“Durante décadas, a
mídia imperial tratou Nelson Mandela como
“terrorista”. Até 2008, o líder africano ainda figurava na lista dos
“comunistas” da central de espionagem dos EUA e a imprensa colonizada o
rotulava de “subversivo””.
Este é o parágrafo inicial do texto de
Altamiro Borges, que transcrevo abaixo, e que foi copiado do Blog de Luis
Nassif. Será que coincide com o que eu penso sobre a grande imprensa e o grande
líder Mandela? Está provado e mais que provado, escancarado o
relacionamento comercial (só, por que não também ideológico?) daquela nefasta
revista semanal com a empresa mantenedora do apartheid. Vejamos pois a íntegra da matéria.
publicado em 11 de dezembro de 2013 às 10:05
Mandela e os racistas
da Veja
Durante décadas, a mídia imperial
tratou Nelson
Mandela como “terrorista”. Até 2008, o líder africano ainda figurava na
lista dos “comunistas” da central de espionagem dos EUA e a imprensa colonizada
o rotulava de “subversivo”.
Com sua morte, porém, a mídia
simplesmente evita fazer qualquer autocrítica desta trajetória e passa a
endeusar Nelson Mandela, tratando seus leitores como imbecis.
A revista Veja, sucursal rastaquera dos
EUA, é uma das mais cínicas nesta manipulação. Na edição desta semana, ela
estampou na capa: “O guerreiro da paz”. Nojento!
Basta lembrar que o semanário da
famiglia Civita teve como um dos seus principais acionistas o grupo de mídia sul-africano
Naspers.
Num artigo na revista Caros Amigos,
intitulado “A Abril e o apartheid”, o escritor Renato Pompeu revelou que esta
corporação foi um dos esteios do regime racista.
A Naspers tem sua origem em 1915 com o
nome de Nasionale Pers. Durante décadas, ela esteve estreitamente ligada ao
Partido Nacional, a organização das elites africâneres que legalizou o
detestável e criminoso regime do apartheid no pós-Segunda Guerra
Mundial.
Dos quadros da Naspers saíram os três primeiros-ministros
do apartheid. O primeiro foi D.F. Malan, que comandou o governo da África do
Sul de 1948 a 1954 e lançou as bases legais da segregação
racial.
Já os líderes do Partido Nacional H.F.
Verwoerd e P.W. Botha participaram do Conselho de Administração da Naspers.
Verwoerd, que quando estudante na Alemanha teve ligações com os nazistas,
consolidou o regime do apartheid, a que deu feição definitiva em seu governo,
iniciado em 1958. Durante sua gestão ocorreram o massacre de Sharpeville, a
proibição do Congresso Nacional Africano (que hoje
governa o país) e a prolongada condenação de Nelson Mandela.
Já P. W. Botha sustentou o apartheid
como primeiro-ministro, de 1978 a 1984, e depois como presidente, até 1989.
“Ele argumentava, junto ao governo dos Estados Unidos, que o apartheid era
necessário para conter o comunismo em Angola e Moçambique, países vizinhos.
Reforçou militarmente a África do Sul e pediu a colaboração de Israel para
desenvolver a bomba atômica. Ordenou a intervenção de forças especiais
sul-africanas na Namíbia e em Angola”.
Durante seu longo governo, a
resistência negra na África do Sul, que cresceu, adquiriu maior radicalidade e
conquistou a solidariedade internacional, foi cruelmente reprimida – como tão
bem retrata o filme “Um grito de liberdade”, do diretor inglês Richard
Attenborough (1987).
Renato Pompeu não perdoa a papel
nefasto da Naspers. “Com a ajuda dos governos do
apartheid, dos quais suas publicação foram porta-vozes oficiosos, ela evoluiu
para se tornar o maior conglomerado da mídia imprensa e eletrônica da África,
onde atua em dezenas de países, tendo estendido também as suas atividades para
nações como Hungria, Grécia, Índia, China e, agora, para o Brasil. Em setembro
de 1997, um total de 127 jornalistas da Naspers pediu desculpas em público pela
sua atuação durante o apartheid, em documento dirigido à Comissão da Verdade e
da Reconciliação, encabeçada pelo arcebispo Desmond Tutu. Mas se tratava de
empregados, embora alguns tivessem cargos de direção de jornais e revistas. A
própria Naspers, entretanto, jamais pediu perdão por suas ligações com o
apartheid”.
Segundo documentos divulgados pela
própria Naspers, em dezembro de 2005, a Editora Abril tinha uma dívida liquida
de aproximadamente US$ 500 milhões, com a família Civita detendo 86,2% das
ações e o grupo estadunidense Capital International, 13,8%.
A Naspers adquiriu em maio último todas
as ações da empresa ianque, por US$ 177 milhões, mais US$ 86 milhões em ações
da família Civita e outros US$ 159 milhões em papéis lançados pela Abril. “Com
isso, a Naspers ficou com 30% do capital. O dinheiro injetado, segundo ela,
serviria para pagar a maior parte das dividas da editora”.
A revista Veja, que estampa na capa a
manchete “O guerreiro da paz”, nunca pediu perdão por suas ligações com os
racistas da África do Sul. É muito cinismo!