De repente,
olho para o relógio do note-book e leio “16h20”. Estranho, penso,
ao tempo em dirijo o olhar para o celular e este me confirma o horário.
Estava a
“viajar” pela internet e não sei há quanto tempo, quando fui chamado à
realidade, à minha real posição, digamos assim, por um sinal de chegada de
mensagem pelo WhatsApp de Fernanda, querida filha.
A sensação,
que tive de momento e que, por toda a minha vida jamais me ocorrera, foi de
recusa em acreditar no real tempo e que estaria ainda em período matinal,
esquecendo-me, como recusando também que já havia almoçado. Admito que
frequentemente faço “viagem” com o pensamento como qualquer pessoa deva fazer,
mas desta vez a “viagem” foi longa e de afastamento do espaço – sabe aquela coisa da Relatividade do Tempo.
Êpa! Não, não estou doido e nem querendo me atrever a teorizar sobre a teoria
do alemão, que gostou de mostrar a língua e apresentar-se descabelado; por
favor, né? e que ao retorno à realidade deixou-me a impressão de ter voltado
no tempo, coisa assim. Durante a “viagem” martelaram insistentemente o
pensamento expressões “Você acredita em Deus?”; “O que é o destino?”; “Você tem
medo da morte?” e respectivas respostas ouvidas na noite anterior num programa
televisivo.
Para ser
franco, ao chegar à realidade devo ter sentido o que uma pessoa provavelmente
sente quando, por razões outras, tem alterada sua consciência, alteradas suas
faculdades mentais momentaneamente. O que comumente se chama de transe. Que
estranho!
Devo
esclarecer de pronto que não estava a ler, a visitar textos esotéricos ou que o
valham. Não! Estava, tão somente, a ler matérias, em diversas fontes, sobre
nossa conjuntura social, política e econômica. Dentre elas, havia assistido a
uma videoconferência de Lula para um auditório em Milão, na Itália, que contava
com a presença do primeiro-ministro daquele país, um ministro outro, italiano,
também, em que o assunto foi o combate à fome – tipo de assunto normalmente censurado pela
grande imprensa, por motivos óbvios; outra, foi uma postagem de
uma viúva, por pouco tempo casada, de uma das vítimas do acidente que ceifou a
vida do candidato à presidência da República e outros, em agosto do ano passado,
um dos membros mais importantes da campanha do ex-governador. Sabia muito bem
das coisas que poderia ler partindo de uma jovem viúva integrada em campanha eleitoral
de candidato oposto ao da minha preferência; além do mais, integrante da mais
alta elite pernambucana e posteriormente colaborada da campanha da candidata do
Solidariedade (solidariedade, a quem?). Mas, mesmo assim, minha curiosidade era
muito grande: “Eu não imaginaria, nem no meu pior
pesadelo, casar e – quatro meses depois – estar na Base Aérea no Recife
esperando o caixão do meu marido chegar em um dos três aviões da Força Aérea
Brasileira (FAB) que transportaram as sete vítimas...Vejam o que é o destino [Êpa!]
ou chamem como preferir. Chegamos a cursar algumas cadeiras na mesma faculdade
de Jornalismo, mas temos uma vaga lembrança disso...Nessa loucura toda, teve um
descanso: a noite do aniversário de Renata Campos, cinco dias após o desastre.
Na casa dela no Recife, esticamos até de madrugada, numa contação de história
sem fim, aplacando a saudade. Foi muito riso. A gente chorou de rir, como se
diz. Obra divina.”. Abstraio-me de comentar seu texto, até por
respeito à sua dor.
Fico a me
perguntar se tudo o que me ocorreu não tem a ver com a impressionante entrevista a que
assisti ontem na TV Brasil, com o autor de Cidade de Deus. O cara para tudo
possuía resposta. Perguntas tais como: Você acredita em Deus? O que é o
destino? Você tem medo da morte? Etc., etc. Indagações que bolem profundamente comigo,
que transcendem, até, a vida intra-uterina. Medo da morte? E por que a
incansável busca pela imortalidade, senão o eterno temor pela morte?