Mino Carta é um dos mais brilhantes
jornalistas brasileiros. São poucos os jornalistas que têm a inteligência e a
paixão pela busca da verdade factual, deste grande profissional. Os órgãos de imprensa,
por ele dirigidos, sempre se pautaram por posicionamentos confrontantes com o
da grande imprensa, que está aliada ao grande capital, ao consumismo
desenfreado, aos interesses sempre escusos da retrógrada elite brasileira, aos
interesses da velha Casa Grande. Assim foi com a fundação da revista Veja, que
nada tem a ver com o trapo de revista que é hoje; com a Senhor, Isso É-Senhor e
a atualíssima Carta Capital (vida perene para ela). Por isto, sofre intenso
bombardeio da velha mídia.
Encontrei a matéria abaixo transcrita
no Blog de Luis Nassif e com muito prazer o reproduzo aqui. Além de ser uma
peça de defesa pelas insinuações descabidas contra si, provindas de certos setores
da grande mídia, é uma verdadeira aula da História da fase negra, dos “anos de
chumbo”, que viveu a população brasileira. Apreciemos esta beleza de texto.
Por
Mino Carta
“Mino
Carta é um chato, se pudesse reescreveria os Evangelhos. Inimigo do regime,
Geisel o detestava, mas não tinha rabo preso.” De um depoimento de João
Baptista Figueiredo, gravado em 1988 durante um churrasco amigo e divulgado
após a morte do último ditador da casta fardada.
No final de 1969, esta capa foi o maior desafio de
Veja à ditadura, mas já a da primeira edição dera problemas
É
do conhecimento até do mundo mineral que nunca escrevi uma única, escassa linha
para louvar os torturadores da ditadura, estivessem eles a serviço da Operação
Bandeirantes ou do DOI-Codi. Ou no Rio, na Barão de Mesquita. E nunca suspeitei
que a esta altura da minha longa carreira jornalística me colheria a traçar as
linhas acima. Meu desempenho é conhecido, meus comportamentos também. Mesmo
assim, há quem se abale a inventar histórias a meu respeito. Alguém que,
obviamente, fica abaixo do mundo mineral.
Não
me faltaram detratores vida adentro, ninguém, contudo, conseguiu provar coisa
alguma que me desabonasse. Os atuais superam-se. Um deles se diz jornalista,
outro acadêmico. Pannunzio (repórter da
TV Bandeirante e blogueiro) & Magnoli, binômio perfeito para uma dupla
do picadeiro, na hipótese mais generosa de uma farsa cinematográfica.
Esmeram-se para demonstrar exatamente o que soletro há tempo: a mídia nativa
prima tanto por sua mediocridade técnica quanto por sua invejável capacidade de
inventar, omitir e mentir.
Afirmam
que no meu tempo de diretor de redação de Veja defendi a pena de morte contra
“terrorristas”, além de enaltecer o excelente trabalho da Oban. Outro
inquisidor se associa, colunista e blogueiro, de sobrenome Azevedo. E me
aponta, além do já dito, como um singular profissional que não aceita
interferência do patrão. Incrível: arrogo-me mandar mais do que o próprio.
Normal que ele me escale para o seu auto de fé. O Brasil é o único país do meu
conhecimento onde os profissionais chamam de colega o dono da casa.
Não
há nas calúnias que me alvejam o mais pálido resquício de verdade factual. Os
textos que me atribuem para baseá-las nascem de uma mistificação. Pinçados ao
acaso e fora do contexto, um somente é de minha autoria e nada diz que me
incrimine. E pouparei os leitores de disquisições sobre minha repulsa visceral,
antes ainda que moral, à prisão sem mandado, à tortura e à pena de morte.
Quando o Estadão foi pioneiro na publicação de um artigo assinado Magnoli,
limitei-me a escrever um breve texto para o site de CartaCapital, destinado a
contar a história de outra peça de humorismo, escrita em 1970 por um certo
Lenildo Tabosa Pessoa, redator, vejam só, do Estadão, e intitulada O Senhor
Demetrio. Ou seja, eu mesmo, marcado no batismo por nome tão pesado.
