘Willian Bonner’, como se vê, faz escola.

A indigência do debate impede não apenas que o Brasil se enxergue como o país menos desigual de toda a sua história, mas, sobretudo, interdita a autoconfiança da sociedade nos seus trunfos para avançar um novo passo nessa direção.

Não se subestime aqui a persistência de gargalos significativos nessa trajetória. Juros descabidos, por exemplo. E uma paridade cambial fora de lugar há duas décadas. Com toda a guarnição de perdas e danos que esse desajuste de dois preços essenciais pode acarretar. [É verdade.]

Embora sejam apresentados como prova do genuíno fracasso petista, a verdade é que desarranjos macroeconômicos não constituem exceção na história econômica do país. [Aqui e em parágrafos seguintes, está retrato 3x4 do que foi o país sob o “choque de gestão” dos tucanos, à frente aquele que manda esquecer tudo que escreveu, o “príncipe dos sociólogos”]

Será necessário recordar, à nova cristã do tripé, que sob o comando de Armínio Fraga, virtual ministro dela ou de Aécio , o BC elevou a taxa de juro a 45%, em março de 1999?

Que a dívida pública explodiu sob a gestão do festejado herói dos mercados?

E que a defasagem cambial sob FHC exigiu uma maxidesvalorização de 30% em janeiro de 1999, escalpelando o poder de compra das famílias assalariadas?

Ou que as perspectivas da inflação então oscilavam entre 20% e 50% ao ano; maiores que as da enxovalhada Argentina hoje?

O banco de dados do glorioso jornalismo de economia dispõe desses dados.

Que ali hibernam a salvo da memória nacional. [E hibernam nas profundas geleiras da grande imprensa]

O fato é que se alguns desequilíbrios se repetem –em escala muito menor, caso do juro de 11% e da paridade cambial de R$ 2,25– os trunfos, ao contrário, caracterizam uma auspiciosa singularidade.

E não avançam apenas da esfera social para o mercado, mas vice versa.

A economia brasileira dispõe agora de reservas em moeda estrangeira da ordem de US$ 400 bi, com um fiador estratégico de peso muito superior a esse. [Que inveja, diriam eles, os gestores do choque (elétrico?]

Uma poupança de petróleo e gás, que pode chegar a 100 bilhões de barris, avaliada em cerca de R$ 5 trilhões, revestida de domínio de tecnológico e escala para traduzir-se em soberania, autossuficiência e receitas, pavimenta o futuro do crescimento nacional.

Não só.

Em plena crise mundial, o país alicerçou um dos mercados de massa mais cobiçados do planeta e um mercado de trabalho que flerta com o pleno emprego. [O noticiário diário que se vê, lê e ouve é de total desconhecimento deste fato. Pelo contrário, o país está em estado de caos]

A sociedade brasileira é uma das poucas em todo o planeta a desfrutar de uma combinação vital ao futuro humanidade: autossuficiência alimentar e fontes abundantes de energia limpa.

Sua dívida pública é estável, proporcionalmente baixa em relação ao PIB (37%) e aos padrões mundiais.

A planta industrial embora esgarçada, carente de competitividade, preserva escala e encadeamentos que ainda distinguem o país em relação às demais nações em desenvolvimento. Ainda que setores respirem por aparelhos, não está morta.

As empresas estão líquidas, são lucrativas, têm caixa suficiente –hoje alocado no rentismo– para deflagrar um novo ciclo de expansão.

O país conta, ademais, com uma invejável rede de bancos públicos e possui um dos maiores bancos de desenvolvimento do mundo (o BNDES é maior que o Banco Mundial); o nível de endividamento das famílias é proporcionalmente baixo em relação à média internacional e o sistema de crédito é sólido. [E a candidata da “mudança” (aquela que muda, que se muda) quer acabar com os bancos públicos, ou, relativizando em discurso, reduzir o poder deles]

Não é pouco, mesmo considerando-se as novas condições de mobilidade de capitais que restringem o poder dos governantes para ordenar o desenvolvimento.

Com muito menos que isso, Getúlio Vargas afrontou o cerco conservador nos anos 50. [E deu no que deu]

Se dependesse das restrições da época, e do imediatismo das elites, ele não teria criado a Petrobrás, por exemplo.

Tampouco insistido na industrialização.

Assim como Juscelino não teria feito Brasília.

Ou Celso Furtado –desdenhado pela assessoria ‘moderna’ de Marina– teimado em erradicar o apartheid nacional, que tinha no Nordeste um quê de bantustão avant la lettre. [E o Nordeste está aí, despontando como a região que mais cresce

A determinação de viabilizar cada uma dessas agendas extraiu do engajamento popular e dos fundos públicos a viabilidade sonegada pelas elites, seus sócios estrangeiros e seu aparato emissor.

