quinta-feira, 10 de abril de 2014

Sobre a Compra de Pasadena

Eu sempre acho que altas transações financeiras, especialmente se  se envolve algum órgão público, sem sobras de dúvidas, pode haver, ao mínimo, intenções de apropriações indébitas. Digo isto para deixar bem claro que não tenho a menor dúvida que pode ter havido corrupção na transação de compra da refinaria norte-americana (ou em território norte-americano), mas que houve intenções deliberadas da direção da Petrobrás e do Conselho de Administração, isto não! Não fosse um governo trabalhista e, sim, um desses governos anteriores, a refinaria de Pasadena compraria a Petrobrás. Como já se cogitou de vendê-la, com o nome PETROBRAX, (vejam BRAS de Brasil foi seria simplesmente retirado).  Mas vejamos o que diz o ex-Presidente da Petrobrás, o baiano Sérgio Gabrielli.

Nessa terça-feira (06), Paulo Henrique Amorim entrevistou o Secretário de Assuntos Estratégicos da Bahia e ex-presidente  da Petrobras Sérgio Gabrielli.

Gabrielli participou pela manhã de uma audiência pública no Senado Federal, onde deu esclarecimentos sobre a compra da refinaria de Pasadena, no Texas, EUA.

Em 2012, uma reportagem da Agência Estado afirmou que a Petrobras pagou pela refinaria um preço dez vezes maior do que ela efetivamente valia.

O MPF do Rio e o Tribunal de Contas da União investigam a compra.


Segue a íntegra da entrevista.


PHA: Foi um bom negócio comprar a Pasadena?

Gabrielli: Foi um negócio absolutamente normal, no período em que foi realizado. Qual é esse período? Um período em que as margens das refinarias nos EUA estavam muito altas; que comprar refinarias com baixa capacidade de processar petróleo pesado era bom; em que nós tínhamos expectativa de crescer na nossa produção de petróleo pesado; e que nosso mercado de derivados estava estagnado desde 1998.Era uma estratégia que estava definida desde 1999.

Desde 1999, a Petrobras definiu como estratégia aumentar a capacidade de refino no exterior uma vez que a visão que se tinha naquela época era de que o nosso mercado não ia crescer. Portanto, não deveríamos crescer no número de refinarias no Brasil. Situação completamente diferente da de hoje, quando o mercado brasileiro é um mercado crescente no consumo de derivados; precisamos crescer no número de refinarias no Brasil; e que nós começamos a produzir, depois do pré-sal, petróleo leve. Portanto, é uma mudança que aconteceu no mercado, no mundo, e no Brasil.


PHA: Naquela altura, não havia capacidade de refino de óleo pesado no Brasil?

Gabrielli: Naquela altura, nós estávamos iniciando um processo de investimento nas nossas refinarias, todas construídas antes de 1980 – a última refinaria no Brasil é de 1980, a refinaria de São José dos Campos. Essas refinarias, foram todas desenhadas para processar óleo leve e importado, porque nós não tínhamos produção de petróleo o suficiente. Portanto, com pouca capacidade de refino de petróleo pesado. E, por isso, precisava ser feita uma série de investimentos. Está tendo fim agora esse ciclo de investimentos nas refinarias.

Esses investimentos foram feitos para construir unidades de coqueamento [processo térmico usado para converter a parte pesada do petróleo em produtos mais leves, destiláveis], e unidades que reduzem o chamado “fundo do barril”, produzindo mais díesel; gasolina; mais nafta; querosene de aviação; mais derivados leves.


PHA: O valor que o senhor pagou pela refinaria de Pasadena foi o preço de mercado, ou foi acima do preço de mercado?

Gabrielli: Foi abaixo do preço de mercado, pela capacidade de destilação. Nós compramos a refinaria, os primeiros 50% da refinaria, por 190 milhões de dólares, por 50 mil de barris por dia de capacidade de refino, portanto, pagamos 3.800 dólares por barril destilado dia.

A média das operações de 2006 é de 9.478 dólares. Portanto, a refinaria de Pasadena foi comprada, em termos de destilação, abaixo da média do preço na compra de refinarias em 2006. O que está sendo confundido é que, além disso, a Petrobras também adquiriu estoques de petróleo e derivados, que foram processados e foram vendidos. Isso levou dos 190 milhões, para os 360 milhões, pelos 50% iniciais.

Os 50% finais, que são fruto de um processo de contestação judicial e arbitral mútuo, tanto da Petrobras como da Astra [sócia da Petrobras no negócio], foram adquiridos por 296 milhões de dólares. Portanto, 296 milhões, mais 190 milhões dá 486 milhões de dólares por 100 mil barris de capacidade de processamento. 4.860 é menos ainda do que a média de aquisições em 2006 que foi de 9.478 dólares por barril em capacidade de refino.