A
bem de minha honra, Geisel me detestava. Foto: AE
Lenildo
pretendia publicar seu texto no jornal, os patrões, Julio de Mesquita Neto e
Ruy Mesquita, não deixaram. Surgiu em matéria paga o retrato de um hipócrita
pretensamente refinado que, como Arlequim da política, servia ao mesmo tempo
Máfia e Kremlin. O senhor Demetrio, de codinome Mino. Diga-se que Lenildo
encontraria eco três anos depois no programa global de um facínora chamado
Amaral Neto, (ganhou muita grana fazendo
reportagens para a TV sob a inspiração do tema ditatorial “pra frente Brasil”)
também identificado como Amoral Nato, que repetia Lenildo no vídeo. Como se vê,
tom e letra das calúnias estão sujeitos a mudanças ideológicas.
Ao
negarem espaço nas páginas da sua responsabilidade à diatribe de Lenildo, os
herdeiros do doutor Julinho quiseram respeitar a memória do meu pai, que
trabalhou no Estadão por 16 anos, e meu honesto e leal desempenho na criação da
Edição de Esporte e do Jornal da Tarde. O Estadão, evidentemente, não é mais o
mesmo. Lenildo e Amaral Neto me tinham como perigoso subversivo de esquerda. Em
compensação, hoje sou acusado de ter dirigido naquele mesmo 1970 uma Veja
entregue “à bajulação, subserviência e propaganda da ditadura”. É espantoso,
mas a semanal da Abril em 1970 era submetida à censura exercida na redação por
militares. Eu gostaria de saber o que acham os senhores Pannunzio, Magnoli e
Azevedo (a trinca toda é da grande
imprensa, conspiradora, difamadora) a respeito de quem na mídia brasileira
se perfilava illo tempore ao lado da ditadura. Ou seja, quase todos.
E
Arci, impávido, ofereceu a cabeça de Millôr Fernandes ao ministro Golbery.
Fotos: Marcelo Carnaval e Manoel Amorim/Ag O Globo
Quem,
de fato foi censurado? Os alternativos, então chamados nanicos, em peso, do
Pasquim, Opinião, que depois se tornaria Movimento, (todos estes alternativos eu lia semanalmente) sem exclusão de O
São Paulo, o jornal da Cúria paulistana regida por dom Paulo Evaristo Arns (um grande e seguro refúgio dos combatentes
da ditadura). A Veja, primeiro por militares, depois por policiais civis no
período Médici. Com Geisel, passou a ser censurada diariamente, de terça a
sexta, nas dependências da Polícia Federal em São Paulo, e aos sábados, à época
dia de fechamento, na própria residência de censores investidos do direito a um
fim de semana aprazível. Enquanto isso, Geisel exigia que os alternativos
submetessem seu material às tesouras censórias em Brasília, toda terça-feira.
Sim,
o Estadão também foi censurado e com ele o Jornal da Tarde. A punição resultava
de uma briga em família. O jornal apoiara o golpe, mas sonhava com a devolução
do poder a um civil, desde que se chamasse Carlos Lacerda. Este não deixava por
menos nas suas aventuras oníricas. O Estadão acabou sob censura, retirada
contudo em janeiro de 1975, no quadro das celebrações do centenário do jornal.
Carlos Lacerda foi cassado. Diga-se que ao Estadão permitia-se preencher os
espaços vagos deixados pelos cortes com versos de Camões, em geral bem escolhidos,
e ao Jornal da Tarde com receitas de bolo, às vezes discutíveis. O resto da
mídia não sofreu censura. Não era preciso.