A seta do tempo não se quebrou: hoje a Petrobrás é a empresa que tem a maior carteira de investimento do mundo; o Nordeste é a região que lidera o crescimento do poder de compra popular; o Centro-Oeste é um dos polos agrícolas mais dinâmicos do país.

Operadores de Marina e Aécio fazem gestos nervosos na lateral de campo da disputa eleitoral. [Contando com que o juiz marque um pênalti]

Apontam o relógio para dizer que o tempo do jogo da soberania com justiça social esgotou.

Exigem que o eleitor encerre a disputa e aceite a derrota definitiva desse capítulo na história nacional.

O jogral tem experiência no ramo dos vereditos incontrastáveis.

O desdém pelo Brasil mais justo que progressivamente emerge das PNADs é uma prova.

O diabo é a Petrobrás. E as arrancadas do pré-sal.

A dupla adiciona uma dissonância não negligenciável ao discurso da insignificância brasileira na coordenação do futuro do seu desenvolvimento.

Tem peso e medida para representar um indutor de crescimento mais consistente e duradouro que o ciclo recente de valorização das commodities, ao qual o discurso conservador atribui toda a extensão dos avanços sociais registrados nos últimos anos.

Nesse sentido, a simbologia da Petrobrás ficou até maior do que foi nos anos 50. [“O petróleo é nosso”, a Petrobrás é nossa, a gasolina, o diesel, a nafta são nossos. Para bem longe a petroBRAX!]

Hoje ela deixou de significar apenas petróleo nacional. Para se tornar o espelho de uma dissidência poderosa aos interditos dos mercados no século XXI.

Fortemente imbricada nas encomendas cativas de toda a cadeia da extração, refino e usos sofisticados da petroquímica, a regulação soberana do pré-sal facultou ao país um novo berçário industrializante.

Não é o canto do cisne da luta pelo desenvolvimento, como querem alguns.

Pode ser o aggiornamento de um modelo.

A integração entre compras direcionadas à indústria brasileira e o investimento em cadeias produtivas relevantes, já funciona, de forma similar, e com sucesso, nas aquisições de medicamentos para o SUS, com fomento da rede de laboratórios nacionais pelo BNDES.

Se esse modelo entrar em voo de cruzeiro, o discurso da insignificância brasileira na definição do passo seguinte do seu crescimento entrará em coma.

O pré-sal é o ponteiro decisivo da corrida contra o ultimato conservador dos operadores de Marina e Aécio.

É coerente que tenha merecido apenas uma única e mísera linha no pr0grama de 242 páginas de Marina Silva ; assim: “Destinar ao orçamento da educação os royalties do petróleo em áreas do pré-sal já concedidas”. Ponto.

É mais que isso o que está em jogo.

No ciclo do próximo governo –e por isso é crucial ele seja progressista– o pré-sal, mantida a regulação soberana do regime de partilha, avançará exponencialmente para responder por 50% da produção brasileira em 2018.

O país estará, então, no limiar de dispor de 4,2 milhões de barris/dia, o dobro da oferta atual, com excedentes exportáveis robustos e crescentes.

Não são apenas negócios.

Cerca de 75% dos royalties do pré-sal vão para a educação; 25% para a saúde.

Mais de 300 mil jovens brasileiros serão treinados diretamente nos próximos anos pelo Promimp, o Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural.

Um parque tecnológico de ponta em pesquisa de energia, com adesão de inúmeras multinacionais, está nascendo no Fundão, junto à Universidade Federal do Rio de Janeiro, colado à agenda do pré-sal.

A indústria naval brasileira que havia desaparecido nos anos 90 agora é a quarta maior do mundo e emprega 100 mil pessoas.

As receitas do refino –filé da indústria do petróleo—ficarão em boa parte no país, graças a um esforço hercúleo da Petrobrás de investir em uma rede de refinarias, heresia sepultada pelo PSDB e a turma da Petrobrax nos anos 90.

Desqualificar a estatal criada por Getúlio –‘o PT colocou um diretor lá por 12 anos par assaltar os cofres da empresa’, diz a doce Marina– significa para o conservadorismo uma vacina de vida ou morte contra um perigo maior. [Ela sabe muito bem que o diretor é empregado de carreira da empresa e já é diretor dos tempos dos tucanos]

Aquele que pode levar o discernimento nacional a enxergar no épico contrapelo do pré-sal, sob o guarda-chuva de uma estatal poderosa, a inspiração para um modelo capaz de destravar o arranque de um novo ciclo de expansão em outras áreas.

Não se trata de uma gincana acadêmica.

Trata-se de ter ou não a soberania sobre o crescimento e a produtividade indispensáveis aos bons indicadores de futuras PNADs.
Que reúnam avanços iguais, ou maiores, que esses que o glorioso jornalismo de economia se esmerou em desqualificar na semana passada. Mas para os quais não oferece nenhuma alternativa, exceto o coro mórbido da insignificância nacional na construção do futuro.