Baixada a poeira provocada pelas eleições municipais
do último mês de outubro, há que se fazer uma reflexão.
Sobre
a eleição em Salvador
Diante de uma série de
fatores negativos (vejamos adiante), eu estive sempre contando com a vitória do
candidato dos demo (é bem apropriado
o apelido, não?), mesmo assim, ainda
restava um fio de esperança na virada de jogo. Mas impossível, tive que
reconhecer, em face de setores ditos da esquerda, por um estúpido revanchismo,
posicionaram-se a favor da direita retrógrada, de onde não podem vir, de forma
alguma, medidas benéficas aos mais necessitados, medidas de cunho social.
Realmente, a atuação do governo de Jaques Wagner, desastrosa na administração
das greves dos PMs e, especialmente, dos Professores, além de não ter sabido
comportar-se devidamente com relação à situação da capital , o que parece
resultar em “uma Salvador
abandonada” sob a responsabilidade de “uma mistura de João Henrique com Wagner,),
para os menos desavisados.
Tudo isto foi decisivo
na derrota de Pelegrino. Somado a isto, tem o prefeito eleito, Neto, a mídia em
suas mãos, especialmente a TV Bahia, de sua propriedade, que logicamente não
poupou esforços no sentido de fazer, mesmo subliminarmente, campanha pelo seu
dono. Os votos de Mário Kertész, de origem na classe média, o terceiro colocado
no 1º turno, não fosse o revanchismo de certa esquerda e a maciça campanha
midiática do “mensalão”, poderia fazer alguma diferença. Enfim, além de tudo, o
nome Pelegrino já é desgastado. Acredito que as esquerdas realmente preocupadas
com o direcionamento de políticas que visem tornar esta cidade habitável sob
todos os aspectos, e não com interesses específicos, deverão aprender com a
derrota e rever certos conceitos, principalmente criação de novas lideranças.
O
PSOL e a realidade entre militância e governança
Tomo
conhecimento de que “Prefeito
eleito pelo PSOL em Macapá diz querer diálogo com Sarney” e “ ...Não é
o militante Clécio que está procurando o cacique José Sarney. É o prefeito que
vai procurar a base parlamentar eleita pelo povo de Macapá para pedir ajuda.
Para que eles cumpram seu papel institucional. Não podemos abrir mão da ajuda
de ninguém. Então é necessário que a gente abra esse dialogo institucional
republicano - justifica. ” e mais: “...elogia a adesão do DEM e do
PSDB à sua candidatura no segundo turno.”. O que dirão os “combatentes” militantes do partido
que se diz símbolo da pureza política
deste varonil Brasil e que “mata” o Partido dos Trabalhadores por causa de suas
“inaceitáveis” alianças partidárias.
A Opinião
Pública vs a Opinião Publicada
De Bob Fernandes, transcrevo um
artigo publicado no Terra Magazine:
“Outra vez a opinião pública derrotou
a opinião publicada
Cada
um irá ler e analisar o resultado da eleição com suas razões. Ou, com o fígado.
Mais com o fígado do que com razões, muitos apostaram que Lula seria derrotado
em São Paulo. Lula bancou sua maior aposta. E ganhou com Fernando Haddad na
maior e mais poderosa cidade do Brasil.
Toneladas
de papel, centenas de horas e horas nas rádios e TVs, bits e mais bits foram
gastos para explicar como e porque Lula seria inexoravelmente derrotado. Se
tivesse perdido, choveriam manchetes sobre a "estrondosa derrota",
análises infindas brotariam com erros que teriam levado à "derrota
monumental".
Já
os números são inequívocos: o PT e o PSB saem da eleição com mais prefeituras e
mais eleitores. Juntos, conquistaram 31% dos eleitores e 1.076 das prefeituras
do Brasil. O PMDB, que encolheu, mesmo assim venceu em 1.026 cidades. Somente
estes três partidos da base da presidente Dilma, PT, PMDB e PSB, governarão
2.102 das 5.556 cidades. E governarão 48% dos eleitores do Brasil.