Julio
Neto e Ruy Mesquita não dariam espaço às calúnias de um tal de Magnoli. Fotos:
Alfredo Fiaschi/AE e AE
Quando
me chamam para fazer palestras em cursos de jornalismo, sempre me surpreendo ao
verificar que o enredo que acabo de alinhavar é ignorado pelos alunos e por
muitos professores. Acham que a censura foi ampla, geral e irrestrita. Meus
críticos botões observam que me surpreendo à toa. Pois não se trata de futuros
Pannunzios, Magnolis e Azevedos? No caso deste senhor Reinaldo, vale acentuar
uma nossa específica diferença. Não me refiro ao fato de que eu reputo Antonio
Gramsci um grande pensador, enquanto ele o define como terrorista. A questão é
outra.
Ocorre
que, ao trabalhar e ao fazer estágios na Europa, entendi de vez que patrão é
patrão e empregado é empregado, e que para dirigir redações o profissional é
chamado por causa de sua exclusiva competência. Ao contrário do que se dá no
Brasil, por lá não há diretores por direito divino. Por isso, ao deixar o
Jornal da Tarde para tomar o comando dos preparativos do lançamento de Veja, me
senti em condições de exigir certas garantias.
No
Estadão tivera um excelente relacionamento com a família Mesquita, fortalecido
pela lembrança que cultivavam de meu pai, iniciador da reforma do jornal que
Claudio Abramo aprofundou e completou. Gozei na casa então ainda do doutor
Julinho, filho do fundador, de grande autonomia, aquela que facilitou a criação
de um diário de estilo muito próprio, arrojado na diagramação, em busca de
qualidade literária no texto. Estava claro, porém, que a linha política seria a
da família. Com os Mesquita me dei muito bem, foram de longe meus melhores
patrões, talvez os remanescentes não percebam que por eles tenho afeto, embora,
saído do Estadão, não me preocupasse em mostrar que minhas ideias não
coincidiam com as deles.
E
Golbery, gélido, disse: "Eu não pedi a cabeça de ninguém, senhor
Civita". Foto: AE
Convidado
finalmente pelos Civita para a empreitada de Veja, solicitei uma liberdade de
ação diversa daquela de que gozara no Jornal da Tarde. Só aceitaria o convite
se os donos da Abril, uma vez definida a fórmula da publicação, se portassem
como leitores a cada edição, passível de discussão está claro, mas a
posteriori, quer dizer, quando já nas bancas.
Pedido
aceito. A primeira Veja, espécie de News magazine à brasileira, foi um
fracasso. Além disso, já irritou os fardados por trazer na capa a foice e o
martelo. A temperatura subiu com a segunda capa, a favor da Igreja
politicamente engajada. A quinta, com a cobertura do congresso da UNE em
Ibiúna, foi apreendida nas bancas. E também o foi aquela que celebrou a decretação
do AI-5 no dia 13 de dezembro de 1968. Tempos difíceis. Mas a edição de mais
nítido desafio aos algozes da ditadura é de mais ou menos um ano depois. A
chamada de capa era simples e direta: “Torturas”, em letras de forma.
A
história desta reportagem começou cerca de três meses antes, com uma
investigação capilar conduzida por uma equipe de oito repórteres encabeçada por
Raymundo Rodrigues Pereira. Foram levantados 150 casos, três deles nos detalhes
mínimos. Emílio Garrastazu Médici acabava de ser escolhido para substituir a
Junta Militar e pela pena do então coronel Octavio Costa acenava em discurso,
pretensamente poético ao declinar a origem do novo ditador por dizê-lo vindo do
Minuano, à necessidade do abrandamento da repressão. Raymundo e eu recorremos a
um estratagema, e saímos com uma edição anódina para celebrar o vento gaúcho.
Falávamos da posse, da composição do ministério, do discurso. Chamada de capa:
“O Presidente Não Admite Torturas”.
