O termo principal da resposta do
ex-presidente Lula à reportagem de capa desta semana da revista ÓIA foi
indignação. Não obstante tudo que tenho visto na imprensa: as sucessivas,
tendenciosas e massificantes formas de divulgação dos fatos, ainda causou-me
indignação a grande imprensa, especialmente a TV LOBO, esconder inicialmente e,
quando não havia mais como esconder, relegar a afirmação de Nelson Jobim,
anfitrião do estranho encontro de Lula com Gilmar Mentes, na qual
categoricamente é negada a versão apresentada pela dupla Gilmar-Veja: ““Lula
saiu antes dele e não houve indignação nenhuma do Gilmar. Isso só apareceu
agora na revista”, argumenta Nelson Jobim”, e mais
"ZH – Lula pediu ao ministro Gilmar Mendes o adiamento do julgamento do mensalão?Nelson Jobim – Não. Não houve nenhuma conversa nesse sentido. Eu estava junto, foi no meu escritório, e não houve nenhum diálogo nesse sentido.", o que é pior, alimenta a
sanha da oposição demo-tucana, dando espaços generosos a Álvaro Dias perdidos e que tais, onde se pede, quase,
o indiciamento do ex-presidente.
É não é um factoide que se criou para desviar as atenções do que está
acontecendo e está por vir no que respeita as promíscuas e espúrias relações do
bicheiro com altos escalões da república?
Sobre isto, transcrevo, o que segue, retirado do Blog VioMundo, de Luiz da Azenha.
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por Miguel do Rosário, em
O
Cafezinho, sugestão de Adriano Rattes
Vamos direto às novidades do
escândalo Gilmar-Lula. Para quem não sabe do que se trata, sugiro dar um giro
por outros posts do blog depois voltar aqui.
O Globo simplesmente – e
inacreditavelmente – escondeu Nelson Jobim. Logo ele, orgulho da mídia de oposição
por sua orgulhosa e bem sucedida independência. Mesmo antipetista e mais ligado
ao PSDB do que ao governo, Jobim conseguiu ser ministro de Lula e Dilma. Aliás,
foi ministro justamente por essa característica. Ele era uma espécie de ponte
entre o tucanato midiático e o governo. Durante o chamado “caos aéreo”, Lula
nomeou Jobim para acalmar setores apavorados da classe média. Deu certo. Jobim
deu meia dúzia de declarações em tom chauvinista e terminou a crise. Foi
demitido em 2011 por Dilma Rousseff após começar a dar entrevistas dizendo que
votara em José Serra.
Recentemente, Jobim voltou a ganhar destaque nos jornais por sua intervenção num evento do PMDB, no qual advogou que o partido assuma posições independentes do PT.
Ou seja, Jobim tem tudo para ser um queridinho da grande mídia.
Pois mesmo assim, O Globo impresso de hoje não dá a informação de que Jobim declarou, a um jornalista da própria empresa, Jorge Bastos Moreno, que a reportagem da Veja é inverídica, de que Lula não pressionou Gilmar Mendes a adiar o processo do mensalão, e que os dois não ficaram sozinhos.
Ao invés disso, o Globo traz
matéria, estranhamente assinada pelo próprio Moreno (no site, ainda mais
bizarramente, a matéria vem anônima), na qual o encontro
entre Lula e Jobim é reconstruído através de um curioso método:
Convém esclarecer, também, que
tudo isso e o que se segue foram reconstruídos seguindo os rastros das conversas que o
ministro Gilmar Mendes passou a ter com vários interlocutores sobre o ocorrido.
Por que a versão impressa do
Globo não publicou a entrevista de Jobim ao blog do Moreno, a única que de fato
trazia novidades? Por que exigiu que Moreno escrevesse uma matéria
contradizendo a própria fonte, e baseado em “rastros de conversas”?
Bem, a resposta é fácil. Basta ler
a coluna de Noblat, publicada no mesmo dia.
Ou conferir a incrível manipulação do jornal a partir
de uma entrevista de Celso de Mello ao site Consultor Jurídico, notoriamente
ligado a Gilmar Mendes.
O Conjur entrevistou Celso de
Melloneste domingo, antes que Mello tomasse conhecimento de que a única
testemunha da conversa entre Mendes e Lula havia negado veementemente seu
conteúdo. Mello respondeu a partir de uma hipótese.
