quinta-feira, 16 de julho de 2015

Os MeusTemores e os Temores de Luiz Fernando Veríssimo

Será que a grande maioria das pessoas do bem e que só querem o bem da nossa nação e o nosso bem estar geral, com um mínimo de inteligência, ainda não entendeu o que se está a engendrar no sentido da implantação do caos no país? Quando os progressistas todos, os bem intencionados, aqueles que se preocupam com um desenvolvimento do país que reduza a desigualdade social e a perversa concentração de renda, aqueles que podem reunir a boa parcela da sociedade, afinal irão reagir à conjuntura que as forças do mal estão a formar?
O que Luis Fernando Veríssimo escreve - extraído do Conversa Afiada - e que transcrevo a seguir é um ALERTA!  
Luis Fernando Verissimo
Às vezes imagino como seria ser um judeu na Alemanha dos anos 20 e 30 do século passado, pressentindo que algo que ameaçava sua paz e sua vida estava se formando mas sem saber exatamente o quê
No filme “2001 — Uma odisseia no espaço”, do Stanley Kubrick, astronautas descobrem na Lua (ou era em Marte?) um misterioso monólito, de origem desconhecida. Depois fica-se sabendo que o monólito fora posto ali como uma espécie de alarme. Quando exploradores da Terra o descobrissem, seria o sinal de que nossa civilização tinha os meios para invadir o espaço e se tornava uma ameaça para as civilizações extraterrenas que nos estudavam de longe desde que o primeiro primata acertara a primeira cacetada na cabeça de outro, e sabiam do que nós éramos capazes. A descoberta do monólito era um aviso: atenção, a barbárie vem aí, disfarçada de conquista científica.
Às vezes imagino como seria ser um judeu na Alemanha dos anos vinte e trinta do século passado, pressentindo que alguma coisa que ameaçava sua paz e sua vida estava se formando mas sem saber exatamente o quê. Este judeu hipotético teria experimentado preconceito e discriminação na sua vida, mas não mais do que era comum na história dos judeus. Podia se sentir como um cidadão alemão, seguro dos seus direitos, e nem imaginar que em breve perderia seus direitos e eventualmente sua vida só por ser judeu. Em que ponto, para ele, o inimaginável se tornaria imaginável? E a pregação nacionalista e as primeiras manifestações fascistas deixariam de ser um distúrbio passageiro na paisagem política do que era, afinal, uma sociedade em crise mas com uma forte tradição liberal, e se tornaria uma ameaça real? O ponto de reconhecimento da ameaça não era evidente como o monólito do Kubrick. Muitos não o reconheceram e morreram pela sua desatenção à barbárie que chegava.
A preocupação em reconhecer o ponto pode levar a paralelos exagerados, até beirando o ridículo. Mas não algo difuso e ominoso se aproximando nos céus do Brasil, à espera que alguém se dê conta e diga “Epa” para detê-lo? Precisamos urgentemente de um “Epa” para acabar com esse clima. Pessoas trocando insultos nas redes sociais, autoridades e ex-autoridades sendo ofendidas em lugares públicos, uma pregação francamente golpista envolvendo gente que você nunca esperaria, uma discussão aberta dentro do sistema jurídico do país sobre limites constitucionais do poder dos juízes... Epa, pessoal.
Se está faltando um monólito para nos avisar quando chegamos ao ponto de reconhecimento irreversível, proponho um: o momento da posse do Eduardo Cunha na presidência da nação, depois do afastamento da Dilma e do Temer.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

