quinta-feira, 1 de novembro de 2012

SOBRE AS RECENTES ELEIÇÕES


Baixada a poeira provocada pelas eleições municipais do último mês de outubro, há que se fazer uma reflexão.

Sobre a eleição em Salvador

Diante de uma série de fatores negativos (vejamos adiante), eu estive sempre contando com a vitória do candidato dos demo (é bem apropriado o apelido, não?), mesmo assim,  ainda restava um fio de esperança na virada de jogo. Mas impossível, tive que reconhecer, em face de setores ditos da esquerda, por um estúpido revanchismo, posicionaram-se a favor da direita retrógrada, de onde não podem vir, de forma alguma, medidas benéficas aos mais necessitados, medidas de cunho social. Realmente, a atuação do governo de Jaques Wagner, desastrosa na administração das greves dos PMs e, especialmente, dos Professores, além de não ter sabido comportar-se devidamente com relação à situação da capital , o que parece resultar em “uma Salvador abandonada” sob a responsabilidade de  uma mistura de João Henrique com Wagner,), para os menos desavisados.

Tudo isto foi decisivo na derrota de Pelegrino. Somado a isto, tem o prefeito eleito, Neto, a mídia em suas mãos, especialmente a TV Bahia, de sua propriedade, que logicamente não poupou esforços no sentido de fazer, mesmo subliminarmente, campanha pelo seu dono. Os votos de Mário Kertész, de origem na classe média, o terceiro colocado no 1º turno, não fosse o revanchismo de certa esquerda e a maciça campanha midiática do “mensalão”, poderia fazer alguma diferença. Enfim, além de tudo, o nome Pelegrino já é desgastado. Acredito que as esquerdas realmente preocupadas com o direcionamento de políticas que visem tornar esta cidade habitável sob todos os aspectos, e não com interesses específicos, deverão aprender com a derrota e rever certos conceitos, principalmente criação de novas lideranças.

O PSOL e a realidade entre militância e governança

Tomo conhecimento de que “Prefeito eleito pelo PSOL em Macapá diz querer diálogo com Sarneye “ ...Não é o militante Clécio que está procurando o cacique José Sarney. É o prefeito que vai procurar a base parlamentar eleita pelo povo de Macapá para pedir ajuda. Para que eles cumpram seu papel institucional. Não podemos abrir mão da ajuda de ninguém. Então é necessário que a gente abra esse dialogo institucional republicano - justifica.e mais: “...elogia a adesão do DEM e do PSDB à sua candidatura no segundo turno.. O que dirão os “combatentes” militantes do partido que se diz símbolo da pureza política deste varonil Brasil e que “mata” o Partido dos Trabalhadores por causa de suas “inaceitáveis” alianças partidárias.

 

A Opinião Pública vs a Opinião Publicada

De Bob Fernandes, transcrevo um artigo publicado no Terra Magazine:

Outra vez a opinião pública derrotou a opinião publicada

Cada um irá ler e analisar o resultado da eleição com suas razões. Ou, com o fígado. Mais com o fígado do que com razões, muitos apostaram que Lula seria derrotado em São Paulo. Lula bancou sua maior aposta. E ganhou com Fernando Haddad na maior e mais poderosa cidade do Brasil.

Toneladas de papel, centenas de horas e horas nas rádios e TVs, bits e mais bits foram gastos para explicar como e porque Lula seria inexoravelmente derrotado. Se tivesse perdido, choveriam manchetes sobre a "estrondosa derrota", análises infindas brotariam com erros que teriam levado à "derrota monumental".

Já os números são inequívocos: o PT e o PSB saem da eleição com mais prefeituras e mais eleitores. Juntos, conquistaram 31% dos eleitores e 1.076 das prefeituras do Brasil. O PMDB, que encolheu, mesmo assim venceu em 1.026 cidades. Somente estes três partidos da base da presidente Dilma, PT, PMDB e PSB, governarão 2.102 das 5.556 cidades. E governarão 48% dos eleitores do Brasil.