Portanto, volto a dizer, em termos de capacidade de refino, o negócio foi muito bem, dentro da conjuntura de mercado de 2006. Além disso, a Petrobras comprou estoques, e pagou por garantias bancárias, para as transações comerciais. Isso quer dizer que o valor total que a Petrobras pagou não pode ser todo atribuído à refinaria. Tiveram estoques, que foram processados, vendidos e que geraram faturamento. Por uma linha muito simples, a Petrobras faturou nesse período o equivalente – se fizermos a suposição de que ela operou com 70% da capacidade, ela processou 70 mil barris por dia, um processamento de 70 mil barris por dia, mesmo que não tenha margem nenhuma, a preço igual ao petróleo Brent – da um faturamento de 16 bilhões de dólares.


PHA: Não havia alternativa à Pasadena, uma vez que os 50% foram adquiridos dessa empresa belga, a Astra, o que acabou resultando num litígio que obrigou a Petrobras a adquirir os 50% adicionais do sócio?

Gabrielli: A última refinaria que foi construída nos Estados Unidos, nova, chamada refinaria de Greenfield, foi construída em 1976. De lá pra cá, os investimentos eram feitos em aumento da capacidade de conversão das refinarias, ou seja, do processamento de petróleo pesado, e na melhoria da qualidade do produto.

As movimentações na propriedade das refinarias são de compra e troca de ativos em refinarias já existentes. As refinarias são adquiridas por oferta do proprietário da refinaria. E o comprador olha duas questões: primeiro, o tipo de capacidade que a refinaria tem de processar o petróleo que ele dispõe; e, segundo, a localização e a logística de fornecimento de matéria-prima e de escoamento da produção.

No que se refere à logística, Pasadena está extremamente bem localizada. Ela está no Texas, no Golfo do México, ela está ligado ao maior oleoduto que liga o Texas ao mercado do Leste americano, portanto ela é uma refinaria muito bem localizada. O segundo elemento importante é a capacidade de refino, de processar o nosso petróleo. Você não compra uma refinaria top de linha, porque uma refinaria top de linha já está com toda a margem calculada no seu valor. Você compra uma refinaria mais simples, para você investir nela, e receber o retorno na margem do investimento.


PHA: Quando foi construída Pasadena?

Gabrielli: A Pasadena foi construída há muito tempo, mas  foi adquirida pela Astra em janeiro de 2005, por 42 milhões de dólares. A Astra investiu 84 milhões de dólares, as margens mudaram muito profundamente entre 2005 e 2006, o que fez a Petrobras pagar pela metade da refinaria 190 milhões de dólares – o que é absolutamente normal num mercado que estava em grande crescimento.


PHA: No mercado de hoje, na situação atual, com a produção do petróleo mais leve do pré-sal, ainda é uma boa ideia Pasadena?

Gabrielli: Em 2006 e 2007 nós fizemos uma mudança muito profunda na nossa estratégia de refino. Nos saímos da estratégia de buscar refino no exterior para aumentar o refino no Brasil. Nós lançamos a construção da refinaria Abreu e Lima; a construção do COMPERJ para processar petróleo pesado; a construção da refinaria do Maranhão; a construção da refinaria do Ceará; e a reformulação da refinaria do Rio Grande do Norte, a Clara Camarão.

Essa é uma mudança que vem de 2006 para 2007. Porque o mercado brasileiro de combustíveis, diferente do que foi em 1998 à 2005, começa a crescer a partir de 2006 e, portanto, nós começamos a observar que era necessário aumentar a capacidade de refino no Brasil. Ao mesmo tempo, com o pré-sal, nós aumentamos a capacidade de produzir petróleo leve no Brasil;  portanto nós mudamos completamente o cenário de refino no exterior.

Com relação ao exterior, a crise de 2008 derrubou a economia americana, derrubou o consumo de derivados nos EUA, derrubou as margens dos Estados Unidos, e todos os projetos de investimento tiveram puxado o freio no que se refere ao refino.


PHA: Nesse quadro de hoje, ainda se justifica ter Pasadena, ou é melhor passar adiante?

Gabrielli: Não, não justifica ter Pasadena, mas passar adiante depende das condições especificas das margens dos derivados. Se não, você vai vender ela a um preço muito baixo. Então, talvez seja melhor mantê-la para vendê-la mais adiante com uma condição de oportunidade melhor para vender.


PHA: O senhor acredita que o mercado continuará demandando mais refino de petróleo leve, ou mais lá na frente, é possível que o Brasil precise ter Pasadena mais uma vez?

Gabrielli: O mercado americano mudou a relação de óleo leve/óleo pesado. Hoje, o óleo leve está mais barato que o pesado, então, hoje, o óleo pesado já não é tão vantajoso como era no passado.


PHA: Como o senhor avalia a inquirição dos senadores?

Gabrielli: Eu acho que houve um esclarecimento generalizado que vai tirar da pauta essas interpretações equivocadas que tivemos em uma operação absolutamente normal.