Eduardo
Campos (PSB) sai forte, fortíssimo das urnas. Pode seguir com mais espaço no
governo Dilma, e pode começar a ensaiar seu voo solo. Não faltará quem queira o
governador de Pernambuco em duetos, tercetos...
Aécio
Neves (PSDB), no primeiro turno, também venceu. É paradoxal, como costuma ser a
política, mas Aécio ganha espaço com a derrota de José Serra. Não há quem não
saiba que os dois tucanos não se bicam.
José
Serra perdeu para um conjunto de fatores: fadiga de material, má avaliação do
prefeito Kassab, erros na campanha... mas Serra perdeu também para si mesmo.
Serra
perdeu porque costuma subestimar os demais. Porque imagina, quase sempre, que
"o outro" é um inimigo, seja o "outro" quem for. E essa é
uma equação que não fecha. Menos ainda na política, onde a conta sempre chega.
Lula,
Dilma e o PT perderam batalhas. Em Salvador, Campinas, Fortaleza, Porto Alegre,
Recife... e outros tantos cantos. Como também perderam Eduardo Campos e Aécio
Neves. Mas, é fato, eles venceram suas batalhas simbólicas.
Kassab
e seu PSD ganharam 497 prefeituras... mas perderam a poderosa São Paulo, um
símbolo com 6% do eleitorado do país.
Perderam
os que superestimaram e apostaram em efeitos imediatos do julgamento no Supremo
Tribunal Federal.
O
chamado "mensalão" é um conjunto de fatos objetivos. De fatos graves,
ou gravíssimos.
Mas
não funcionou magnificar o "mensalão" ainda mais. Não funcionou fazer
de conta que o "mensalão" é caso único e isolado na vida
político-partidária brasileira.
O
Brasil tem hoje 80 milhões de usuários na internet e 50 milhões usam redes
sociais no cotidiano. Portanto, milhões e milhões de pessoas ouvem falar de
outros escândalos, alguns monumentais. Esses escândalos não chegam às
manchetes. Muitas vezes mal são noticiados, ou, nem são noticiados na chamada
grande mídia. É como se tais escândalos não existissem.
Talvez
por isso, mesmo com a gravidade do caso "mensalão", 20% dos eleitores
do Brasil se abstiveram; em São Paulo, incluídos os nulos, o número bate nos
30%.
É
muito, pode ser mesmo significativo de algo, mas quem é do ramo, como José
Roberto de Toledo, de O Estado de S.Paulo, recomenda cautela: tais números
precisam ser revistos à luz de uma atualização de cadastros; entre mortos e
etc., a conta pode não ser exatamente esta.
Mas,
fato objetivo, o "mensalão" não deu a vitória para quem se valeu do
julgamento como arma e discurso principal na campanha.
O
porque desse descompasso entre uma causa, "o mensalão", e o que
tantos buscaram, os efeitos imediatos, para esta eleição, é coisa para
pesquisadores, sociólogos e demais "ólogos". Mas cabem alguns
raciocínios mais simples.
Por
exemplo: das 5.556 cidades do Brasil, 70% têm menos de 20 mil habitantes (com
17% do eleitorado). Seus moradores, portanto, conhecem, sabem "quem leva"
e "quem não leva". E sabem que o "levar" é, infelizmente,
multipartidário.
O
mesmo sabem moradores de milhares de cidades com dimensões que ainda permitem
saber quem é quem. Ou, "quem leva" e "quem não leva".
Talvez por isso o ex-governador de São Paulo Claudio Lembo (PSD) – que não é um
perigoso esquerdista – tenha feito uma importante, intrigante pergunta depois
da eleição:
-
Os brasileiros estão afastados dos valores éticos, ou os eleitores se
consideraram manipulados pelos mecanismos (os meios) de informação?
Diante do que se viu, se leu e se ouviu antes e
durante as eleições, cabe uma constatação: em muitas porções do Brasil, e mais
uma vez, a opinião pública derrotou a opinião publicada ”.