O FRACASSO DA SELEÇÃO BRASILEIRA

Como se não bastassem as humilhantes derrotas da nossa seleção na mais recente Copa do Mundo da Fifa, assistimos ao ultraje de sermos derrotados por uma seleção paraguaia que, sempre foi inferior e presentemente não passa por bons momentos.
Para me ater ao jogo em si, o empate conseguido pelos paraguaios foi fruto menos do que fazia àquela altura a nossa seleção e do que positivamente produziam os adversários, porém mais creditado a uma infantilidade, melhor dizendo, de um ato sobrenatural, do zagueiro Tiago Silva ao “meter” escandalosamente a mão na bola, como numa jogada de voleibol, dentro da área numa disputa pelo alto e digo ato sobrenatural baseado em suas próprias explicações pós-jogo: “não me lembro de ter usado a mão...”. É talvez tenha havido a interferência do além, quem sabe? Um adendo oportuno: este rapaz ao que parece sofre de algum sério abalo emocional; veja-se seu comportamento durante a já referida copa do mundo. Pois é, a infantilidade do zagueiro, somada às inqualificáveis cobranças de penalidades decretaram a eliminação do nosso selecionado na competição. Acho, até, que uma eliminação providencial, poupando-nos de um subsequente vexame maior. (O texto até aqui havia sido concluído antes que a seleção da Argentina goleasse impiedosamente o verdugo do nosso selecionado e bem antes de a seleção chilena sagrar-se pela primeira vez campeã da Copa América, após jogo, de 120 minutos e disputa por pênaltis, em que deteve sempre o domínio).
Eu, com meu parco conhecimento de futebol, acredito que não poderia haver um time melhor selecionado do que o eliminado. Com exceção de um ou outro justificado assim por conta das condições clínicas/físicas de possíveis excluídos, são as peças disponíveis para formar um time, no que respeita ao nosso selecionado, mesmo porque não dispomos de tantas opções como outrora. Que saudade!
Agora, combinemos, ver o que jogam certos jogadores em seus times, principalmente no exterior, e o que produzem/produziram recentemente é de se lastimar. Dizem que a culpa é do técnico que quer jogo diferente e até prejudicial ao estilo de cada um. Qual nada! Jogador que se presa e tem competência assume o que fazer dentro do campo. Recentemente, veio a público uma história pela qual o “Canhotinha de Ouro” teria decidido, enquanto um seu colega era atendido pelo médico, que o volante (oh! Quanta diferença entre o significado da função daqueles bons tempos e o seu significado atual), “Corró”, como era carinhosamente chamado por seus companheiros, Clodoaldo avançasse surpreendentemente em direção ao ataque, com o recuo dele, Gerson, que vinha sendo implacavelmente marcado, o que resultou em gol de empate pelo próprio Clodoaldo, àquela altura. E não é à toa que dois jogadores argentinos foram flagrados, agora, zombando do que supostamente lhes teria dito seu chefe, o técnico, ninguém menos que Tata Martino. Há histórias e mais histórias de um só jogador ou um grupo de jogadores que em campo resolvem modificações para ganhar jogo. Mas abandonemos o choro de perdedor e concedam-me o atrevimento de imiscuir-me no universo notoriamente chamado “fora de campo”.
A falta de organização estrutural do nosso futebol tem muito a ver com a vergonhosa conivência dos que podem determinar atitudes com objetivos na formação da matéria prima, que são os jogadores e do seu amadurecimento dentro do próprio país, ou seja, nos seus clubes, evitando-se, com inteligentes medidas, o “rapto” de imberbes jogadores, pelo poder econômico. Querem melhor exemplo de quando aqueles podem, até, ser agentes do próprio sistema? Um ex-goleiro e “ex” empresário de jogador até sua convocação, na direção técnica do selecionado. É como se milagrosamente transmudasse uma raposa em qualquer outro ser para ser guardiã de um galinheiro, de uma hora pra outra.
Tem muito a ver com a falta de uniformização de uma filosofia de jogo em todas as categorias de base nos clubes e nos respectivos selecionados nacionais. “...A deficiência na formação de jogadores está na infância, na adolescência, nas categorias de base.. Os treinadores das categorias de base são, geralmente, ex-atletas, que conhecem os detalhes do jogo, mas não conhecem a ciência de ensinar, ou treinadores acadêmicos, que sabem a ciência de ensinar, mas não sabem os detalhes de jogo. E preciso ter treinadores com os dois olhares”, (ensina Tostão).
E, acima de tudo, um reestudo do formato da competição nas diversas séries do campeonato nacional, (pontos corridos favorecem somente o grande capital, preciso explicar?), e - atenção! – uma forma mais justa de distribuição dos recursos financeiros advindos da participação de muitos em contrapartida para muito poucos que abocanham a grande fatia do bolo:
“ah! Mas o Flamengo tem a maior torcida (e vale para “Curíntias” e outros, “ô meu”), leva mais gente ao estádio, atrai mais audiência” diriam.
Como também, um reestudo no que tange (ai “Jisus”! - Lá vou eu bulir com um barril de pólvora) à exclusividade das transmissões televisivas dos jogos das séries do campeonato nacional e a um inteligente cardápio de horários de jogos. Existe inevitável competição entre os horários dos jogos e as transmissões ao vivo. Fatal concorrência na compra antecipada de ingressos para uma temporada, com a compra antecipada da transmissão televisiva. A compra antecipada de ingresso seria além da receita direta assegurada e assegurada ficaria a fidelidade do torcedor. Torcedor legítimo é o de arquibancada! E vivem a clamar, hipocritamente, por mais torcedores nos estádios, aqueles mesmos que são beneficiários da transmissão direta pela TV dos jogos.  
 Sobre estes últimos assuntos, há um silêncio sepulcral. Aqueles que podem desencadear reações neste sentido entrincheiram-se em suas cômodas posições, de onde se ouvem diuturnamente elogios e mais elogios, verdadeira babação, ao futebol do exterior e sua organização; ao seu sucesso de bilheteria; ao Messi; ao Barcelona, aos alemães, o que vem sendo difundido e absorvido solidamente pelo torcedor brasileiro. De se ouvir alguém dizer que torce para a Argentina, por causa de Messi que é do “seu” Barcelona. Como na política, (tudo, para aqueles, no Brasil é fracassado), o velho “complexo de vira-latas”.