Ofereço
este número de Veja à aguda análise de Pannunzios, Magnolis, Azevedos e
quejandos. (Nada a ver com queijo.) Bajulação e subserviência estão ali
expostas da forma mais redonda. Naquele momento, a mídia foi atrás de Veja, e
por três dias falou-se mais ou menos abertamente de tortura. Logo veio a
proibição, que Veja ignorou. Na noite de sexta-feira a reportagem da equipe de
Raymundo descia à gráfica para arrolar 150 irrefutáveis casos de tortura, dos
quais três em detalhes. Ao mesmo tempo, eu mandava cortar os telefones da Abril
para impedir ligações de quem pretendesse interferir, autoridades, patrões e
intermediários. A edição foi apreendida nas bancas, e logo desembarcou na
redação a censura dos militares.
Este
sim, "nosso Trotski", a Arci pediu minha cabeça e conseguiu. Foto: AE
Quando
ouvi falar em distensão pela primeira vez, meados de 1972, pela boca do general
Golbery, à época presidente da Dow Chemical no Brasil, pareceu-me possível
alguma mudança na sucessão de Médici. De fato, Golbery, que vinha de conhecer,
articulava na sombra a candidatura de Ernesto Geisel, títere sob medida para as
suas artes de titereiro. Meados de 1973, assenta-se a candidatura obrigatória
de Geisel. Alguns meses após, ministério em gestação, Golbery, futuro chefe da
Casa Civil à revelia de Médici, me sugere uma conversa com o recém-convocado
para a pasta da Justiça, Armando Falcão. Assunto: fim da censura em clima de
distensão.
Conversei
duas vezes com Falcão enquanto Roberto Civita entre janeiro e fevereiro de 1974
apontava em Hugh Hefner um notável filósofo da modernidade. Mal assumiu a
pasta, dia 19 de março de 1974, Falcão chamou-me a Brasília para comunicar que
a censura se ia naquele instante. Sublinhei: “Sem compromisso algum de nossa
parte”. “Claro, claro”, proclamou, e me deu de presente seu livro de recente
publicação, intitulado A Revolução Permanente. Mais tarde Golbery comentaria:
“Falcão é o nosso Trotski”.
Três
semanas após, a censura voltou, mais feroz do que antes. Duas reportagens
causaram a costumeira irritação, fatal foi uma charge de Millôr Fernandes (Millor já havia, com outros, criado o
Pasquim e expunha seu protesto, em forma de arte, ali e na Veja). Em revide,
decretava-se que a censura seria executada em Brasília às terças-feiras. Fui
visitar Golbery no dia seguinte, eu estava de veneta rebelde, levei meus dois
filhos meninotes, e andei pela capital federal de limusine. No meu livro de
próxima publicação, O Brasil, a sair pela Editora Record como O Castelo de
Âmbar, descrevo assim a visita ao chefe da Casa Civil.
“A
secretária do ministro, dona Lurdinha, (o
Pasquim sempre se referia a Da. Lurdinha, de maneira jocosa, mas por indireta,
mas sempre ligada à censura – e eu sempre curioso em saber quem era a tal
personagem, somente agora passo a conhecê-la) senhora de modos caseiros,
redonda rola sobre o carpete sem perder o sorriso, chega-se ao meu ouvido, murmura:
“Veio também o senhor Roberto Civita, quer ser recebido mas não tem hora
marcada”. Não deixo que o tempo se estique inutilmente, tomo a visão panorâmica
da antessala e vejo Arci, entalado em uma poltrona com expressão perdida na
paisagem da savana descortinada além das vidraças. “Que faz aqui?” E ouço meu
próprio latido.
“Vici me contou que você viria, e eu gostaria…”
“Você não pediu audiência, não tem hora”, proclamo.
Ele
insiste, à beira da imploração. O meu tom chama a atenção de Manuela e Gianni,
encaram a cena sem entender o assunto, percebem porém que o pai está muito
irritado, enquanto o outro tem jeito de pedinte. Lurdinha traz uma laranjada
para as crianças e avisa que o general está à espera. Admito: “Você entra
comigo, mas se compromete a não abrir a boca”. Ele promete.
