Por acaso, tomei conhecimento pela TV da história envolvente
da uma certa criança. Esta criança caminha, corre, nada, faz e acontece. Por estas
e outras é que sou forçado a rever o meu conceito de velhice, o meu conceito
sobre o idoso. Quem me conhece sabe que sou um setentão (como se dizia noutros
tempos), que reconhece as limitações que a idade impõe, ao tempo em que não se
entrega ao sedentarismo, à inatividade, pelo contrário. Sou uma pessoa, de
certa forma, ativa, que sempre se preocupou com o físico, a condição física,
etc. etc. E que não concordo com a tese de que “velhice é cabeça”, que basta
conceber que se é jovem, para simplesmente sê-lo. Eu venho com a antítese:
acordo, e levanto-me supondo ter meus trinta, quarenta anos, quando, então,
deparo-me à minha própria figura ao espelho, a reavaliação etária multiplica
por muito a idade. É quase uma decepção.
Bem depois desta premissa, volto à criança. A infantil
criatura vai entrar para o livro dos recordes, ou como se diria na língua de Shakespeare,
para o guiness book, pelo fato de, na sua idade,
saltar de paraquedas. Sim, foi montado todo aparato, câmeras de TV, repórteres,
apresentadores para presenciar e gravar, para a eternidade, todo o ato, desde a
preparação em terra, vestes apropriados, instruções técnicas, procedimentos
adequados no quando e durante a queda e aterrissagem, embarque no avião e,
finalmente, o salto. E, até, uma representante da Confederação Brasileira de
Paraquedismo foi acionada, para atestar oficialmente a proeza.
Sim, a criança é brasileira, “mais uma vez o mundo se curva diante
do Brasil”, alguém já disse. O salto se deu, ao que me parece, ontem, dia
19/08, próximo às cataratas do Iguaçu, no Paraná, infelizmente fugiu-me o nome
da bendita. Ela é contemporânea das duas guerras mundiais, vibrou com as cinco
conquistas da seleção brasileira de futebol, assistiu à chegada do primeiro
homem à lua, tem filhos, netos e bisnetos, nasceu em 1909 é, portanto, da
primeira década do século passado. É natural do Amapá e quando nasceu não
existia, ainda, o exTerritório Federal do Amapá (criado em 1943). Tem somente
cento e quatro anos.
Realmente, virar as 104 páginas do livro da vida, com a
disposição e fulgurante alegria daquela criança, faz-me repensar e dizer, vamos
viver! Leiamos tantas e tantas páginas da vida!