Triste futebol brasileiro. 

sexta-feira, 3 de julho de 2015

O GOLPE EM MARCHA 2


Sem comentário, transcrevo o que segue:
De Paulo Moreira Leite, em seu blog:



Falta de curiosidade pela ligação entre empresários e o PSDB é escandalosa e revela falha essencial de apuração



Sempre que a seletividade das investigações da Lava Jato se torna um fato evidente como a silhueta do Pão de Açúcar na paisagem do Rio de Janeiro, aliados do juiz Sérgio Moro sacam um argumento conhecido: “um crime deve ser tolerado só porque outros o praticam?”

Inteligente na aparência, esse argumento tenta esconder uma verdade mais dura, inaceitável. Vivemos num país onde a seletividade não é um acaso — mas um método.

Essa visão benigna do problema ressurgiu agora, quando a delação premiada de Ricardo Pessoa, mesmo voltada para produzir provas e acusações contra o governo Dilma, Lula e o Partido dos Trabalhadores, não pode deixar de jogar luzes sobre a campanha do PSDB e outros partidos de oposição.

O recursos estão lá, demonstrando que Aécio Neves recebeu mais dinheiro do que Dilma. Que Aloysio Nunes Ferreira levou uma parte em cheque, a outra em dinheiro vivo. Julio Delgado, o relator da cassação de dois parlamentares — José Dirceu e André Vargas — foi acusado de embolsar R$ 150 000 reais de uma remessa maior enviada a Gim Argello para enterrar uma das diversas CPIs sobre a Petrobras.
Será a mesma que permitiu ao senador Sergio Guerra, então presidente do PSDB, levar R$ 10 milhões, uma quantia 66 vezes maior que a de Julio Delgado, para fazer a mesma coisa? Ou essa era outra CPI?

Não sabemos e dificilmente saberemos. A presença de altas somas nos meios políticos é uma decorrência natural das regras de financiamento de campanha, criadas justamente para que os empresários sejam recebidos de portas abertas pelos partidos e candidatos,com direito às mesuras merecidas por quem carrega uma mercadoria tão essencial, não é mesmo?