Na
conversa que se segue no gabinete da Casa Civil, o meu argumento é óbvio, Veja
é uma revista semanal que encerra o trabalho na noite de sábado e vai às bancas
às segundas-feiras, obrigá-la a submeter textos e fotos aos censores na terça
significa inviabilizá-la. Pergunto a Golbery: “Os senhores pretendem que Veja
simplesmente acabe?” Não, nada disso. “Então é preciso pôr em prática outro
sistema.”
O
chefe da Casa Civil entende e concorda. Diz: “Vá até o Ministério da Justiça,
fale com Falcão, a Lurdinha já vai avisá-lo, diga a ele que vamos procurar uma
saída até amanhã no máximo, a próxima edição tem de sair regularmente”.
Golbery fica de pé, hora da despedida. O general não conhecia o patrãozinho que
até aquele momento cumpriu a promessa feita na antessala. E de supetão abre a
boca: “General, se o senhor acha que devemos tomar alguma providência em
relação ao Millôr Fernandes…”
Golbery fulminou-o: “Senhor Civita, não pedi a cabeça de ninguém” (fiquei com vergonha, agora, em lugar do
Sr. Roberto Civita e é este homem que comanda a enlameada revista semanal).
Poucos
entenderam que o Minuano poderia despertar ciclones. Foto: Reprodução
Vici
e Arci, ou seja, Victor Civita e Roberto Civita, assim se chamavam no castelo
envidraçado à beira do Tietê, esgoto paulistano ao ar livre. Esse entrecho já o
desenrolei em O Castelo de Âmbar sem merecer desmentido e o próprio Millôr o
colocou no ar do seu blog logo após a publicação no final de 2000. Ao sair do
gabinete de Golbery, eu disse a Roberto Civita “você é mesmo cretino”, como
depois o definiria na conversa de despedida com o pai Victor, mas poderia dizer
coisa muito pior. Quanto à minha saída da direção de Veja e de conselheiro
board abriliano, descrevi o evento em editorial de poucas semanas atrás. Faço
questão de salientar, apenas e ainda, que não fui demitido, e sim me demiti
para não receber um único centavo das mãos de um Civita, nem que fosse a
comissão pelo empréstimo de 50 milhões de dólares recebidos pela Abril da Caixa
Econômica Federal, juntamente com o fim da censura, em troca da minha cabeça. A
revista prontamente caiu nos braços do regime.
A
partir daí, tive de inventar meus empregos para viver. Ou por outra, para viver
com um salário infinitamente menor (insisto, infinitamente) do que aquele dos
importantes da imprensa, e nem se fale daqueles da televisão. Ganham mais que
os europeus e de muitos americanos. Em outro país, um jornalista com o meu
passado não sofreria as calúnias de Pannunzios, Magnolis e Azevedos, e de
vários que os precederam. Muito representativos de uma mídia que manipula,
inventa, omite e mente. Observem os fatos e as mentiras da atualidade imediata,
o caso criado pelo protagonismo de Gilmar Mendes e pela ferocidade delirante
dos chapa-branca da casa-grande. Além do mais, há em tudo isso um traço
profundo de infantilidade, um rasgo abissal, a provar o estágio primitivo da
sociedade do privilégio, certa de que a senzala aplaude Dilma e Lula e mesmo
assim se conforma, resignada, dentro dos seus habituais limites.
Os caluniadores são, antes de mais nada, covardes.
Sentem as costas protegidas pela falta generalizada de memória, ou pela pronta
inclinação ao esquecimento. Pela impunidade tradicional garantida por uma
Justiça que não pune o rico e poderoso. Pelo respaldo do patrão comprometido
com a manutenção do atraso em um país onde somente 36% da população conta com saneamento
básico, e 50 mil pessoas morrem assassinadas ano após outro. Confiam no
naufrágio da verdade factual, pela enésima vez, e que tudo acabe em pizza, como
outrora se dizia, a começar pela CPI do Cachoeira e pela pantomima encenada por
Gilmar Mendes. E que o tempo, vertiginoso e fulminante como sempre, se feche
sobre os fatos, sobre mais uma grande vergonha, como o mar sobre um barco
furado.