quarta-feira, 10 de junho de 2015

Uma "viagem"

De repente, olho para o relógio do note-book e leio “16h20”. Estranho, penso, ao tempo em dirijo o olhar para o celular e este me confirma o horário.
Estava a “viajar” pela internet e não sei há quanto tempo, quando fui chamado à realidade, à minha real posição, digamos assim, por um sinal de chegada de mensagem pelo WhatsApp de Fernanda, querida filha.
A sensação, que tive de momento e que, por toda a minha vida jamais me ocorrera, foi de recusa em acreditar no real tempo e que estaria ainda em período matinal, esquecendo-me, como recusando também que já havia almoçado. Admito que frequentemente faço “viagem” com o pensamento como qualquer pessoa deva fazer, mas desta vez a “viagem” foi longa e de afastamento do espaço  – sabe aquela coisa da Relatividade do Tempo. Êpa! Não, não estou doido e nem querendo me atrever a teorizar sobre a teoria do alemão, que gostou de mostrar a língua e apresentar-se descabelado; por favor, né? e que ao retorno à realidade deixou-me a impressão de ter voltado no tempo, coisa assim. Durante a “viagem” martelaram insistentemente o pensamento expressões “Você acredita em Deus?”; “O que é o destino?”; “Você tem medo da morte?” e respectivas respostas ouvidas na noite anterior num programa televisivo. 
Para ser franco, ao chegar à realidade devo ter sentido o que uma pessoa provavelmente sente quando, por razões outras, tem alterada sua consciência, alteradas suas faculdades mentais momentaneamente. O que comumente se chama de transe. Que estranho!
Devo esclarecer de pronto que não estava a ler, a visitar textos esotéricos ou que o valham. Não! Estava, tão somente, a ler matérias, em diversas fontes, sobre nossa conjuntura social, política e econômica. Dentre elas, havia assistido a uma videoconferência de Lula para um auditório em Milão, na Itália, que contava com a presença do primeiro-ministro daquele país, um ministro outro, italiano, também, em que o assunto foi o combate à fome – tipo de assunto normalmente censurado pela grande imprensa, por motivos óbvios; outra, foi uma postagem de uma viúva, por pouco tempo casada, de uma das vítimas do acidente que ceifou a vida do candidato à presidência da República e outros, em agosto do ano passado, um dos membros mais importantes da campanha do ex-governador. Sabia muito bem das coisas que poderia ler partindo de uma jovem viúva integrada em campanha eleitoral de candidato oposto ao da minha preferência; além do mais, integrante da mais alta elite pernambucana e posteriormente colaborada da campanha da candidata do Solidariedade (solidariedade, a quem?). Mas, mesmo assim, minha curiosidade era muito grande: “Eu não imaginaria, nem no meu pior pesadelo, casar e – quatro meses depois – estar na Base Aérea no Recife esperando o caixão do meu marido chegar em um dos três aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) que transportaram as sete vítimas...Vejam o que é o destino [Êpa!] ou chamem como preferir. Chegamos a cursar algumas cadeiras na mesma faculdade de Jornalismo, mas temos uma vaga lembrança disso...Nessa loucura toda, teve um descanso: a noite do aniversário de Renata Campos, cinco dias após o desastre. Na casa dela no Recife, esticamos até de madrugada, numa contação de história sem fim, aplacando a saudade. Foi muito riso. A gente chorou de rir, como se diz. Obra divina.”. Abstraio-me de comentar seu texto, até por respeito à sua dor.

Fico a me perguntar se tudo o que me ocorreu não tem a ver com a impressionante entrevista a que assisti ontem na TV Brasil, com o autor de Cidade de Deus. O cara para tudo possuía resposta. Perguntas tais como: Você acredita em Deus? O que é o destino? Você tem medo da morte? Etc., etc. Indagações que bolem profundamente comigo, que transcendem, até, a vida intra-uterina. Medo da morte? E por que a incansável busca pela imortalidade, senão o eterno temor pela morte?