Mello deixa, porém, bem claro o
condicionante de sua frase: “a
conduta do ex-presidente da República, se confirmada, constituirá lamentável expressão de
grave desconhecimento das instituições republicanas.”
A postura de Mello, de qualquer
forma, nos lembra a lamentável influência que a Veja e órgãos da grande mídia
ainda exercem sobre o espírito de magistrados. Esperemos que o ministro, vendo
que sua fala foi manipulada, e constatando que a informação na qual se baseou
estava equivocada, reflita sobre os danos que, apesar de involuntariamente,
causou à estabilidade política, o que constitui uma irresponsabilidade e uma
infração ética de sua missão como juiz da corte superior. Diante do histórico
da revista, Mello deveria ter pedido tempo para se informar melhor. É absurdo
que os ministros do Supremo ainda sejam manipulados tão facilmente.
Pois é, excelentíssimo Mello: a
notícia não foi confirmada. Lula e a única testemunha, Nelson Jobim, negaram o
teor da conversa. São dois contra um. O Conjur, ao menos, informa, ao final do
texto, que Jobim rechaçou a matéria da Veja. O Globo, ao invés disso, optou
pela seguinte chamada na capa (observe o subtítulo):
Além de pedir o “impeachment” de
Lula na capa, o Globo dá o seguinte título à matéria (onde não informa, repito,
que Jobim negou o conteúdo da conversa, nem que Mello falava hipoteticamente):
À Folha, o ex-ministro, além de
negar a conversa, acrescentou uma informação nova (para assinantes do UOL):
O ex-ministro se diz surpreso
também com o relato de que Gilmar teria ficado perplexo com a conversa.“Lula
saiu antes dele e não houve indignação nenhuma do Gilmar. Isso só apareceu
agora na revista”, argumenta Nelson Jobim.
Quem deu o furo sobre a negativa
de Jobim foi o Estadão, em matéria destemida. Uso o adjetivo destemida para
diferenciá-la daquela escrita por Jorge Bastos Moreno (a primeira, com fatos;
não a segunda, com “rastros de conversa”), repleta daquela covardia travestida
de ironia, na qual ele procura atenuar a negativa, firme, do ex-ministro com a
ridícula insinuação de que ele estaria com “voz estranha”.
Pena que o destemor do Estadão
tenha se limitado a sua editoria virtual. A negativa de Jobim não consta da
versão impressa.
É realmente incrível que, num
caso dessa gravidade, os editores neguem ao leitor, na maior cara dura, uma
informação fundamental para se entender a história em sua plenitude. E isso em
tempos de internet, quando a grande maioria do público interessado no tema
perceberá a manobra. Não precisavam acreditar em Jobim, mas bloquear a
informação?
Voltando ao Globo, a coluna do
Noblat aborda o caso igualmente sem uma mísera menção à negação de Jobim ou
Lula. Discorre sobre caso baseando-se exclusivamente no relato de Jobim à Veja.
O início é de um desrespeito estarrecedor:
Repare na citação sobre Dirceu, provavelmente mais uma invencionice. Há uma só palavra citada: “deseperado”, o resto são colchetes e parênteses. A palavra parece dizer mais sobre o estado de espírito do jornal do que do ex-deputado.
A baixeza de Noblat parece não
ter limites. Iniciar uma análise atribuindo a postura de Lula ao efeito dos
remédios contra o câncer me parece, este sim, um recurso desesperado.
Observe a afirmação: “Para
chegar bem ao seu final, a CPI terá que dar em nada”. Noblat vocaliza a enésima
ameaça da mídia à CPI. E mais uma vez atribui sua criação exclusivamente ao
presidente Lula, quando ela foi criada a partir da assinatura de mais de 400
deputados e senadores.
Por essas e outras razões, os
parlamentares não podem se acovardar perante a mídia, e sobretudo jamais
esquecer que o juiz final de sua atitude na CPI não será a mídia, nem a
blogosfera, mas a história.
PS: Leia também esse post, com entrevista de Jobim ao Zero Hora, principal
jornal do Rio Grande do Sul, onde o ex-ministro diz o seguinte:
ZH – Lula pediu ao ministro
Gilmar Mendes o adiamento do julgamento do mensalão?Nelson Jobim – Não. Não
houve nenhuma conversa nesse sentido. Eu estava junto, foi no meu escritório, e
não houve nenhum diálogo nesse sentido.