Não custa lembrar: justamente o PSDB foi responsável pela entrega de votos essenciais para a manutenção das contribuições de empresas privadas em campanhas eleitorais. Os tucanos gostam tanto desse tipo de coisa que, quando ocorreu uma segunda votação, na última chance para se conservar o sistema, até os dois parlamentares — só dois, veja bem –que se abstiveram na primeira vez foram chamados a fazer sua parte e não se negaram a participar de uma manobra que, além de tudo, tinha caráter anticonstitucional.

O PT, seletivamente investigado na Lava Jato, votou contra.

Não é curioso? Não seria muito mais proveitoso entender o imenso interesse tucano pelo dinheiro dos empresários, os mesmos, exatamente os mesmos, que agora são interrogados e presos por longos meses depois que resolveram ajudar o PT?

Isso acontece porque a seletividade não é um acidente de percurso. Está na essência de investigações de grande interesse político — como a Lava Jato, a AP 470 — porque não interessa investigar todo e qualquer suspeito num país onde o Estado “se legitima” quando atua em defesa do ” grupo dominante,” nas palavras da professora Maria Silvia de Carvalho Franco.

Quando você escolhe o alvo e seleciona o inimigo, a regra fundamental de que todos são iguais perante a lei, qualquer que seja sua raça, origem social ou credo, deve ser ignorada porque só atrapalha o serviço. A igualdade deve ser substituída pela seletividade.

No Brasil colonia, a Coroa portuguesa procurava hereges que pudessem ser julgados pela inquisição. Eles eram procurados até nos banheiros, acusados de proferir blasfêmias que ofendiam a Igreja Católica. Localizados e presos, eram conduzidos a Portugal, aprende-se nos relatos do livro Tempo dos Flamengos, do pesquisador Antônio Gonsalves (com “s” mesmo) de Mello.

Esse tratamento, brutal, inaceitável, era coerente com um regime absolutista, no qual homens e mulheres eram desiguais por determinação divina. A seletividade fazia parte natural das coisas.

Em tempos atuais, onde a democracia é um valor universal, é preciso escolher muito bem os alvos e ter noção de seu significado. Quem legitima a escolha? Os meios de comunicação, a principal correia de transmissão entre as ações do Estado e o conjunto da sociedade, que também espelha o ponto de vista do mesmo ” grupo dominante.”

Não vamos esquecer que os mesmos jornais e revistas que hoje glorificam Sérgio Moro e em 2012 endeusaram Joaquim Barbosa também aplaudiram o delegado Sérgio Fleury e outros torturadores que eram apresentados como caçadores de terroristas. Questão de momento, vamos combinar.

Se a denúncia do caráter parcial de uma investigação obviamente beneficia quem está sendo prejudicado, o problema real é muito maior. A seletividade modifica a natureza do trabalho de apuração. Deixa de ser expressão de um erro, humano como todos os outros, para se tornar um método.

Quando uma investigação que deveria produzir uma decisão judicial isenta se transforma numa operação política, os objetivos mudam e os resultados também. Muitos culpados são apenas “culpados”, porque sua culpa está definida de antemão e só precisa ser confirmada pelas investigações. Vice-versa para quem se torna “inocente.”

Para dar um único exemplo, entre vários: policiais que trabalharam para AP 470 descobriram que o ex-ministro Pimenta da Veiga recebeu R$ 300 000 de Marcos Valério, em quatro cheques caídos em sua conta, meses depois do final do governo FHC. Embora essa soma seja seis vezes superior aos R$ 50 000 que João Paulo Cunha recebeu em sua conta, cumprindo pena de prisão por esse motivo, a investigação sobre Pimenta sequer está encerrada — doze anos depois dos cheques de Valério terem caído em sua conta. O ex-ministro tucano é culpado? Suspeito? Quem saberá?