terça-feira, 11 de junho de 2013

“Loucos por Futebol (LPC)” - 1


Estava a assistir um programa em canal fechado de TV com o título acima. Estavam os jornalistas a abordar as estranhas manias de colecionadores de coisas do futebol. No exato momento em que sintonizava o canal eis que estava ali um torcedor do Bahia a mostrar a sua mania: coleção de camisas originais usadas por aquele clube durante toda sua trajetória. É camisa do título nacional de ’88; camisa do fatídico jogo da final do campeonato baiano de ’94. Digo fatídico por causa do gol de Raudinei e outras camisas mais e fiquei sabendo que há outro torcedor, desta feita do Vitória, que está preparando outra coleção de camisas. Isto me levou a viajar pelas histórias que tenho na memória acerca de futebol. Futebol este que “bole” com milhões e mais milhões de cabeças humanas e a minha incluída.

Vasco da Gama X Ypiranga

Transporto-me para os idos dos anos 50. Ainda criança e, por influência de meu pai, simpatizava-me com o Esporte Clube Ypiranga, clube que em décadas anteriores era de muito respeito, não era a sombra (pelo que ouvi dizer) do que é hoje, disputante da 2ª divisão do campeonato baiano de futebol. Pois bem, soubera que o “velho” Ypiranga (é com ípsilone, mesmo) teria viajado para o Rio de Janeiro, a fim de disputar uma partida amistosa com o Clube de Regatas Vasco da Gama. Orgulhoso, preparei-me para ouvir pelo “amigos ouvintes”, em casa do nosso senhorio; pois, que na nossa minúscula casa, não havia aquele utensílio elétrico. E eis que ouvi a transmissão, se não me engano, pela Rádio Sociedade da Bahia.
E a transmissão é um caso à parte, o aparelho era daqueles pré-históricos, uma peça de volume considerável, tendo como capa um pequeno móvel de madeira, envernizado,  bonito até. Minha curiosidade me levou a observar a parte de trás e ali se viam pequenos e grandes artefatos de formatos variados e as velhas válvulas emitindo forte clarão e intenso calor. E a transmissão?  O som chegava e se ia como marolas entremeadas de estampidos, sentia-me no mar, sob suas ondulações e abaixo de um céu com raios e trovões. Mas seguia, ou tentava seguir atentamente a voz do locutor, quase que extasiado. E, assim, testemunhei “o mais querido” ser “lavado” por 7 a 1, sendo que o gol de honra foi feito por Antônio Mário, o seu “centrefó”, como ouvia ser chamado hoje o camisa 9.

Taça Brasil, 1959, Campeonato de 1988

Hoje eu me admiro como a rivalidade entre clubes de futebol se acirrou de uma maneira que tem levado até a guerra entre “gangs”, como é o caso da Bamor versus Imbatíveis. Pois bem, digo admirado porque mesmo não sendo Bahia, eu, assim como muitos outros, torcemos naquela oportunidade pelo tricolor baiano e foi assim que eu vibrei e festejei quando da conquista da Taça Brasil, pois havia entre nós o sentimento da baianidade no futebol, mesmo. Fato que encheu de orgulho muitos baianos que não torciam pelo Bahia.
Nos idos de 80, já imperando a rivalidade, o Bahia foi campeão brasileiro. Desta feita, não me comoveu, nada. Mas há que se dizer que o formato daquela competição foi diferente da atual, ou seja, em ’88 não havia ainda pontos corridos. Mas de qualquer forma, reconheço tranquilamente as duas estrelas do Bahia.

Um Pouco do E. C. Vitória, Fonte Nova, Barradão...

Bem, minha história com o E.C. Vitória começava exatamente nos idos de 1950. Eu tinha dez anos quando o rubro negro foi campeão, em cima do seu maior rival (2 X 1), com Nadinho, Valvir...Alencar e Ciro; o ataque daquele time era arrasador, comandado por um certo Quarentinha, um dos maiores goleadores que passaram por ali. “A conquista do título de 1953 foi tão empolgante, que o goleito Nadinho a considerou mais marcante que a da Taça Brasil, com o rival Bahia, em 1959. ‘Muita gente desconfia de minha sinceridade, mas é a pura verdade [...]’ afirmou Nadinho” [do livro Barradão, alegria, emoção e Vitória]. Dali em diante eu ficava dividido entre o ressurgente Vitória e o simpático Ypiranga. Enquanto o E.C.V. crescia o velho Ypiranga entrava em decadência, de chegar ao cúmulo de, até, mudar de cores por imposição de um cartola que, ao que parece, somente entendia do abate de bovinos e sua comercialização. Naquela época, além de dividido entre os dois clubes, minha atenção ficava dividida entre o que se passava em campo; fora de campo, observando as diversas e inusitadas reações de torcedores; do comportamento dos apostadores. (Os caras apostavam sobre tudo! Qual time se apresentaria por primeiro; qual daria o “passe” [saída inicial do jogo]; pelo time que faria o primeiro gol) e outras coisas mais e, mais ainda, com o exercício da venda de refrigerantes (“olha aê o guaraná caçula”, mercava eu) e de cervejas por todas as arquibancadas. As décadas de 60 e de 70, são tempos para serem esquecidos, no que respeita a conquistas de títulos do futebol. Extraio do livro já mencionado a seguinte manchete: ”Anos 70. Bons times, um título apenas”. Realmente, o rubro-negro tinha naquela época  Osni, André e Mário Sérgio, como expoentes máximos, além de Gibira, Valter e outros, time que ficaria entre os primeiros no campeonato brasileiro de ’74.
(segue na próxima postagem)