Eduardo Campos (PSB) sai forte, fortíssimo das urnas. Pode seguir com mais espaço no governo Dilma, e pode começar a ensaiar seu voo solo. Não faltará quem queira o governador de Pernambuco em duetos, tercetos...

Aécio Neves (PSDB), no primeiro turno, também venceu. É paradoxal, como costuma ser a política, mas Aécio ganha espaço com a derrota de José Serra. Não há quem não saiba que os dois tucanos não se bicam.

José Serra perdeu para um conjunto de fatores: fadiga de material, má avaliação do prefeito Kassab, erros na campanha... mas Serra perdeu também para si mesmo.

Serra perdeu porque costuma subestimar os demais. Porque imagina, quase sempre, que "o outro" é um inimigo, seja o "outro" quem for. E essa é uma equação que não fecha. Menos ainda na política, onde a conta sempre chega.

Lula, Dilma e o PT perderam batalhas. Em Salvador, Campinas, Fortaleza, Porto Alegre, Recife... e outros tantos cantos. Como também perderam Eduardo Campos e Aécio Neves. Mas, é fato, eles venceram suas batalhas simbólicas.

Kassab e seu PSD ganharam 497 prefeituras... mas perderam a poderosa São Paulo, um símbolo com 6% do eleitorado do país.

Perderam os que superestimaram e apostaram em efeitos imediatos do julgamento no Supremo Tribunal Federal.

O chamado "mensalão" é um conjunto de fatos objetivos. De fatos graves, ou gravíssimos.

Mas não funcionou magnificar o "mensalão" ainda mais. Não funcionou fazer de conta que o "mensalão" é caso único e isolado na vida político-partidária brasileira.

O Brasil tem hoje 80 milhões de usuários na internet e 50 milhões usam redes sociais no cotidiano. Portanto, milhões e milhões de pessoas ouvem falar de outros escândalos, alguns monumentais. Esses escândalos não chegam às manchetes. Muitas vezes mal são noticiados, ou, nem são noticiados na chamada grande mídia. É como se tais escândalos não existissem.

Talvez por isso, mesmo com a gravidade do caso "mensalão", 20% dos eleitores do Brasil se abstiveram; em São Paulo, incluídos os nulos, o número bate nos 30%.

É muito, pode ser mesmo significativo de algo, mas quem é do ramo, como José Roberto de Toledo, de O Estado de S.Paulo, recomenda cautela: tais números precisam ser revistos à luz de uma atualização de cadastros; entre mortos e etc., a conta pode não ser exatamente esta.

Mas, fato objetivo, o "mensalão" não deu a vitória para quem se valeu do julgamento como arma e discurso principal na campanha.

O porque desse descompasso entre uma causa, "o mensalão", e o que tantos buscaram, os efeitos imediatos, para esta eleição, é coisa para pesquisadores, sociólogos e demais "ólogos". Mas cabem alguns raciocínios mais simples.

Por exemplo: das 5.556 cidades do Brasil, 70% têm menos de 20 mil habitantes (com 17% do eleitorado). Seus moradores, portanto, conhecem, sabem "quem leva" e "quem não leva". E sabem que o "levar" é, infelizmente, multipartidário.

O mesmo sabem moradores de milhares de cidades com dimensões que ainda permitem saber quem é quem. Ou, "quem leva" e "quem não leva". Talvez por isso o ex-governador de São Paulo Claudio Lembo (PSD) – que não é um perigoso esquerdista – tenha feito uma importante, intrigante pergunta depois da eleição:

- Os brasileiros estão afastados dos valores éticos, ou os eleitores se consideraram manipulados pelos mecanismos (os meios) de informação?

Diante do que se viu, se leu e se ouviu antes e durante as eleições, cabe uma constatação: em muitas porções do Brasil, e mais uma vez, a opinião pública derrotou a opinião publicada ”.